Consumo de crack cresce no Rio atraindo crianças e até grávidas

Segundo especialistas, entre usuários estão muitas crianças e adolescentes.

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Eles começam a chegar no início da noite. São crianças, adultos e mulheres esquálidas, algumas grávidas, que formam o batalhão de dependentes do crack que caminham atônitos em direção à calçada do estacionamento de um hipermercado no Centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo secretarias de Promoção Social e conselhos tutelares, a cena se repete em outros pontos dos 13 municípios da região de 4 milhões de habitantes.

Já no meio da madrugada, os usuários da droga atravessam a Avenida Tabelião Silmar Silva e seguem para uma igreja onde voluntários oferecem à população de rua o "sopão da misericórdia", como chamam.

A oferta de comida atrai moradores das favelas do Lixão e Vila Ideal. Nos dois cenários de miséria, situados de frente para os principais acessos da cidade, vivem famílias com quatro ou cinco filhos pequenos em barracos com pisos de chão batido, úmidos, e paredes de papelão. É dali que sai a maioria dos ocupantes do calçadão.

"Tribos de cracudos"

Na Baixada Fluminense, as "tribos de cracudos", como são chamados nas ruas, estão espalhados por todos os lugares. Nos acessos das favelas, nos becos, nas ruas ou nas praças de Belford Roxo, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Vilar dos Teles, São Mateus, Nilópolis, Mesquita e outras localidades da região.

"O crack está devastando a vida dos jovens fluminenses. O que a gente vê em Duque de Caxias é um dos exemplos disso. Precisamos fazer uma grande campanha de prevenção", sugere a deputada estadual Claise Maria Zito, ex-secretária de Assistência Social do município e atual presidente da Comissão de Assuntos da Criança, Adolescente e Idoso da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Integrantes da comissão começaram a visitar alguns municípios da Baixada na segunda-feira (16) para fazer um levantamento do número de usuários e conhecer as medidas que estão sendo adotadas em programas de prevenção.O aumento no consumo da droga ? feita a partir da mistura e queima da pasta base de cocaína com bicarbonato de sódio e amoníaco com água destilada - impressiona até mesmo os profissionais que atuam na área.

"Estamos diante de um aumento vertiginoso de casos de usuários de crack. Sem dúvida, é uma epidemia", afirma o psiquiatra Leonardo Lessa Telles, coordenador do Programa de Saúde Mental da Prefeitura de São João de Meriti, um dois municípios mais populosos da Baixada Fluminense.

Gravidez precoce e risco de doenças

O psiquiatra alerta para os riscos de outras doenças contraídas por esses grupos. "Meninas se prostituem para conseguir a droga e acabam contraindo doenças infecto-contagiosas graves, como o HIV. E muitas delas engravidam nessa situação", alerta.

O aumento do número de crianças consumindo crack pelas ruas e redutos de prostituição na Baixada Fluminense também tem assustado os profissionais do Conselho Tutelar, formados por psicólogos e assistentes sociais,que atuam na região.

"Assusta a cada dia. Até pela questão da faixa-etária. A gente ouvia, a gente via que eram os maiores (de idade) que faziam parte desse grupo. Mas, agora, começam a chegar os menores, crianças. Em três anos de trabalho aqui, os meus primeiros casos em atendimento a usuários de crack eram pacientes com 16, 17 anos. Depois começou a diminuir, chegando a 14, 13, e já atendi até um caso de uma criança de 10 anos", afirma a conselheira tutelar Cristian de Souza, que atende no núcleo de São João de Meriti.

Um estudo feito pelo psiquiatra Pablo Roig, especialista em tratamento de viciados em crack, cujo trabalho revela que há 1,2 milhão de usuários da droga no Brasil, o consumo da droga começa, em média, aos 13 anos.

"O mercado dessa droga está em expansão, o avanço está fora de controle. E não tem nada sendo feito. O que há é uma cegueira absoluta. O crack é uma cilada explosiva, extremamente perigoso porque faz efeito muito rápido, vicia rapidamente", afirma o especialista.

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