Nesta quinta-feira (30) o professor Márcio Henrique dos Santos, de 34 anos, que levou um tiro no olho durante o conflito entre docentes e policiais militares no Centro Cívico de Curitiba na quarta-feira (29), disse que no momento que foi atingido fazia imagem do embate. “Eu não estava atirando pedra, pedaço de pau, nada”.
“Eu acho que isso é uma covardia tremenda. Porque se é uma tropa para difusão, para poder manter a ordem, e, principalmente, tratando-se de professores, eu penso que não havia necessidade de mirar na cabeça”, desabafou o professor.
Durante quase duas horas, perdurou um clima de tensão no Centro Cívico. Os professores, que estão em greve, protestaram durante três dias contra o projeto de lei que altera a forma de custeio do o regime próprio da Previdência Social dos servidores paranaenses – ParanaPrevidência. Terça e quarta-feira houve embate.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) fez uso de bombas de efeito moral, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogênio para evitar a aproximação dos manifestantes que queriam assistir à sessão plenária.
Nesta manhã, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) realizou 160 atendimentos devido ao conflito, sendo que 63 pessoas foram levadas para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e para hospitais por terem ferimentos mais graves.
Márcio criticou a ação da polícia com o intuito de inibir as manifestações. Ele acredita que a manifestação é um direito constitucional que deve ser respeitado e, acima de tudo, exercido.
“Se você tem no papel o direito de se manifestar e de lutar por seus direitos, dentro da Constituição, é o mínimo que podemos exercer. Não vai ser um tiro desse que vai me tirar essa concepção que tenho de democracia”.
Uns óculos de proteção, normalmente usados para o trabalho na construção civil, impediu que o ferimento no olho do professor fosse mais grave.“A minha sorte é que eu estava utilizando os óculos e, com a pancada do tirou, os óculos bateram no meu nariz e cortou, sendo o suficiente para todo aquele sangue”, contou Márcio Henrique que é professor de Geografia em Londrina, no norte do Paraná.
Márcio contou que comprou o equipamento para fazer pequenos serviços em casa, porém, decidiu leva-lo para o protesto para se proteger do spray de pimenta.A dor, naquele momento foi enorme, conforme descreveu o professor. Agora, já medicado, ele se sente melhor. “Estou conseguindo enxergar, mas com muita dificuldade por causa do inchaço do olho”.
O professor faz questão de destacar que os professores não estavam lá apenas por causa própria. Ele diz que a luta era por todo o funcionalismo público, que será atingido pela mudança aprovada pelos deputados estaduais.O sentimento de indignação é compartilhado por demais professores que também vivenciaram o conflito no Centro Cívico.
O professo Rogério Zantti, de 46 anos, atua na rede estadual de ensino desde 1990. Ele criticou a ação da policia.“Não somos arruaceiros e merecemos respeito, como cidadãos e professores (...) Eles trataram os professores e trabalhadores como bandidos”, disse o professor de História.
Ele relata as cenas que presenciou com revolta, mencionando os feridos, o desespero dos professores e ainda o problema envolvendo a creche que foi invadida por gás lacrimogênio. "Como voltar ao trabalho nesse estado? Estamos ultrajados, chocados e ofendidos", desabafou.
Governo lamenta confronto
A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, por meio de nota oficial, lamentou o confronto entre policiais militares.O comando da polícia informou que a Polícia Militar reagiu a ação de manifestantes que tentaram romper a área de, pulando as cercas e indo de encontro à barreira policial.Possíveis abuso ou excesso de força serão investigados.
A PM divulgou que a abertura de inquérito policial militar para apurar a conduta dos profissionais envolvidos no confronto desta tarde, com o acompanhamento do Ministério Público do Paraná.
A Polícia Civil também está conduzindo um inquérito para apurar a participação de outras pessoas que incitaram e deram início ao confronto. Também será requisitada perícia da Polícia Científica no local para verificar danos ao patrimônio.Igualmente, por meio de nota oficial, o Governo do Paraná também lamentou o ocorrido e atribuiu a responsabilidade a pessoas "estranhas ao movimento dos servidores estaduais" os atos do confrornto e as agressões.