5 funcionários causam morte em zoológico

Eles também devem responder pelas mortes de uma tartaruga e nove tracajás atacados

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A Delegacia Estadual de Meio Ambiente de Goiás (Dema) concluiu na quinta-feira (10) o inquérito sobre 14 casos de morte registrados desde janeiro deste ano no Parque Zoológico de Goiânia. Cada caso investigado refere-se a um ou mais animais.

Segundo a polícia, cinco funcionários são responsáveis pelas mortes de um hipopótamo, um leão, uma queixada (porco-do-mato), uma onça-pintada e um tamanduá. Os animais morreram no início do ano, após serem submetidos a anestesia entre 15 e 17 de janeiro. A hipótese de envenenamento foi descartada.

Eles também devem responder pelas mortes de uma tartaruga e nove tracajás (espécie de cágado), atacados por animais predadores numa noite em que o tanque onde viviam foi esvaziado para troca da água, em agosto.

O inquérito apurou ainda os casos de um hipopótamo fêmea, que pode ter morrido de tuberculose, de duas girafas, um tamanduá, um jacaré, uma capivara, outra queixada e um bisão fêmea. Além da suposta negligência dos funcionários, a polícia também trabalha com a hipótese de que os animais estejam sofrendo de estresse. O zoológico fica no meio da cidade, e no entorno circulam muitos carros.

"Sugerimos que seja feita a transferência do zoológico para uma área mais afastada, num local onde possam ser atendidos os padrões físicos e sensoriais para esses animais", afirmou o delegado Luziano Carvalho, titular da Dema. Ele cita o caso de uma queixada, que morreu em decorrência de uma bola de pelo no estômago, possivelmente por causa do estresse. Uma das girafas tinha anemia, o que, segundo ele, indica um caso de desnutrição.

Ainda de acordo com o delegado, o fato de o zoológico receber muitas vezes animais encontrados em situação de risco também contribui para o elevado índice de mortes. "O zoo não é local de receber animal apreendido, eles têm de voltar para o ambiente deles ou devem ser encaminhados a criadores autorizados."

Tratamento necessário

O diretor do Parque Zoológico de Goiânia, Raphael Cupertino, um dos funcionários responsabilizados, nega que tenha havido negligência, e ressalta que os animais receberam tratamento de profissionais gabaritados. "Essa acusação é totalmente descabida, a gente preza pelo bem-estar dos animais." Ele afirma que as cirurgias a que os animais foram submetidos eram necessárias. "A anestesia envolve risco, mas sou contra deixar o animal sofrer."

Alguns animais, ele afirma, não morreram por causa da anestesia. No caso do hipopótamo, ele diz que a sedação para solucionar um problema em um canino

foi bem sucedida. "Ele morreu um mês depois, por causa de um problema na pata. Já o tamanduá tinha problemas respiratórios e só morreu três dias depois de receber a anestesia, com suspeita de ter sido picado por um escorpião", diz Cupertino.

De acordo com o diretor, alguns animais têm procedência incerta. O jacaré morto tinha um anzol no estômago. A onça-pintada, segundo ele, já havia chegado ao zoo com histórico de maus-tratos. "Ela tinha as unhas e dentes arrancados, chegou com infecção na mandíbula e diversas fraturas. Teve uma parada cardíaca durante o procedimento cirúrgico, mas foi constatado que ela tinha outros problemas."

Ele diz que, desde 20 de julho deste ano, há uma determinação da prefeitura de Goiânia para que o zoo receba apenas animais com boas condições de saúde.

Tanque esvaziado

Em relação ao caso da tartaruga e dos tracajás mortos, o diretor diz que o esvaziamento do tanque durante noite, normalmente feito a cada quatro meses para limpeza, "nunca tinha tido problema". Ele afirmou, porém, que o procedimento agora é feito durante o dia, sob supervisão de funcionários. O muro ao redor do parque também deverá ser aumentado, para evitar a aproximação de animais predadores da rua.

Para Cupertino, uma combinação de fatores explica as mortes no zoológico. "Não podemos descartar o estresse dos animais. Eles também têm muita proximidade com os visitantes. E é preciso considerar que muitos são idosos. Temos um bisão macho com 22 anos, e eles vivem, em média, 15."

Segundo o diretor, o projeto de transferência do zoológico para um local mais adequado está "avançado". Segundo ele, a prefeitura estuda duas áreas fora do perímetro urbano de Goiânia para abrigar o parque. Os locais ainda são mantidos sob sigilo. A ideia é melhorar também o tipo de recinto onde os animais ficam. "Hoje eles atendem às normas estabelecidas pelo Ibama, mas não são os mais adequados."

O inquérito será encaminhado ao Judiciário. O delegado Carvalho destaca que os funcionários responsabilizados não foram indiciados, uma vez que não existe a figura culposa (sem intenção) na legislação ambiental para esse caso. No entanto, diz, o Ministério Público pode entender que houve dolo (intenção) eventual.

Mortes crônicas

Segundo levantamento da Polícia Civil de Goiás, nos últimos cinco anos o número de mortes no Parque Zoológico de Goiânia têm superado a quantidade de nascimentos. Em 2004, por exemplo, nasceram 148 animais e morreram 235. No ano seguinte, respectivamente, foram 75 e 101.

Em 2006, nasceram 78 e morreram 121. No ano seguinte os índices de natalidade e mortalidade caíram para 60 e 70. No ano passado, foram 32 nascimentos e 100 mortes. Até julho deste ano, o zoo havia registrado 32 nascimentos e 49 óbitos (o número atual é de 70).

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