A Secretaria da Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP) informou que os cinco policiais militares presos pela morte de um menor de idade em Campinas (SP) nesta quarta-feira (29) são também suspeitos de ter participado da série de 12 assassinados cometidos na cidade há duas semanas. Os PMs foram presos durante uma operação no período da tarde e até as 21h prestavam depoimento à Polícia Civil. Eles devem ser levados ao Presídio Romão Gomes.
Em nota, a SSP informou que os PMs estão presos temporariamente e afirmou, ainda, que mais detalhes sobre a eventual participação deles nas chacinas serão fornecidos pela Polícia Civil nesta quinta-feira. O promotor que acompanha as investigações, Ricardo Silvares, explicou durante a tarde que os mandados de prisão foram relacionados com a morte de Joab Gama das Neves, baleado na mesma noite em que os homicídios múltiplos ocorreram. O jovem seria a 13ª vítima das chacinas ocorridas naquela noite nas regiões do Campo Grande e Ouro Verde.
A Polícia Civil e a Corregedoria da PM prenderam os cinco policiais militares após obterem na Justiça de Campinas mandados de prisão e busca e apreensão. Após as primeiras prisões, Silvares já havia adiantado que as detenções seriam importantes para solucionar as chacinas nas regiões do Campo Grande e Ouro Verde.
Força Tarefa
A movimentação dos delegados que apuram o caso e dos policiais civis de Campinas e São Paulo nesta quarta-feira teve início por volta das 14h30. O delegado seccional interino, José Carlos Fernandes, o titular do Setor de Homicídios de Campinas, Rui Pegolo, e uma equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da capital, saíram em diligência por volta das 15h para executar os mandados
No fim da tarde, por volta das 17h, parte da equipe retornou ao setor de homicídios com um saco com objetos apreendidos na diligência. Pelo plástico, era possível visualizar roupas e uma chuteira. Um segundo policial civil também chegou à delegacia com o que parecia ser um estojo de munição. A partir da chegada desses objetos, os policiais militares começaram a chegar em viaturas da Corregedoria. Um deles deu entrada na sede da Polícia Civil ainda fardado.
Morte adolescente
Joab Gama das Neves, de 17 anos, foi baleado na cabeça na noite de domingo (12) e faleceu na quinta-feira (16) à noite no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, onde estava internado em estado grave.
Um boletim de ocorrência registrado por policiais militares na noite dos atentados indicava que Joab e dois amigos teriam tentado realizar um furto próximo a um posto de gasolina naquela noite. Na ocasião, dois menores foram detidos e a PM comunicou em seguida que Joab havia sido achado baleado próximo ao local da suposta tentativa de furto.
O pai do jovem, o motorista José Jorge Gonçalves comentou na noite desta quinta a prisão dos policiais militares suspeitos de matar o filho dele e defendeu que o adolescente nunca teve envolvimento com furto ou roubo, ao contrário do que foi relatado pelos PMs no boletim. "Ele trabalhava como cobrador de van [no transporte público]. É muito triste porque todo mundo sofre. Eu estou sofrendo e com certeza as famílias desses policiais também devem estar", falou.
As mortes
As mortes ocorreram entre a noite de domingo (12) e a madrugada de segunda-feira. A primeira foi às 20h30, no Residencial Cosmos, região do Campo Grande. A oito quilômetros de distância, às 23h20, quatro pessoas foram mortas na primeira chacina, no bairro Recanto do Sol, uma delas menor de idade. Dez minutos depois, mais uma morte, agora no Parque Universitário. Às 23h40, o grupo fez cinco vítimas em um único bairro, na segunda chacina da série, no Vida Nova. A última morte aconteceu, a 3,5 km dali, a 1h48 da madrugada no Jardim Vista Alegre. Os quatro bairros são da região do Ouro Verde.
Uma das hipóteses da Polícia Civil é de que os homicídios seriam uma vingança pelo assassinato de um policial militar em uma tentativa de roubo na mesma região onde os homicídios múltiplos ocorreram. Aride Luis dos Santos foi morto na tarde de domingo (12), horas antes das chacinas.