Convencidos de que a versão oficial dada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre a morte do tenente-coronel Paulo Malhães, que confessou ter torturado presos políticos durante a ditadura militar, deixa falhas em sua investigação, o presidente da Comissão da Verdade do Estado do Rio, Wadih Damous e três senadores - Ana Rita (PT-ES), João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) - foram nesta terça-feira à Delegacia Anti-Sequestro (DAS), no Leblon, zona sul do Rio, onde está preso o caseiro do sítio Rogério Pires. Segundo eles - que chegaram a ser impedidos de falar com o detento a princípio -, Pires negou ter confessado participação no crime como alega a polícia, e que sua abordagem pelos policiais na delegacia foi feita sem a presença de um advogado no dia da prisão. O caseiro, que diz ser analfabeto, ainda contou à comissão que reconheceu o irmão por uma tatuagem. E que durante o período em que os assaltantes ficaram na casa fizeram uma ligação para uma pessoa ir buscá-los.
A comissão composta por Damous e os três parlamentares se reuniram no início da tarde com o chefe da Polícia Civil, Pedro Medina, e os delegados do departamento de Homícidios da Baixada Fluminense, Marcos Castro e William Pena Junior. Eles ainda permanecem no local.
Segundo a Polícia Civil, o caseiro Rogério Pires confessou ter arquitetado o ataque ao sítio, com o objetivo de roubar armas. Malhães acabou morrendo no ataque, em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas. Informações preliminares da guia de sepultamento indicam que ele sofreu embolia pulmonar - o que pode indicar um infarto que teria ocorrido enquanto ele estava em poder do grupo que atacou o sítio.
- Viemos aqui saber qual a real participação do caseiro no caso - afirmou Damous, que ao deixar a delegacia confirmou que Pires continua sem advogado.
Oss três parlamentares integram a subcomissão de Memória, Verdade e Justiça da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Eles chegaram a ser barrados ao tentarem entrar na delegacia, e quando já davam entrevista criticando a postura da delegacia, foram convidados a entrar e falar com o detento.
O senador Randolfe Rodrigues lamentou que, embora o Senado tivesse avisado à Polícia Civil do Rio da visita, o delegado de plantão na DAS tenha se dito surpreendido pela visita.
Em reportagem de 16 de março deste ano, Malhães relatou ter desenterrado e mandado jogar no mar o corpo do então deputado Rubens Paiva. À Comissão da Verdade, disse que arrancava dedos, dentes e vísceras dos corpos dos militantes mortos para evitar a identificação deles. Os corpos eram jogados num rio.
No dia 24 de março, Malhães depôs à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e negou ter desenterrado Paiva. Em entrevista publicada hoje no jornal ?O Dia?, a viúva de Malhães, Cristina Batista Malhães, disse que ele confidenciou a ela ter mentido à comissão: foi ele de fato o responsável por desenterrar Paiva e jogar seu corpo não no mar, mas num rio.