O cenário de desastre no Haiti é encarado como um desafio para o tenente da Polícia Militar de Pernambuco Ricardo Couto, de 35 anos. Em missão de paz naquele país e sobrevivente do terremoto que na última terça-feira (12) matou milhares de pessoas, o policial não pensa em voltar ao Brasil, mesmo diante do pedido da mãe.
Ricardo Couto tem familiares em Natal e, nesta quinta-feira (14) enviou um depoimento à redação do Nominuto.com em que detalhes os momentos de terror vividos no Haiti. A reportagem procurou os parentes do tenente que também mantiveram contato com ele depois da tragédia.
No bairro de Morro Branco, a prima Concita da Escócia Melo, não desgruda do telefone mantendo contato direto com a mãe de Ricardo, Maria das Graças, que mora em Olinda.
?Nós lamentamos o que aconteceu no Haiti, mas ficamos felizes porque ele sobreviveu. Ricardo esteve aqui em Natal em setembro, no casamento da minha filha, e ficou hospedado aqui em casa. Lembro que ele já estava ansioso para ir nessa missão e não via a hora de embarcar?, conta Concita (foto).
De acordo com a prima, o policial deixou o Brasil em 26 de dezembro. Por telefone, a mãe dele, Maria das Graças, contou que já conversou com o filho depois do terremoto.
?Ele disse que o país realmente está um caos, que nunca viu uma destruição daquele porte. Além disso, Ricardo está muito triste porque foi para o Haiti realizar uma missão e agora está tendo que desempenhar outra função, que é de socorrista?, afirma.
Mesmo assim, o tenente que tem 14 anos de policia não pensa em voltar ao Brasil. ?Pedi que ele voltasse o quanto antes, mas ele disse: ?mãe, agora é que eu não volto mesmo?, vou ficar e concluir essa missão, porque o país está precisando?.?, destacou Maria das Graças.
A mãe contou que Ricardo Couto foi para o Haiti passar exatamente um ano. A previsão de volta dele é dia 26 de dezembro deste ano. O tenente da PM de Pernambuco contou aos familiares que perdeu quatro amigos na tragédia. Todos, ele havia conhecido depois que chegou ao país.
No depoimento que enviou ao Nominuto, Ricardo relata: "Não durmo há dois dias e meio e não lembro a última vez que me alimentei, porém não vou descansar enquanto não achar corpos ou sobreviventes".
Esse sentimento, de acordo com a mãe, faz parte da natureza do tenente. ?Ele é policial por vocação. Escolheu essa profissão e ama o que faz. Agora, só nos resta agradecer todos os dias por ele ter sobrevivido?, ressaltou a mãe.
O tenente Ricardo Couto também é advogado e engenheiro. Ele é o primeiro policial militar brasileiro a comandar a unidade especializada na Polícia da ONU (UNPOL) no Haiti.