O empresário Jorge Sacramento, da banda New Hit, anunciou nesta quarta-feira (11), através de nota oficial, que a partir desta data a banda deixa de existir.
Nove integrantes do grupo foram presos em 2012 sob a suspeita de estupro contra duas adolescentes de 16 anos, após um show realizado em trio elétrico em Ruy Barbosa, na Bahia.
O grupo ainda responde pelo processo, que tem as próximas audiências marcadas para serem realizadas na terça-feira (18), quarta-feira (18) e quinta-feira (19).
?Quero me dedicar exclusivamente a um novo produto, e com tantos problemas agregados a banda não estava conseguindo focar as coisas, e como não sei trabalhar nada pela metade para evitar interpretações erradas resolvi um ponto final ao projeto, quem sabe um dia eu retomo com outra formação!?, comentou o empresário Sacramento.
Audiência
Na quinta-feira (5), réus, supostas vítimas e testemunhas foram ouvidas pela juíza que preside a ação penal juntamente com o promotor e os advogados das partes.
O caso completou um ano no dia 28 de agosto, sem desfecho. Mesmo sem desfecho, acusação e defesa acreditam que o processo está perto de chegar ao fim.
Entre os envolvidos no caso, estão dançarinos, um segurança que policial militar, o cantor do grupo e outros músicos da New Hit.
Sem definição do caso na Justiça, as duas adolescentes foram encaminhadas ao Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM) em setembro de 2012. No entanto, Ailton Santos Ferreira, Superintendente da Secretaria da Justiça Cidadania e Direitos Humanos, que gere o PPCAAM, afirmou ao G1 que uma das jovens deixou o programa em abril de 2013 após solicitação da mãe.
Os músicos retomaram a rotina de shows ainda em 2012. No dia 30 de dezembro eles realizaram, em Feira de Santana, a cerca de 100 Km de Salvador, a primeira apresentação após serem presos. No dia 5 de outubro, a participação da banda New Hit no Festival de Pagode, na capital baiana, foi cancelada. Na ocasião, a assessoria da banda alegou que os integrantes da New Hit não tinham condições psicológicas para realizar a apresentação.
O caso
O suposto estupro teria ocorrido quando os integrantes da banda receberam as jovens no ônibus do grupo. Nove integrantes da New Hit ficaram presos 38 dias sob a suspeita de envolvimento no abuso. Eles foram soltos no dia 3 de outubro de 2012 mediante um pedido de habeas corpus. Um policial militar que fazia a segurança do grupo também é suspeito de ter sido conivente com o crime. Todos eles, inclusive o PM, foram indiciados por estupro e formação de quadrilha no dia 25 de setembro.
A promotora Marisa Jansen, que acompanha o processo, acredita que há provas reais que comprovam que as adolescentes sofreram abuso. "O conjunto probatório colhido e encartado aos autos é robusto, contundente, confirmando que as adolescentes foram vítimas de estupro coletivo, no interior do ônibus da banda New Hit. Uma das vítimas era virgem. Seus depoimentos são coerentes e estão em perfeita harmonia com as demais provas, não se podendo olvidar que em crimes contra a liberdade sexual a palavra da vítima tem grande validade como prova e, via de regra, é elemento de convicção de alta importância. O Ministério Público acredita que os réus serão, sim, condenados", enfatiza.
No entanto, Antônio Leite Matos, advogado de um dos acusados, afirma que o laudo médico garante que não houve estupro. Segundo ele, a defesa está confiante na inocência dos réus.
"A defesa se pauta nas testemunhas presenciais, pessoas que estavam trabalhando, pessoas que vinham de carona no ônibus e foram unânimes em dizer que o período que as moças ficaram no local foi de dez minutos. As pessoas que estavam na fila para entrar disseram a mesma coisa. É inteiramente impossível dez pessoas terem relações com uma mulher e dez pessoas terem com outra em dez minutos. Nós também pegamos dois laudos. O laudo oficial e o laudo de uma médica. Esse oficial diz que não houve estupro e o da médica diz que houve. Essa última foi arrolada pelo Ministério Público. Então esse tipo de prova é fundamental. A defesa está bastante tranquila, meu cliente está. Aliás, também estamos tranquilos com relação aos outros réus", garante o advogado.
Interrogatório
A audiência de instrução do caso teve início em fevereiro deste ano. Na ocasião, foram ouvidas as adolescentes, conselheiras tutelares, um policial militar, uma ginecologista, além de outras pessoas. "Encerrada a instrução probatória, não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, tendo em vista a complexidade do processo, as partes, acusação e defesa, apresentarão, em forma de memorial, suas alegações finais no prazo sucessivo de cinco dias", explica a promotora Marisa Jansen.
"O processo penal não é brincadeira. Tem que se cumprir o ritual. Se houve a vítima, depois as testemunhas de acusação, as testemunhas de defesa, os peritos e depois os réus. O processo está até correndo celere. Se ocorrer tudo dentro da norma a sentença pode ser dada no início do próximo ano", acredita Leite Matos.
Proteção
O superintendente Ailton Santos Ferreira conta que as duas adolescentes de Ruy Barbosa passaram a fazer parte do Programa de Proteção à Criança e Adolescentes Ameaçadas de Morte juntamente com as mães. Embora envolvidas no mesmo caso, elas não tinham contato entre si, nem com outros familiares e amigos.
"Durante o programa elas estudam, têm acompanhamento psicossocial. Há o convívio com outras crianças, adolescentes em escola comum. Só que em uma outra comunidade, em uma outra cidade. Na escola não é dito quem elas são. Elas também não têm liberdade de estar nas ruas, acessar rede social, nem levar pessoas para esse abrigo. Alguns casos mudam de identidade, muda de cidade, estado. Tudo depende da gravidade", explica Ferreira. Para ele, este tipo de medida é o "preço que se paga" pela segurança.
"Estar afastado é o preço que se paga. Não pode ter namoradinho, não pode trazer prima, não pode receber visitas de parentes. O jovem não está abrigado sozinho e ele coloca em risco os outros se fizer algo imprudente. Se ele participando do programa sofrer ameaça coloca em risco o programa", alerta Ailton Santos Ferreira.
Segundo o superintendente, o programa recebe jovens ameaçados de morte por organizações ligadas ao tráfico de drogas e também os que presenciaram algum tipo de crime. O tempo comum de permanência é de dois anos. "Mas pode ser prolongado se ainda há risco", acrescenta Ferreira.
Em abril deste ano, uma das jovens deixou o programa após solicitar o desligamento juntamente com a mãe. "Essa decisão, mesmo sendo da mãe, é submetida ao conselho gestor que opina e organiza uma ata. Elas não são liberadas aleatoriamente, de qualquer jeito. É primeiro feito um processo de convencimento, mas não pode ser uma obrigação, um cárcere privado. Representante do núcleo alertaram a família sobre os riscos, mas a adolescente foi firme em dizer que queria sair. Foi falado da prudência em aguardar o resultado do julgamento. Mesmo quando a pessoa diz quando quer sair a tarefa nossa é manter o diálogo. Se você prende de forma coercitiva a pessoa pode até fugir do programa. Primeiro a Secretaria tem que dar todos os argumentos para que a pessoa se mantenha. Depois disso a responsável assina um termo se responsabilizando com a saída", relata.
Após deixar o programa, a adolescente não entrou mais em contato com a organização do programa.
Músicos admitem
Segundo a polícia, dois integrantes admitiram que fizeram sexo com as adolescentes, porém com consentimento. Os outros negaram que tiveram relação sexual com as garotas. Os músicos disseram que não têm costume de receber fãs no ônibus da produção e que isso teria ocorrido por se tratar de uma ocasião especial.
"Como foi um lance de trio, foi uma ocasião especial porque não tinha onde tirar foto, já tinha outra banda para subir ao palco para levar o percurso do trio e foi uma ocasião especial", disse Eduardo Martins, vocalista da New Hit na época do ocorrido.
Perguntado sobre a versão deles sobre as acusações, Martins disse: "Não podemos falar sobre os fatos por segurança dos nossos advogados e não podemos entrar em detalhe sobre os fatos, mas a Justiça vai fazer justiça, e com fé em Deus todas as provas vão aparecer e as coisas vão ser bem encaminhadas", explicou o músico.
Investigações
De acordo com o delegado Marcelo Cavalcanti, o laudo fornecido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT), de Feira de Santana apontou que foi encontrada uma quantidade de sêmen nas roupas das meninas e de um dos músicos. Segundo a polícia, o resultado foi considerado prova material e influenciou no indiciamento dos suspeitos.