Acusado de torturar e assassinar o mecânico Agilson Firmino dos Santos, o Baiano, com uso de facão, revólver e motosserra, o ex-deputado e ex-coronel Hildebrando Pascoal, que permanece no banco dos réus em Rio Branco (AC), também responde na Justiça do Piauí a uma denúncia do Ministério Público Estadual, acusado de ter degolado com uma faca José Hugo Alves Júnior, o Mordido.
Quando o subtenente Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando, foi assassinado por Mordido com um tiro no ouvido, após discussão num posto de gasolina, no dia 30 de junho de 1996, Baiano o ajudou a fugir. Hildebrando Pascoal, com auxílio do primo Aureliano Pascoal, então comandante da Polícia Militar do Acre, mobiliou a corporação para vingar a morte do subtenente.
De acordo com a denúncia do Ministério do Piauí, José Hugo foi localizado e seqüestrado por Hildebrando Pascoal, em janeiro de 1997, na fazenda Itapoã, no município de Parnaguá (PI). De lá, foi levado para o município de Formosa do Rio Preto (BA), onde foi torturado e assinado, sem chances de defesa e com requintes de crueldade. - Nós esperamos que a sociedade e a Justiça do Piauí não deixem cair na impunidade mais este crime cometido pelo ex-deputado - apela o procurador de Justiça Sammy Barbosa Lopes, do Acre, que coordena o Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado no Estado.
Pascoal havia distribuído no Acre cartazes de ?procura-se? com a fotografia de Mordido em que oferecia R$ 50 mil em dinheiro por informações que o levassem ao assassino de seu irmão. Em troca da recompensa, o tenente Baltazar Rodrigues Nogueira, que comandava a PM em Avelino Lopes (PI), trocou vários telefonemas com Hildebrando Pascoal e indicou o paradeiro da vítima. Autorizada pela Justiça Federal, a quebra do sigilo telefônico revelou que o então coronel reformado do Acre e o tenente do Piauí combinaram a captura e execução de José Hugo por R$ 50 mil.
Também participou da captura e execução o soldado José Carlos dos Santos, o China, que recebeu a recompensa extra de R$ 20 mil, além do juiz Osório Marques Bastos. De acordo com a denúncia do MP do Piauí, o juiz tinha interesse na morte de José Hugo como queima de arquivo porque o mesmo era seu ex-comparsa. Hildebrando Pascoal e o pistoleiro acreano Raimundo Alves de Oliveira, o Raimundinho, se reuniram num hotel em Corrente (PI) com o tenente Baltazar e mais três soldados, entre os quais China. Quando a fazenda foi cercada, José Hugo tentou fugir, mas foi dominado, algemado, amarrado e colocado no assoalho de um dos dois carros usados na operação.
Outras quatro pessoas da fazenda também foram seqüestradas. Mordido foi conduzido por Hildebrando, Raimundinho e China. Por volta das 20 horas do dia 8 de janeiro daquele ano, à margem de uma estrada escura, foi arrastado para fora do carro e da estrada. - Ainda amarrado e algemado, foi morto por Hildebrando Pascoal que com uma faca cortou-lhe o pescoço - afirma na denúncia Antônio Ivan e Silva, que era, em 2001, o procurador-geral de Justiça do Piauí.
Segundo o chefe do Ministério Público, enquanto isso o juiz Osório Bastos, que tinha conhecimento prévio de toda a operação, recebia na delegacia de polícia de Curimatá (PI), de onde era juiz titular da comarca, as demais vítimas seqüestradas, conduzidas sob maus tratos pelo tenente Baltazar, desacompanhadas de mandado judicial e fora de flagrante delito, jamais lavrado.
A denúncia do MP afirma que durante todas as noites e madrugadas em que um dos seqüestrados permaneceu preso, o juiz comparecia à cela para lhe ameaçar. A coleta de provas contra Bastos, segundo o MP, foi parcialmente obstada em razão do cargo de juiz. - Ainda assim, há prova indiciária suficiente de que Osório Bastos foi executor do crime de seqüestro e partícipe, ainda que com dolo eventual, do crime que vitimou Huguinho - assinala a denúncia do MP do Piauí, que chegou a pedir o afastamento e perda do cargo.