RIO - Preso há dez anos em penitenciárias federais de segurança máxima, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, teve a mobilidade reduzida pelo cárcere, mas não deixou de articular as ações de sua quadrilha.
Numa investigação inédita, o Núcleo de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, da Polícia Civil, identificou quatro empresas legais usadas para lavar os lucros obtidos por Beira-Mar com a venda de drogas e armas. Juntas, as firmas ? com sedes em Foz do Iguaçu (PR), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS) ? movimentaram R$ 20 milhões em 2010.
A investigação foi iniciada a partir da descoberta de bilhetes enviados por Beira-Mar a aliados no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, na Penha. O material foi encontrado em novembro de 2010, quando a área foi ocupada por forças de segurança. A análise dos textos revelou uma estrutura articulada pelo criminoso para legalizar recursos da venda de maconha, cocaína e armas.
O dinheiro arrecadado era depositado, fracionado, em contas bancárias das empresas e seus sócios. Uma das firmas, com sede em Foz do Iguaçu, movimentou R$ 10,7 milhões entre maio e julho de 2010. O valor é resultado da soma de dezenas de pequenos depósitos feitos em espécie em agências nos arredores do Alemão.
Com o auxílio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil, foi possível monitorar a origem dos depósitos e o destino final do dinheiro.
Constituídas de forma legal, as firmas têm atividades em ramos como o agrícola e o tecnológico.Parte dos valores enviados a duas empresas, em Foz do Iguaçu, na fronteira com Ciudad Del Este, no Paraguai, seria usada para pagar carregamentos de cocaína e maconha enviados ao Rio.
Com base na análise da correspondência, foi possível comprovar que 12 das 30 toneladas de maconha apreendidas há um ano na ocupação do Alemão e da Vila Cruzeiro pertenciam a Beira-Mar. Na época cumprindo pena na penitenciária federal de Campo Grande (MS), o traficante enviava os bilhetes por meio de pessoas cadastradas para visitá-lo na prisão, entre elas advogados.
Exames grafotécnicos comprovaram que a letra dos bilhetes é mesmo de Beira-Mar. As outras duas firmas ligadas ao esquema atuam na área de assessoria financeira (Belo Horizonte) e no comércio (Campo Grande). Em apenas dois dias do mês de junho de 2010, a conta da última empresa recebeu R$ 500 mil.
A quantia resultou da soma de diversos depósitos feitos em agências bancárias na Penha, em Bonsucesso, Inhaúma e Ramos. O relatório da investigação, assinado pelo delegado Flávio Porto, relaciona 20 pessoas envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro. Entre elas, há advogados e empresários.