Um furto, cometido há cerca de 60 anos, só foi revelado no mês passado, em uma carta de arrependimento enviada pelo próprio autor do crime. Ele endereçou a correspondência para Antonio Pacheco Filho, ex-presidente da Ordem Terceira de São Francisco, em Mariana (MG). O objeto levado é uma cruz da coroa da imagem de São Luís Rei de França, cuja falta sequer havia sido notada pela diocese local. Junto com o pedido de perdão, o homem afirmou que pretende visitar a imagem com a cruz recolocada no devido lugar.
Pacheco disse ao G1 que o autor do furto, ainda anônimo, relata que se sente arrependido pelo "vandalismo". "Ele chegou a visitar a igreja de onde ele furtou a cruz, em julho deste ano, mas não teve coragem para devolver a peça. Na carta, ele pede desculpas aos fiéis e à Igreja pelo ato."
No último inventário feito pela Igreja, em 1989, há uma foto da imagem de São Luís Rei de França, mas não é possível visualizar se a cruz está no local ou não. "Foi uma satisfação termos a cruz de volta. Um bom sinal de arrependimento. Eu só posso dizer que o autor do furto está perdoado, mas não sou eu que vou perdoar. Quem perdoa é Deus", disse Pacheco, que tem 79 anos.
Anonimato
Sobre o fato de ter sido eleito para receber a cruz de volta, Pacheco disse que tem idade para ser conhecido por muita gente em Mariana. "Recebemos muitos visitantes do Brasil e do exterior. Não acho impossível que quem furtou a cruz tenha me conhecido um dia. Por isso sentiu confiança em deixar o envelope na porta de minha casa", explicou o religioso. Pacheco espera que outras pessoas que tenham furtado peças sacras tenham a mesma iniciativa de arrependimento.
O remetente da carta com a cruz indicava um endereço na Rua Barata Ribeiro, no Rio de Janeiro. "Tanto o nome como o endereço são falsos. Não encontramos ninguém no local", disse Pacheco.
Para Nelson Vieira de Souza Filho, ministro da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, a sensação pela devolução da cruz foi das melhores. "Corremos para a igreja, seguindo as coordenadas que o autor da carta nos escreveu. Ele nos mostrou de onde havia tirado a cruz. Claro que ele está perdoado."
Souza Filho acredita que o furto tenha sido feito para tentar abastecer o mercado ilegal de colecionadores de arte sacra. "Ele deve ter tentado vender a peça para algum colecionador, mas viu que não se tratava de um trabalho de artista renomado e percebeu que ela tem pouco valor."