Empresário comprou navio para traficar toneladas de cocaína para Europa

Ele está preso na capital paulista e também é investigado por envolvimento com o espanhol Mansur Ben Barka Heredia

Empresário comprou navio para traficar toneladas de cocaína para Europa | Reprodução
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Por: Josmar Jozino - UOL

A Polícia Federal afirma que o empresário João Carlos Camisa Nova Júnior, 36, comprou um navio em Santos (SP) e manteve um hangar em nome de uma empresa de táxi aéreo em Boa Vista (RR) para traficar toneladas de cocaína à Europa. Ele está preso na capital paulista.

O brasileiro também é investigado por envolvimento com o espanhol Mansur Ben Barka Heredia, suspeito de ser o dono de 580 kg de cocaína apreendidos em fevereiro deste ano em um avião de uma companhia portuguesa no aeroporto internacional de Salvador (BA).

Navio comprado pelo empresário Camisa Nova para traficar drogas, de acordo com investigação da PF 

A reportagem entrou em contato com os advogados do empresário brasileiro, Luiza Nagib Eluf e o filho Vitor Nagib Eluf, por telefone e e-mail. O defensor retornou à ligação e informou que a mãe dele se manifestaria em relação ao cliente. Porém, ela não deu resposta até a conclusão deste texto.

Segundo a Polícia Federal, Camisa Nova investiu R$ 1,6 milhão no navio Srakane, de bandeira panamenha, com o objetivo de usar a embarcação em atividades voltadas ao narcotráfico. E com a mesma finalidade montou a JRCN Aviation, empresa proprietária de um hangar em Roraima.

Camisa Nova passou a ser investigado em 2 de outubro do ano passado, quando agentes federais apreenderam 1,5 tonelada de cocaína escondida em sacos de grãos de milho no navio Unispirit, de bandeira Antígua e Barbuda, no Porto de São Sebastião (SP).

A carga iria para o porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias. O navio seguiu viagem e quando chegou no destino final, em 22 de outubro, a polícia espanhola, alertada por policiais federais brasileiros, localizou mais 1,2 tonelada da droga na embarcação.

Os agentes da PF apuraram que a carga de grãos de milho pertencia a Camisa Nova, dono da CBA Trading Exportação de Produtos Agrícolas Ltda. Ele contratou outra empresa para exportar o produto. Os dois sócios dela também acabaram presos.

As autoridades espanholas identificaram como importadora da carga de grãos de milho a empresa Hashemuda Moreno, sediada em Sevilha e administrada desde 25 de maio de 2012 por Jéssica Moreno Gomez. Ela é mulher de Oliver Casado Prieto.

O casal foi alvo de uma operação policial em Sevilha, onde morava, em dezembro de 2020, sob a acusação de manter vínculos com o tráfico de drogas. Na ocasião foram apreendidos armas, munição, euros, veículos e computadores.

Viagens com Heredia

A PF investiga agora qual é a ligação de Camisa Nova com Heredia. O nome do espanhol veio à tona no Brasil em 9 de fevereiro de 2021, quando mecânicos inspecionaram a aeronave Dassault Falcon 900, prefixo CS-DTP, da companhia portuguesa Omni, e encontraram a droga na fuselagem.

O avião decolou do aeródromo de Tires, em Cascais, Portugal, em 27 de janeiro de 2021 e chegou em Salvador no dia seguinte. Estavam a bordo Heredia e o português João Loureiro, presidente do Boavista, clube da primeira divisão do futebol de Portugal, campeão na temporada 2000/2001.

Após os trâmites alfandegários, o aparelho seguiu para o aeroporto de Jundiaí (SP) e ficou no hangar da Fly Away até 7 de fevereiro. Dois dias depois, já no aeroporto de Salvador, a aeronave passou por manutenção e a droga foi encontrada. Heredia deveria embarcar para retornar a Tires, mas não o fez.

Camisa Nova e outras oito pessoas, incluindo um advogado, empresários de São Paulo e o dono de uma rede de postos de combustíveis na Bahia, foram presos no mês passado pela Polícia Federal durante a deflagração da Operação Calvary.

O nome é em alusão ao cemitério no qual Don Corleone, do filme "O Poderoso Chefão 1", foi enterrado. De acordo com agentes federais, Camisa Nova liderava uma quadrilha de narcotráfico e era chamado de Don pelos demais presos na operação.

A PF descobriu que Camisa Nova viajou para o exterior com Heredia em 7 de novembro de 2020 em um avião particular de prefixo PR-WYW. O voo partiu de Boa Vista, onde o brasileiro tem o hangar, e o destino declarado era o aeroporto internacional Amílcar Cabral, em Cabo Verde.

Um empresário preso na Operação Calvary também estava a bordo. A PF acredita que os três foram para a Antuérpia, na Bélgica, acompanhar a chegada de drogas em contêineres de cargas de argamassa despachadas do aeroporto internacional de Salvador nos dias 17 e 24 de agosto de 2020.

O avião PR-WYW é um jato de três turbinas da fabricante Dassault e modelo Falcon, assim como a aeronave que levava os 580 kg de cocaína apreendidos em Salvador. Casanova, Heredia e o outro empresário retornaram ao Brasil em 9 de setembro de 2020 e desembarcaram no aeroporto de Natal (RN).

Compaixão e dignidade humana

Outra viagem feita por Camisa Nova para a Europa aconteceu em 5 de outubro de 2020, três dias após a apreensão de 1,5 tonelada de cocaína no navio Unispsirit, no porto de São Sebastião.

Ele foi em um voo da TAP (Transportes Aéreos Portugueses) e desembarcou no aeroporto Humberto Delgado. Chegou em Lisboa em 6 de outubro, mas retornou ao Brasil no mesmo dia, também em um voo da TAP.

Ainda segundo a PF, em 14 de outubro de 2020, um dia antes da chegada do navio Unispirit a Las Palmas, Camisa Nova pegou um voo em Guarulhos e seguiu até o aeroporto internacional de Sevilha. O empresário retornou ao Brasil em 25 de outubro, após as notícias de apreensão da droga na Espanha.

Em março do ano passado, a PF recebeu das autoridades europeias a informação de que um navio de longo curso, dedicado ao tráfico de drogas, se deslocaria para o Brasil. Essa embarcação era o Srakane, adquirido posteriormente por Camisa Nova.

O navio chegou à Paraíba em 6 de abril de 2020 e no dia seguinte foi para Recife. Em 16 de abril parou em Salvador, onde ficou 38 dias. Depois foi direto para o porto de São Sebastião. A chegada foi em 2 de junho de 2020. A permanência lá foi de 12 dias.

A tripulação ficou sem água e alimentos e em situação análoga ao trabalho escravo. Havia ainda dívidas trabalhistas e problemas com a documentação da embarcação. Fiscais da OIT (Organização Internacional do Trabalho) foram acionados.

Os problemas só foram sanados quando surgiu um brasileiro disposto a comprar suprimentos para a tripulação e custear todas as dívidas. Esse brasileiro era o empresário Camisa Nova. À época ele disse que fez isso "por compaixão e para assegurar a dignidade humana dos tripulantes".

Camisa Nova gastou US$ 300 mil dólares, cerca de R$ 1,6 milhão na ocasião. A atitude dele chamou a atenção da PF. Para os federais, o empresário não tinha vínculo com o navio e pagou as despesas em meio a uma das maiores crises econômicas de todos os tempos.

O empresário está preso no CDP 3 (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, zona oeste. Ele é acusado por tráfico de drogas, associação à organização criminosa e lavagem de dinheiro. E responde a processo por tentativa de homicídio ocorrida em fevereiro de 2018 em São Paulo. Segundo a Polícia Civil, ele devia R$ 170 mil para a vítima.

 

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