A polícia confirmou ontem que Raphael Rodrigues da Paixão, o DJ Chorão, de 26 anos, foi realmente morto por traficantes da Favela Parque União, no Complexo da Maré. O jovem, que desapareceu sábado, foi submetido ao ?tribunal do tráfico? e esquartejado vivo na frente de moradores. Bandidos ocuparam a casa que ele morava, na Rua da Paz, e montaram uma boca de fumo. O carro dele, um Palio branco, também foi queimado.
O delegado da 21ª DP (Bonsucesso), José Pedro Costa Silva, instaurou ontem inquérito para investigar o crime. Quatro suspeitos foram identificados como sendo do grupo autor da tortura. Entre eles, estão Jorge Luiz Moura Barbosa, o Alvarenga, que é chefe do tráfico no Parque União, e Leandro Souza, o Buda, 29. Ambos têm mandado de prisão por tráfico.
?Não estamos trabalhando com a possibilidade de desaparecimento dele (DJ Chorão), mas, sim, com a execução. O Chorão começou a ter uma carreira muito independente na comunidade. Isso provocou desavenças com chefes do tráfico locais?, disse o delegado.
O Palio branco de Chorão foi incendiado pelos bandidos e abandonado na localidade conhecida como 29, na Maré. Há uma semana, o veículo amanheceu com a inscrição ?X-9?.
O DJ teve desavenças com traficantes do Parque União. Ele desobedeceu a ordem dos bandidos e se apresentava na comunidade Chaparral ? dominada por milícia. Além disso, o Bope fez uma operação no dia 15 na favela e fez busca na casa de Buda. Os criminoso acreditavam que Chorão passou o mapa do local aos PMs.
A namorada do DJ Chorão tem vivido dias de medo desde que ele foi esquartejado por traficantes. Ela teme pela própria vida e diz que parece viver um pesadelo. ?Espero que a justiça seja feita. Ele não merecia isso. Foi covardia. Minha família acha que é melhor eu ir para outro lugar do que ficar por aqui?, disse a jovem, que pediu para não ser identificada.
O casal estava junto há um ano e meio e tinha planos para se casar. ?Ele era uma pessoa do bem e estava com muitos trabalhos para fazer. Segundo ela, ele tocava muito em São Paulo e ia no fim do ano tocar nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra".
Morador do Complexo da Maré, o MC Wandinho, 31 anos, disse que o mundo do funk se entristece com um caso desse. ?Ficamos preocupados por nós e pelos amigos?. Chorão foi o criador e era o organizador do baile do Parque União há três anos. O jovem era querido por moradores e frequentadores da comunidade. Até o fim da tarde de ontem, o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu três ligações com informações sobre a localização do corpo do DJ.
Saqueada pelos traficantes, a casa do DJ Chorão virou mais um ponto de venda de drogas no Parque União. Os equipamentos de som do artista foram dados como presente pelos criminoso para um DJ que faz apologia ao crime.
No depoimento dado ontem à polícia, a mãe do artista, Jorgenete Rodrigues da Paixão,40 anos, disse que não conhecia muito a rotina do filho e que ele nunca a deixou ir à casa dele.
Quando eles precisavam se encontrar, Chorão ia até um ponto de ônibus na entrada da comunidade, para eles conversarem. Ela contou ainda que o Palio branco do DJ era dela. Ele buscou o carro na casa da mãe. Jorgenete disse que seu filho não usava drogas e não tinha inimigos.