Alemãos ficaram escandalizados e passaram mal ao assistirem uma apresentação da ópera Sancta, cuja direção de cena é da coreógrafa Florentina Holzinger, na cidade de Stuttgart, Sudoeste da Alemanha, no último fim de semana. Eles receberam assistência médica durante a apresentação que trazia ao palco relações sexuais não simuladas, grandes quantidades de sangue falso e real e a aplicação de um piercing ao vivo.
Segundo a imprensa local, ocorreu um total de 18 intervenções de primeiros socorros durante exibição da peça, foi o que informou Sebastian Ebling, assessor de imprensa da Ópera de Stuttgart. "Mas isso não significa que 18 pessoas desmaiaram ou vomitaram", pontuou o assessor.
Os espectadores deixaram a peça porque "se sentiram mal", e "em três casos, o médico de emergência teve de ser chamado". O assessor Ebling não soube dizer exatamente qual era a situação médica. O tabloide Bild mencionou "estados de choque". A própria casa de ópera emitiu um aviso com relação à classificação etária.
"A espiritualidade e a sexualidade estão no centro da noite – mas também a crítica à religião e um olhar crítico sobre a violência religiosa e social. Atos sexuais acontecem no palco".
CRÍTICA DA IGREJA
A Igreja já havia criticado a apresentação em Viena, que se seguiu à estreia na cidade de Schwerin. O teólogo vienense Jan-Heiner Tück criticou Sancta por reproduzir clichês conhecidos. Freiras que rompem os muros do mosteiro para experimentar a liberação sexual é, segundo ele, "uma narrativa um tanto simplista".
SEXO LÉSBICO E LIBERDADE DO CORPO DA MULHER
Florentina Holzinger exibe corpos femininos de forma radical e reveladora nos trabalhos dela, em que ela incorpora acrobacias dolorosas. A artista performática vem causando alvoroço no mundo do teatro há anos.
Em Sancta, ela traz ao palco cenas de amor lésbico, ridiculariza os rituais cristãos e denuncia a opressão sexual das mulheres. A obra em que se baseia, Sancta Susanna, do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963), também causou escândalo na estreia, em 1922, ao retratar os últimos momentos da vida de uma freira conflituada. A ópera em um ato aborda a relação entre celibato e luxúria no cristianismo.
A "ópera performática" já foi apresentada com ingressos esgotados em Schwerin e Viena. Nessas cidades não foram registrados incidentes como os de Stuttgart.
O QUE DIZEM AS AUTORIDADES ALEMÃS
O secretário de Cultura do estado de Baden-Württemberg, Arne Braun, também assistiu à peça e defendeu a liberdade artística.
"Essas questões sobre espiritualidade, fé, comunidade e o papel dos gêneros precisam ser tratadas sempre de novas formas, inclusive no palco", comentou à agência de notícias DPA. "Essa é a ideia por trás da liberdade da arte.E quem não quiser ver isso, por favor, fique longe".