Três vizinhos da família Pesseghini dizem que ouviram sons que lembravam estopins de tiros na madrugada da segunda-feira (5). A diarista Lesita Augusto, 54 anos, acordou assustada com os barulhos. A filha, o genro e a neta, que dormiam em um colchão ao lado da cama dela, também despertaram. Na casa ao lado, Rosymary Pereira da Silva, 50 anos, acordou. Pela fresta da janela, procurou por algum movimento estranho na rua. Como não avistou ninguém, voltou a dormir. Outro vizinho também despertou assustado.
As três famílias que contradizem a versão da polícia de que ninguém na rua ouviu os sons dos tiros vindo das casas na Rua Dom Sebastião, Brasilândia (SP). Nenhuma dessas pessoas foi chamada para depor.
No final da tarde de segunda-feira a polícia encontrou cinco corpos em duas casas que dividem o mesmo terreno. Na que dá acesso ao portão estavam a dona da casa, Benedita de Oliveira Bovo, 67 anos, e a irmã Bernadete, de 55. Na outra casa, foram achados a filha de Benedita, Andréia Pesseghini, 36 anos, o genro Luiz Marcelo, de 40 anos, e o neto Marcelo, de 13 anos. Todos mortos com um tiro na cabeça. Para a polícia, o garoto de 13 anos é o principal suspeito. Ele teria matado a família, ido para a escola e, no regresso, se suicidado.
Por que os vizinhos, diante dos sons, não chamaram a polícia? Lesita diz que os sons pararam, não vinha barulho da rua e eles voltaram a dormir. Rosymary pensou que o barulho pudesse ser de escapamentos abertos de motocicleta. Uma vizinha que pediu para não ser identificada contou que tanto os sons das motos quanto os de tiros são comuns na região. ?No fim de semana piora?, afirma. Ela quer mudar de Brasilândia. Seu filho não consegue mais dormir sozinho por conta dos barulhos. ?Ele acorda com medo e vem para o mau quarto?. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Folha, no ano passado, mostrou que a Brasilândia é o pior lugar para se morar na Zona Norte segundo seus próprios moradores. Foi o bairro com pior nota na pesquisa. Tirou 4,8 ? a média era 5,3.