Chegar em casa, para muitas pessoas, traz a sensação de segurança e o aconchego de que nada de mal irá acontecer quando se adentra o conforto do lar. Contudo, os moradores do bairro Saci, um dos conjuntos habitacionais mais tradicionais da zona Sul de Teresina, vivem dias de medo e apreensão devido a uma onda de assaltos que tem ocorrido no bairro.
Depois das constantes ações dos bandidos que proporcionaram até mesmo o fechamento temporário de uma casa lotérica no bairro e a retirada de um caixa eletrônico que atendia a toda comunidade e ficava em um posto de gasolina, agora o alvo dos bandidos são os veículos de passeio.
Dados não oficiais dão conta de que, nos últimos quatro meses, cerca de dois a três veículos, incluindo aí carros e motocicletas, são tomados de assalto mensalmente de seus proprietários. Além de ter o bem levado de forma brutal e truculenta por parte dos bandidos, os motoristas têm de conviver ainda com as lembranças da violência de ter uma arma apontada para sua cabeça ou para algum ente querido.
Este foi o caso do universitário Cássio Borges, 24 anos, que teve a motocicleta Yamaha YBR 125 roubada na porta da casa da namorada há cerca de dois meses. Ele relata que estava deixando a namorada em casa, que reside no bairro Saci, por volta da meianoite quando foi abordado por dois rapazes que se vestiam bem e andavam a pé.
“Quando percebi eles se aproximando não achei a atitude suspeita, mas logo eles sacaram a arma apontaram para a minha cabeça e pediram a chave da moto. Eles chegaram ainda a me revistar, viram que eu e minha namorada tínhamos celulares, mas não levaram nada além do veículo”, explica chateada a vítima.
De acordo com Cássio Borges, a sensação de impotência diante da ação dos bandidos foi a parte mais horrível e a impunidade para quem pratica esse tipo de assalto é ainda mais revoltante.
“Entrei em contato com a polícia através dos procedimentos legais que eles nos orientam para ver se numa busca pela área ainda poderia recuperar a moto e depois fui prestar queixa na Polinter, mas a morosidade é a constante. Eles nunca me ligaram pra dar retorno de algo das investigações e eu que ligava para saber, mas até hoje não deu em nada”, pontua.
A situação do estudante é igual a de muitos trabalhadores que têm seus veículos roubados e perdidos num limbo de impunidade. Na grande maioria das vezes, a compra desses veículos é uma conquista pessoal feita com muito sacrifício e de forma parcelada. Aqueles que têm seus veículos roubados e não possuem seguro têm de lidar com a sensação de impunidade todos os meses por serem obrigados a pagar as prestações de um bem que não usufruem mais.
“No meu caso, minha moto foi financiada em 50 meses e eu já havia pago apenas 12, faltam ainda 3 anos para que eu quite, sendo que ela não está no meu nome e sim no do meu pai. O que, além de ser uma chateação, também tem me causado constrangimentos familiares”, finaliza Cássio.
Famílias relatam casos de muito medo e insegurança
Faz pouco mais de uma semana que uma dona de casa do bairro Saci e suas filhas viram um programa familiar no fim da tarde, começo da noite, transformar- se em um grande pesadelo. As filhas saíram para comprar algo na farmácia e, na volta, pararam na frente de casa para que os outros membros da família entrassem no carro a fim de irem jantar fora.
Para a surpresa de todos, dois bandidos se aproximaram a pé e armados. Com palavras de baixo calão, ofenderam as vítimas e exigiram que todos se retirassem do carro. Na pressa, todos conseguiram sair, mas uma criança de apenas 5 anos de idade ficou dentro do carro para o desespero da mãe.
“Quando eles se deram conta de que a criança havia ficado dentro do carro foi um desespero e a sorte é que, por ser automático, os bandidos não conseguiram sair de imediato com o carro, dando tempo para a mãe da criança abrir a porta e retirar a filha que estava apavorada”, conta uma amiga da família que preferiu não ter seu nome revelado porque as vítimas temem novas tentativas de assalto.
Neste caso, os bandidos não conseguiram levar o carro pelo fato do mesmo ser automático acabaram fugindo e sendo perseguidos pelos vizinhos que presenciaram a ação. Uma das maiores reivindicações da comunidade é um policiamento mais efetivo nas ruas do bairro e nos trechos de maior atuação dos bandidos.
Os locais onde ocorrem maiores tentativas de assalto são os que ficam próximos da Rua 19 de Outubro e à Academia de Polícia, por serem áreas menos movimentadas, longes da Avenida Principal do Saci, por lá haver um registro de maior movimento.
No caso da Rua 19 de Outubro, os bandidos têm ainda a facilidade de fuga por conta da proximidade com o Distrito Industrial, que é deserto e mal iluminado durante a noite.