Os moradores do Residencial Sigefredo Pacheco, localizado na zona Leste de Teresina, estão aterrorizados com a onda de assaltos que atormenta o bairro. É comum ouvir relatos da população sobre arrombamentos, que acontecem principalmente à luz do dia. Os assaltantes aproveitam os horários que os moradores estão fora de casa para cometer os delitos. Os cidadãos, preocupados, estão se mudando do conjunto habitacional.
?Assalto nessas bandas é a coisa mais comum do mundo, ninguém se surpreende mais. No último final de semana assaltaram a casa dos meus dois vizinhos, graças a Deus não foi a minha?, informa uma dona de casa que, por medo de sofrer represálias, prefere não se identificar. Os arrombamentos ocorrem principalmente nas extremidades do residencial, que é cercado por vegetação. Os meliantes aproveitam a mata fechada para fugir sem serem identificados.
O líder comunitário Manoel Neto informa que a quadrilha monitora as possíveis vítimas e espera a hora certa para agir. Os bandidos ficam observando os horários de entrada e saída dos moradores e agem nos momentos mais vulneráveis.
A situação está obrigando vários moradores a se mudarem, pois eles não aguentam mais os assaltos. ?Várias pessoas estão indo embora daqui, quem quer ter suas coisas levadas embora??, questiona a dona de casa anônima. Os moradores colocam a culpa dos problemas na pouca organização no sorteio das casas. Segundo eles, muitas pessoas que não precisam foram contempladas com as casas e sequer pisam lá. A situação de abandono atrai assaltantes e invasores, colocando o conjunto em perigo.
O aposentado Antônio Fontenele reside há um ano e oito meses no Sigefredo Pacheco e é um dos moradores mais antigos do bairro.
Proprietário de um mercadinho, ele conta que precisou colocar grades em casa para se sentir mais tranquilo, pois já sofreu tentativas de assalto. As grades são uma realidade instaurada na região, basta um curto passeio pelas ruas do bairro para constatar que muitas residências adotaram essa alternativa para se proteger dos roubos.
Arrombamentos não são exclusividade do bairro, que também viu o número de assaltos a mão armada aumentar.
?Tentaram me assaltar às três da tarde com uma arma. Sou idoso, deficiente, moro só e tenho um comércio. Não posso esperar pela boa vontade da polícia e coloquei grades na minha casa. Quem sabe assim a gente pode ter um pouco mais de paz?, desabafa Antônio Fontenele.
A segurança da região é outra queixa dos moradores. Eles pedem um policiamento ostensivo, pois apenas uma viatura do Ronda Cidadão e outra do RONE são responsáveis pela segurança dos residenciais Sigefredo Pacheco I e II, Zequinha Freire, Wilson Martins e Jardim do Uruguai. Apesar da viatura do Ronda Cidadão disponibilizar atendimento por celular, a área vistoriada pela polícia é muito grande para apenas duas unidades móveis.
O presidente do Conselho Comunitário do bairro, Manoel Neto, conta que a associação de moradores entrou em contato com a Polícia Militar solicitando policiamento ostensivo, mas não obtiveram uma resposta satisfatória pois a corporação não trabalha mais com Postos de Policiamento Ostensivo (PPO). ?Além de ofício fazendo a solicitação, oferecemos uma sala equipada com banheiro e bebedouro, localizada em um galpão que está sob nossa supervisão.
Mas eles não deram resposta?, informa.
Há quem diga que ainda more em um bairro seguro, mas mesmo assim teme pela segurança. ?Apesar desses problemas, aqui ainda é um lugar onde podemos colocar nossas cadeiras na calçada de casa durante a noite e conversar sem ter medo. Mas isso não pode continuar assim. Gostamos daqui e não queremos nos mudar. Queremos viver em paz?, frisa o comerciante José Domingos.
Polícia diz que não falta policiamento
Apesar das queixas feitas pela população, que começa a contratar serviços de vigilância particular para se sentir mais segura, a Polícia Militar afirma que a quantidade de policiais do Ronda Cidadão consegue atender perfeitamente às necessidades do Residencial Sigefredo Pacheco. A assessoria do órgão informa que a polícia não trabalha mais com Pontos de Policiamento Ostensivos, pois essa mão de obra é melhor empregada em campo ao garantir a segurança dos cidadãos.
O quadrante do Ronda Cidadão abrange uma área de 4 km², age de forma dinâmica e não enfrenta dificuldades em atender as demandas do conjunto. Além da ronda comum, os policiais trabalham com um aparelho celular exclusivo que fica na viatura. Assim que a ocorrência é registrada, os policiais partem para o atendimento.
Na tentativa de ampliar os serviços oferecidos à população em geral, a Polícia Militar está implementando mudanças em seu modo de operação e está capacitando 110 jovens policiais, que reforçarão a ronda nas ruas a partir desta sexta-feira. A meta da Polícia Militar é empregar 90% dos funcionários efetivos nas ruas.
Frota de ônibus é insuficiente e não atende as necessidades da comunidade
O residencial Sigefredo Pacheco abriga cerca de mil e quinhentas famílias, onde a maioria depende do transporte público para se locomover. Por se tratar de um bairro localizado nas extremidades da capital, era de se esperar que a frota de ônibus fosse bem servida, mas não é isso que acontece.
Moradores contam que a região englobada pelas comunidades Sigefredo Pacheco I e II, Zequinha Freire, Wilson Martins e Jardim do Uruguai dispõem de apenas oito ônibus. Além dessa quantidade não ser capaz de absorver toda a demanda da região, os ônibus ainda funcionam de forma sazonal, interrompendo os serviços às 9 horas da manhã e só retomando às 13 horas. A reportagem do Jornal Meio Norte passou aproximadamente uma hora no ponto final de ônibus e não constatou movimentação da frota. Ao entrar em contato com os orgãos responsáveis pelo controle do transporte coletivo, não obteve resposta.
?Não faz sentido o ônibus passar esse tempo todo parado. O acesso ao nosso bairro fica impossível durante uma boa parte do dia e muita gente aqui precisa deles para entrar e sair do bairro. Além disso, o último ônibus sai daqui às 9 da noite em direção ao centro. Quem perder esse ônibus não tem como voltar para casa?, denuncia a dona de casa Maria dos Anjos.
População se queixa da falta de estrutura em educação
Com aproximadamente 1.500 casas, o residencial Sigefredo Pacheco foi inaugurada há menos de dois anos e está em plena expansão, mas sofre com problemas básicos de infraestrutura. A população do bairro, com cerca de quatro mil habitantes, não pode desfrutar de serviços básicos como posto de saúde e escola. Para conseguir atendimento médico ou matricularem seus filhos, eles são obrigados a se deslocar para outros bairros.
Para ter acesso à educação, um direito obrigatório dado a todos os seres humanos, a população precisa se deslocar deslocar quilômetros para os bairros mais próximos. As escolas adjacentes ficam localizadas nos Bairros Santa Bárbara, Planalto Uruguai, Vila Maria e Morros.
Apesar de planejado, o bairro não possui estruturas para praças, comprometendo o lazer da comunidade. O líder comunitário Manoel Neto afirma que recebeu uma área da prefeitura para construir um campo de futebol da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, mas as traves foram entregues a um morador do bairro, que desapareceu.
Logo, os moradores tiveram que improvisar um campo para poder jogar futebol.
?O posto de saúde mais próximo fica no bairro Santa Bárbara. Quando eles descobrem que somos de outro bairro, nos encaminham para o Hospital do Satélite. Para marcar consulta é um sacrifício. Além da falta de estrutura do bairro, ainda sofremos com a falta de linha telefônica, que não chega aqui. Também não há nenhum telefone público em todo o conjunto?, desabafa Manoel.