Bombeira é indiciada por tortura em aula após morte de jovem

O jovem passou mal durante uma aula prática em uma lagoa.

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A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur Dechamps, foi indiciada pela polícia pelos crimes de tortura e castigo contra o aluno da corporação, Rodrigo Claro, que morreu no dia 15 de novembro do ano passado, em Cuiabá. O jovem passou mal durante uma aula prática em uma lagoa, de acordo com a Polícia Civil. A defesa da tenente não foi localizada.

O inquérito foi concluído pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), nesta segunda-feira (20), e foi encaminhado à Justiça nesta terça (21). A tenente deve responder pelo crime previsto no artigo 1º da Lei 9.455/1997, por "submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo".

O Corpo de Bombeiros informou já ter feito o era necessário, como a abertura de inquérito militar, que apontou excessos por parte da instrutora, e de um procedimento administrativo. As duas investigações, segundo a assessoria da instituição, já foram concluídas, e os relatórios foram encaminhados ao Ministério Público Estadual.

O inquérito militar revelou que, durante a travessia da lagoa, a tenente afundou o aluno e jogou água em seu rosto quando ele voltava à superfície.

Durante as investigações, a Polícia Civil ouviu mais de 50 pessoas, entre alunos, instrutores, especialista e médicos.

Conforme a Polícia Civil, o inquérito militar, feito pela Corregedoria do Corpo de Bombeiros, também responsabilizou outros dois tenentes por crime contra o dever funcional. Segundo o documento, eles não garantiram a segurança dos alunos durante o treinamento.

Além da tenente, outras 11 pessoas responsáveis pelo curso foram afastadas do cargo e devem cumprir funções administrativas.

O caso


Rodrigo foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML). Durante o treinamento prático, na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, ele disse à família que tinha medo de participar das atividades, por ser perseguido pela tenente que atuava como instrutora de salvamento aquático no curso.

Aproximadamente 30 alunos participavam do curso e eram supervisionados por cinco coordenadores, entre eles a tenente e um coronel.

Rodrigo queixou-se de dor de cabeça durante as aulas. Ele fazia uma travessia a nado da lagoa, que tem 508 metros de comprimento.

“O aluno Claro apresentava muitas dificuldades para nadar, quando a tenente Ledur se aproximou do aluno e começou a afundá-lo na água, a jogar água no rosto do aluno quando este retornava à superfície, além de puxar o aluno para dificultar seu nado”, diz trecho do inquérito militar.

Quando chegou à margem, o aluno informou o instrutor que não conseguiria terminar o treinamento do dia. Segundo os bombeiros, Rodrigo foi liberado, retornou ao batalhão e se apresentou à coordenação do curso para relatar o problema de saúde. O jovem foi encaminhado a uma unidade de saúde, onde sofreu convulsões.

No dia em que passou mal, Rodrigo enviou mensagens para mãe contando que estava com medo. Nas mensagens enviadas por um aplicativo de celular, Rodrigo alertou a mãe sobre o que poderia acontecer. “Se você não conseguir, passar mal, sei lá. Até eles te pegarem e verem que você não está de corpo mole”, diz a mensagem.

Horas depois, Rodrigo voltou a falar com a mãe e mandou a última mensagem antes de ser internado em coma. “Não consegui. Estou mal. Vou para a coordenação”, diz trecho da mensagem.

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