Mesmo com 22 anos de experiência e participação em 1.077 júris, o promotor Francisco Cembranelli, responsável pela acusação contra o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, diz que ainda sente um ?estresse psicológico? antes de atuar diante dos jurados. A partir desta segunda-feira (22), ele tentará convencer o júri que os dois são os responsáveis pela morte de Isabella Nardoni, ocorrida em março de 2008.
?Mesmo no júri mais simples do mundo, eu ainda sinto todo o problema psicológico de falar em público, de ter que expor, de procurar fazer o melhor. Isso acaba trazendo um estresse psicológico muito grande?, afirma. Cembranelli acredita, porém, que isso ajuda em seu trabalho. ?Eu sou daquelas pessoas que atuam melhor sob pressão, sob estresse. Eu imponho as cobranças a mim mesmo, buscando sempre melhorar.?
Apesar de estar diante de um julgamento de grande repercussão, o promotor afirma que atua da mesma forma em todos os casos. ?Toda sessão para mim tem importância. Eu sou naturalmente assim, atuo em qualquer caso com essa veemência. E é assim que vai ser?, adianta. Na última semana, o promotor se ocupou dos últimos detalhes da acusação. ?Você tem um volume grande de documentos e depoimentos e precisa escolher aquilo que vai utilizar, e de uma maneira compreensível.?
Para aguentar um júri com a possibilidade de durar até cinco dias, é necessária uma preparação física. ?A preparação precisa ser física e psicológica para enfrentar esse estresse todo de um julgamento longo. Já vi vários júris serem dissolvidos por problemas físicos que acabam surgindo nas partes ou no corpo de jurados. Tem que haver essa preparação para esses embates?, afirma.
Longe dos tribunais, Cembranelli gosta de correr e passar o tempo livre com os filhos. ?Eu gosto de correr, já disputei muitas provas. É um momento em que eu consigo esquecer das coisas e você descarrega um pouco essa energia. Gosto de sair com meus filhos, levá-los ao futebol. Isso que faz com que a vida seja menos estressante.?
O promotor e a mulher, que é defensora pública, se conheceram em lados opostos de um júri. Para que o trabalho não interfira na vida pessoal, eles fizeram um pacto. ?Há um tempo, estabelecemos um pacto para conversar sobre questões relativas ao júri até um determinado ponto, porque cada um tem uma ideia e, se você ultrapassa esses limites, vira discussão?, conta. Apesar disso, ele diz ser muito difícil não falar sobre os casos. ?Constantemente falamos sobre os casos. Isso é um auxílio importante. Antes de ela ser defensora, é minha esposa.?
Caso Isabella
Como pai, Cembranelli fala das dificuldades em lidar com o caso Isabella Nardoni. ?A dificuldade sempre vai existir, porque o caso envolve a morte de uma criança. Eu lido com isso há 22 anos, com pessoas que perdem seus parentes, com tragédias, pais muitas vezes revoltados que perdem filhos queridos. Há uma medida certa para que você se situe nesses contextos marcados por tantas tragédias.?