O juiz da 32ª Vara Criminal, Guilherme Schilling Pollo Duarte, condenou nesta quarta-feira os três réus que atacaram um casal de turistas ? uma americana, que foi estuprada, e um francês ? dentro uma van, em 30 de março deste ano. Numa sentença de 145 páginas, o magistrado definiu os crimes praticados por cada um deles. O motorista do veículo, Jonathan Froudakis de Souza, de 20 anos, e Walace Aparecido de Souza Silva, de 21, foram condenados a 49 anos e três meses de prisão por roubo, estupro, extorsão e corrupção de menores.
Outro integrante do grupo, Carlos Armando Costa dos Santos, que não participou dos assaltos, pois entrou no carro num segundo momento da série de crimes, terá que cumprir pena por 21 anos e sete meses por estupro e extorsão. Todos os condenados já estão num presídio em Bangu. O menor de 14 anos que também participou do ataque ainda será julgado pela 2ª Vara da Infância e da Juventude.
Segundo Guilherme Schilling, depois de assaltar oito passageiros e mandar que seis desembarcassem, Jonathan, Walace e o menor decidiram seguir com o casal estrangeiro para estuprar a jovem. Enquanto isso, o namorado, algemado, era espancado com uma chave de roda de 40 centímetros pelo menor e obrigado a presenciar as cenas degradantes. Em sua sentença, o juiz ressaltou que o casal foi vítima de uma emboscada:
?Os criminosos utilizaram de um expediente ardiloso para ludibriar as vítimas: faziam uso de uma van (...), fazendo com que as vítimas em potencial, espontaneamente, os procurassem, acreditando tratar-se de um veículo de transporte alternativo, sem saber que, na realidade, ingressavam em uma armadilha?.
O magistrado ressaltou ainda a importância da fiscalização das vans. Na época, o veículo só tinha permissão para fazer a linha Terminal Niterói-Lapa, mas estava circulando em Copacabana, que foi onde o casal embarcou. O dono da van, que alugara o carro para os criminosos, forneceu os dados do tacógrafo, verificando-se que o veículo circulava impunemente fora de sua rota.
?Os réus utilizaram aquele transporte que deveria seguir as diretrizes traçadas pelo poder público de maneira completamente irregular?, disse o juiz na sentença.
Ao aplicar a pena, Guilherme Schilling levou em conta o estado da americana, vítima de estupros seguidos em dois momentos. No primeiro deles, Jonathan e Walace atacaram a jovem e ainda ordenaram ao menor que fizesse mesmo. Ele disse ter se recusado. Em seguida, o menor saiu da van e entrou em cena Carlos Armando, tendo início a segunda sessão de estupros. A violência foi tão grande que os criminosos quebraram o nariz da vítima.
Em sua fundamentação, o juiz diz que a americana ?foi covardemente humilhada, sofrendo brutalmente na mão de seus algozes um ato que causou repulsa e indignação, sendo difícil acreditar que tudo aquilo foi obra de seres humanos?. Em outro trecho, frisa: ?os atos sexuais foram praticados sem uso de preservativo, transparecendo o completo descaso e inconsequência em relação aos resultados daqueles atos, sendo indiferente para os criminosos se da prática do sexo resultaria transmissão de doença venérea, ou mesmo gravidez da vítima?. Depois da violência sexual, com ?contornos de sadismo?, segundo o juiz, a americana foi levada para a rede pública de saúde, sendo orientada a tomar uma medicação por 20 dias, devido ao risco de doenças sexualmente transmissíveis.
Bandidos escolhiam vítimas nas calçadas
No dia 30 de março, pouco antes de 1h, o casal de turistas pegou a van na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em Copacabana, com destino à Lapa. No veículo também entraram outros seis passageiros. Durante os depoimentos à Justiça, o menor, que exercia a função de trocador da van, contou que foi encarregado pelos cúmplices de procurar estrangeiros que caminhavam por Copacabana e faziam saques em caixas eletrônicos. Segundo o adolescente, a ideia era ?caçar gringos?: quando encontrava um com essas características, ele avisava o motorista da van, que, então, passava pelo turista ? e este acabava entrando no veículo ao perceber que o destino era a Lapa. Segundo o juiz Guilherme Schilling, o menor contou que escolhera o francês e a americana porque sabia que, à noite, turistas tinham como destino o bairro da boemia.
O garoto avisou Jonathan, que passou com a van em frente ao casal alvo do grupo. A partir daí, teve início uma série de crimes. Os demais passageiros foram assaltados e liberados, mas o casal foi obrigado a permanecer no veículo, que ficou conhecido como ?a van do terror?. O pesadelo começou em Copacabana e terminou numa favela de São Gonçalo. A jovem foi estuprada seguidas vezes pelos três adultos e ainda oferecida ao menor e a um traficante, que a rejeitaram. Este último chegou a dizer que ela ?estava muito estragada?, referindo-se ao estado lamentável em que se encontrava. Os criminosos ainda circularam com o casal para fazer saques em caixas eletrônicos. Quando foram soltos, o casal registrou queixa na Delegacia Especial em Apoio ao Turismo (Deat), que prendeu os criminosos.
Traumatizada, a jovem voltou aos EUA. A promotora da 32ª Vara Criminal, Márcia Colonese, pediu uma audiência de antecipação de provas para que o rapaz francês fosse liberado e voltasse ao país de origem. Alguns meses antes, em dezembro de 2012, o estupro coletivo de uma jovem num ônibus em Nova Délhi, na Índia, que resultou em sua morte, provocara revoltas populares naquele país.