Uma mulher foi presa na manhã desta quarta-feira (10) na Zona Sul do Rio por um golpe milionário contra a própria mãe.
Enganada pela filha e depois ameaçada, a idosa sofreu um prejuízo, estimado por ela, de R$ 725 milhões, entre pagamentos sob extorsão e quadros roubados, incluindo obras de Tarsila do Amaral e de Di Cavalcanti.
Em função da importância da obra, a operação foi batizada como Sol Poente Enganada. De acordo com os investigadores, a idosa de 82 anos foi enganada pela filha e depois ameaçada por ela. Segundo a vítima, além do roubo de quadros de artistas como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti, o golpe incluía pagamentos sob extorsão.
Além da filha, três pessoas haviam sido presas até a última atualização desta reportagem. Alguns quadros levados foram recuperados — um deles, Sol Poente, de Tarsila, batiza a operação. A obra é avaliada pela vítima em R$ 250 milhões e estava sob o estrado da cama de um dos suspeitos.
Segundo as investigações, a filha contratou pessoas que se passaram por videntes para convencer a idosa a pagar por um “trabalho espiritual” a fim de salvá-la.
A vítima descobriu e passou a sofrer ameaças.
Agentes da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade saíram para cumprir, no total, seis mandados de prisão e 16 de busca e apreensão.
Policiais precisaram arrombar a porta de um dos imóveis pois não tinha porteiro, e as pessoas no local não respondiam.
Presos:
- A filha da idosa;
- Gabriel Nicolau Traslaviña Hafliger;
- Jacqueline Stanescos;
- Rosa Stanesco Nicolau, mãe de Gabriel.
A polícia não tinha revelado o nome da filha nem o da vítima, para preservá-la.
Como foi o golpe
A Polícia Civil do RJ afirma que a filha elaborou todo o plano, no início de 2020. O primeiro passo foi contratar uma mulher para abordar a mãe no meio da rua e alertá-la sobre uma morte iminente na família — no caso, a da própria filha.
Essa mulher, que se disse vidente, levou a idosa a outras duas comparsas, apresentadas como uma cartomante e uma mãe de santo, que confirmaram a previsão e lhe sugeriram pagar por “um trabalho” para salvar a filha.
Assustada, a idosa contou tudo para a filha. A mulher, então, prosseguiu com o plano e fingiu ficar apavorada, suplicando para a mãe fazer o trabalho espiritual.
A mãe obedeceu e fez, em um intervalo de 15 dias, pagamentos que totalizaram R$ 5 milhões.
Depois do início do tratamento, a filha começou a isolar a mãe dentro de casa, dispensando funcionários e prestadores de serviços domésticos.
No início de fevereiro, contudo, a idosa começou a perceber que a filha tinha relação com as ditas videntes e parou de fazer os repasses.
A filha começou a agredir e ameaçar a própria mãe, que só então percebeu o plano.
O tamanho do prejuízo
A polícia estima que o prejuízo da idosa chegou a R$ 725 milhões:
- Roubo de 16 quadros: R$ 709 milhões;
- Roubo de joias: R$ 6 milhões;
- Pagamento pelos “trabalhos espirituais”: R$ 5 milhões;
- Transferências sob ameaça: R$ 4 milhões.
Três obras foram recuperadas em São Paulo. Outros ainda não, pois foram vendidos para o Museu de Arte Latino-Americano, em Buenos Aires.
Os quadros levados
A polícia listou 16 obras roubadas da idosa, que avaliou os valores:
- O Sono, de Tarsila do Amaral: R$ 300 milhões;
- Sol Poente, de Tarsila do Amaral: R$ 250 milhões;
- Pont Neuf, de Tarsila do Amaral: R$ 150 milhões;
- O Menino, de Alberto Guignard: R$ 2 milhões;
- Elevador Social, de Rubens Gerchman: R$ 1,5 milhão
- Mascaradas, de Di Cavalcanti: R$ 1,5 milhão;
- Maquete Para Meu Espelho, de Antônio Dias: R$ 1,5 milhão;
- Aquarela sem título, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
- Coruja ao Luar, de Kao Chi-Feng: R$ 1 milhão;
- Ela, aquarela, de Cícero Dias: R$ 1 milhão;
- Porto de Pesca rem Hong-Kong, de Kao Chien-Fu: R$ 1 milhão;
- Mulher na Igreja, de llya Glazunov: R$ 500 mil;
- Desenho representando uma paisagem, 1935, de Alberto Guignard: R$ 150 mil;
- Église Saint Paul, de Emeric Marcier: R$ 150 mil;
- Retrato, de Michel Macreau: R$ 150 mil;
- Rue des Rosiers, de Emeric Marcier: R$ 150 mil.