Delator do PCC recusou proteção porque queria manter estilo de vida, diz promotor

Vinicius Gritzbach respondia a processos por homicídio e lavagem de dinheiro do PCC, segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.

Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi morto na sexta-feira (8) | Montagem/Reprodução/Redes Sociais
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O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC executado na última sexta-feira (08) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, abriu mão de entrar no programa de proteção a testemunha, segundo informou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya. A vítima havia fechado um acordo de delação premiada no mês de março.

O promotor Gakiya disse que Antonio Vinicius Lopes Gritzbach alegava que podia bancar a própria segurança e não queria abrir mão do estilo de vida que levava. Em entrevista ao Em Ponto, da GloboNews, nesta segunda-feira (11), foi explicado que ao empresário que, ao entrar no programa, ele precisaria mudar de casa e deixar de conviver com a família e amigos.

"O Ministério Público ofereceu a todo momento a inserção do Vinicius no programa de proteção de réu colaborador. Ele, na presença de seus advogados, se negou a ingressar nesse programa. Embora soubesse que corria risco, dizia que podia custear a própria segurança", explicou Lincoln Gakiya, promotor de Justiça

A defesa de Gritzbach confirmou que foi opção dele de não aceitar a entrada no programa de proteção.

"Ele precisa romper todos os laços com a sua vida, inclusive com o envolvimento com o crime. Ele deixa sua moradia, seu trabalho, os laços familiares e vai para o programa, mas ele se recusou a ir para esse programa”, afirmou o promotor, que é do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco).

DETALHES DA PARTICIPAÇÃO NO CRIME ORGANIZADO

De acordo com o promotor, que há décadas investiga os tentáculos do PCC no estado de São Paulo, o empresário Gritzbach lavava dinheiro para o crime organizado havia mais de dez anos, através da venda de imóveis, bitcoins, joias, postos de gasolina e fintechs – empresas financeiras digitais. “Ele era um arquivo vivo muito perigoso”, afirmou.

Gritzbach respondia a um processo criminal por duplo homicídio, ao mandar matar um ex-chefe do PCC chamado "Cara Preta’" e o motorista dele em dezembro de 2022, além de vários processos por lavagem de dinheiro. Ele estava em liberdade graças a um habeas corpus do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

EXECUÇÃO

Gritzbach foi executado na sexta-feira (9) ao desembarcar no aeroporto em Guarulhos vindo de Maceió, no estado de Alagoas. Na bagagem, ele carregava mais de R$ 1 milhão em joias e objetos de valor

Gritzbach foi atingido por 10 tiros à luz do dia, por volta das 16h, na área de desembarque do Terminal 2, por dois homens que saíram de um carro preto. 

O corpo dele foi sepultado neste domingo (10) no Cemitério Parque Morumby, na Zona Sul de São Paulo. A cerimônia de despedida foi restrita à família e não houve velório, em uma tentativa de preservar a privacidade dos parentes.

SEGURANÇAS FACILITARAM PARA OS BANDIDOS?

Os quatro policiais militares contratados como seguranças particulares não estavam com ele no momento do assassinato. Segundo depoimento deles à polícia, um dos carros que iriam buscá-lo no aeroporto teve um problema na ignição e o outro teve de fazer meia volta para deixar um dos ocupantes em um posto de combustível. Investigadores desconfiam dessa versão. Uma das linhas de investigação é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.

"RECADO" DO PCC

Para o promotor Gakiya, a morte de Gritzbach em plena luz do dia, dentro do aeroporto mais movimentado do país, foi uma "audácia muito grande" e um "recado" do crime organizado à sociedade.

"Foi um recado. Podiam ter atingido o Vinícius em outro local, mas quiseram deixar bem claro que quem se envolve com o crime organizado e, principalmente com o dinheiro do crime, pode estar sujeito a esse tipo de execução à luz do dia. É uma audácia muito grande. É um ponto de inflexão, sim. É preciso que as autoridades percebam que estamos entrando em outro estágio de crime organizado no país", ponderou o promotor de Justiça.

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