O cineasta Cláudio Assis vai transformar o susto em cinema. Ele falou que vai aproveitar as imagens do flagrante da polícia durante a filmagem de uma cena de nu em seu novo filme, "Febre do rato".
"Filmamos tudo, em 35 mm, vamos colocar sim [no filme]", afirma Assis, que roda o seu terceiro longa-metragem, após "Amarelo manga" e "Baixio das bestas".
No dia 7 de setembro, ele e toda a equipe tiveram dois encontros com policiais. O primeiro, estava nos planos de filmagens, o segundo, não.
Na primeira ocasião, Zizo, o personagem principal interpretado pelo ator Irandhir Santos (do filme "Quincas Berro D"Água"), junto com um grupo de amigos, vai para frente de um tanque, aproveitando a parada militar do Dia da Independência, até ser retirado.
Na segunda, Zizo, descrito por Cláudio Assis como "poeta, anarquista, revolucionário", sobe em um carro para declamar uma poesia até que vê Eneida, interpretada por Nanda Costa, sua parceira. O clima esquenta e os dois tiram a roupa. Policiais da ficção aparecem e tentam tirá-lo do lugar, mas ele resiste. A partir daí, as versões são muitas, mas o fato é que a polícia de verdade chegou.
"Eu sei que os caras [os policiais] chegaram e chegaram com violência, querendo prender, com arma na mão. Mas, eu e o produtor, nós conversamos muito com eles e falamos o que era, que era um filme. No caso, o personagem estava apaixonado, tinha uma crise e tirava a roupa. Mas as ruas de acesso estavam fechadas, estava tudo sob controle, era o feriado, 7 de setembro, então ninguém via."
PM chamada
A Polícia Militar de Pernambuco informou que foi chamada, no fim da manhã de terça-feira (7), para conferir uma ocorrência Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista, perto do Centro do Recife, em que duas pessoas estavam nuas. Ao chegar ao local, os policiais verificaram que as pessoas sem roupa eram dois atores do filme.
Assis explica que a situação, por mais inesperada, se encaixa perfeitamente no filme. Ele conta que Zizo, dono de um jornal de pequeno porte chamado "Febre do rato", vai interagir com vários personagens marginais, interpretados por Matheus Nachtergaele, Ângela Leal, Maria Gladys, entre outros, e juntos vão criar uma espécie de sociedade alternativa, onde têm a liberdade de agir da maneira que quiser.
"Não tem regras, a regra quem cria é eles. Todas as vezes que ele interage com a realidade, a polícia vem e prende. É o que aconteceu", afirmando também que, após as explicações, ninguém chegou a ser realmente preso.
As filmagens deste terceiro filme de Assis acabam em outubro e deve chegar às telas em maio do ano que vem. O cineasta diz que, diferentemente dos seus longas anteriores, em "Febre do rato" "a ficção vai dentro da realidade". Não imaginava o quanto.