A prisão de três policiais militares e de um ex-PM acusados de matar o filho do coreógrafo Carlinhos de Jesus mostrou que, por trás da morte do músico Dudu d?Jesus, estava um triângulo amoroso. Não fosse o desfecho trágico, poderia ser mais um dos tantos outros que se formam nas rodas de pagode da cidade. Afinal, os sete tiros que provocaram a morte de Carlos Eduardo Mendes de Jesus na madrugada de 19 de novembro de 2011 foram, segundo a polícia, motivados pelo triângulo que há alguns dias havia se formado.
Numa ponta, o ex-PM Marlon Soares Pinheiro, preso esta semana, acusado de tramar a morte. Na outra, a cabeleireira Bruna, ex-namorada de Dudu com quem o músico estava naquela noite. Na semana do crime, ela e o rapaz haviam se reaproximado após dois meses do fim do namoro. A iminência de um novo romance despertou ciúme em Marlon: afinal, após meses de insistência, finalmente ele saía com Bruna.
A moça e Dudu namoraram seis anos, até setembro de 2011, quando ela desconfiou ter sido traída. Uma noite, já solteira, Bruna encontrou Marlon no Pagode da Piscina, um evento em Bangu. Trocaram telefones e, dali a alguns dias, ficaram pela primeira vez. O ex-PM havia conseguido a mulher que queria. Repetiram as saídas e, na quarta-feira anterior ao crime, foram ao Refúgio Carioca, no mesmo bairro.
Dudu estava lá, na comemoração de um aniversário. Ele e Bruna trocaram olhares, cada um num camarote. Bruna continuou com o ex-PM, mas de forma mais discreta. Ver Dudu mexeu com ela. Disse a Marlon que ia ao banheiro e saiu do bar com um amiga. Pararam um táxi e pediram para ir ao McDonald?s do bairro. De lá, ela ligou para Dudu.
Passaram a noite juntos. Os três vértices só se reuniriam novamente dois dias depois, no dia 19, quando, no Boteko Carioca, o triângulo amoroso se tornou um crime passional.
Assédio era antigo
Marlon é conhecido na Zona Oeste por gostar de usar cordões de ouro. Nos camarotes das casas noturnas da região, sempre estava cercado de baldes cheios de bebida e mulheres. Queria a namorada de Dudu. A atração por ela era antiga. O inquérito da Divisão de Homicídios mostra que Marlon assediava Bruna até mesmo enquanto ela ainda namorava Dudu. Sempre a encarava, mostrando interesse, estivesse ela com o músico ou não.
Na denúncia do Ministério Público, o ex-PM é descrito como um miliciano, ligado ao grupo que domina a comunidade Rio da Prata, em Bangu. Foi expulso da corporação em 2006 por indisciplina. Servia em Duque de Caxias, e saiu na limpeza promovida pelo coronel Paulo César Lopes, que comandou o 15º BPM.
Certa vez, quando a cabeleireira ainda namorava o músico, chegou a mandar um recado por meio de um amigo em comum. ?Quero ficar com você?, avisou, direto. Meses depois, conseguiu a mulher que queria.
A polícia acredita que Marlon percebeu que Bruna e Dudu poderiam reatar. Após o McDonald?s, os dois passaram a noite juntos e também ficaram na quinta-feira. Enquanto isso, Marlon ligava insistentemente. Bruna despistava Dudu para atendê-lo e, para o ex-PM, mentia sobre onde estava.
No sábado, Bruna e Dudu foram ao Boteko Carioca, onde o grupo do rapaz se apresentaria. Por volta das 3h30m, após o show, Dudu guardava os instrumentos quando os dois homens chegaram na moto. Entre um tiro e outro, Dudu chegou a levantar a mão. Morreu pouco depois.
Procurada, Bruna não quis comentar o namoro com Dudu. ?O que tive com Dudu terminou, não temos mais nada para lembrar?, afirmou.
Os policiais militares André Pedrosa dos Santos, Wellington do Carmo Pereira e Miguel Ângelo da Silva Medeiros também foram presos. Os dois primeiros são acusados de ter ajudado a planejar o crime. Miguel teria matado Dudu por vingança, já que, um mês antes, ele e o músico haviam brigado. Nenhum dos quatro já tem advogado.