Há 10 anos o autônomo Almir Rogerio Ferreira da Silva, de 30 anos, luta na justiça para provar que não é criminoso. O nome dele é igual à de um homem acusado de vários crimes em Divinópolis, Minas Gerais.
A confusão dos nomes foi descoberta em 2002. Na época Almir estava em Montes Claros, onde estudava e trabalhava como mecânico ao lado do irmão. Ele procurou a Justiça Eleitoral para transferir o título para a cidade, quando se deparou com uma surpresa ruim. ?Descobri que o meu título estava inativo por antecedentes criminais?, explica.
A partir daí Almir Rogerio Ferreira da Silva, nascido em São Francisco, Norte de Minas, começou a luta na Justiça para provar que não era o Almir Rogerio, natural de São Paulo, que cometeu vários crimes no centro-oeste de Minas Gerais. ?Procurei a Justiça em Divinópolis e só em 2008 consegui um documento de certidão criminal negativa, emitido na cidade, comprovando que eu não respondia por crime algum?.
A vida do trabalhador nunca mais foi a mesma. Ele conta que durante todos esses anos passou por vários constrangimentos, perdeu emprego, concursos e muitas oportunidades. "Minha vida parou?, diz.
Com o documento emitido pela Justiça de Divinópolis em mãos, ele acreditava que o problema estava resolvido. Mas em novembro desse ano, Almir procurou o Fórum de São Francisco para revolver uma pendência de pensão alimentícia, quando foi preso. Depois de pagar a pensão, o autônomo ficou sabendo que não poderia sair da cadeia, porque tinha um mandado de prisão em aberto contra ele, em Divinópolis. ?Fiquei mais cinco dias preso, tentando provar novamente que eu não era esse Almir?, conta.
O advogado responsável pelo caso, Roberto Soares de Oliveira, disse que o curioso é que o autor teria sido condenado a um ano e quatro meses em regime aberto, pelo crime de furto, ocorrido em 2001. ?Nem ele mesmo ficou preso?, afirma o advogado. Ainda de acordo com Oliveira na Justiça existem vários processos arquivados contra o Almir Rogério Ferreira da Silva de Divinópolis.
A reportagem teve acesso aos documentos do processo. No mandado de prisão emitido pela Justiça de Divinópolis, os nomes dos pais, data nascimento e naturalidade são diferentes do Almir de São Francisco. Porém nos documentos expedidos com o número desse mesmo processo aparecem os dados dele. ?As informações dos dois Almir estão no mesmo processo?, explica o advogado.
O delegado responsável pelo caso em São Francisco, Daniel Botelho Almondes, informou ao advogado que pode ter acontecido um erro de digitação no sistema em Divinópolis. No documento entregue ao advogado, o delegado afirma que os dados do Almir de São Francisco foram retirados do sistema da Polícia Civil.
O delegado Regional de Divinópolis, Fernando Jorge Vilaça, descartou a possibilidade de um erro de digitação. Segundo ele, provavelmente o Almir de Divinópolis tenha apresentado a carteira de identidade do Almir de São Francisco, já que ele perdeu os documentos em 1999, antes do acontecimento dos fatos. Vilaça disse ainda que a Polícia Civil apurará o caso.
Já o Juiz da cidade, Marcelo Paulo Salgado, disse que não constam pendências em nome do Almir de São Francisco no fórum de Divinópolis.
Família quer justiça
A família de Almir Rogério Ferreira da Silva agora quer justiça. Eles pretendem processar o Estado por conta do erro ocorrido durante todos esses anos.
A aposentada Dominga Ferreira Luz, de 61 anos, se emociona ao contar o quanto o filho tem sofrido. ?A vida da nossa família nunca mais foi a mesma, ele vive com medo de ser preso. É muito difícil para uma mãe ver um filho sendo acusado por um crime que ele não cometeu.?, diz.
Na casa humilde em São Francisco, onde a família vive, Almir aprendeu valores importantes. ?Sempre ensinei meu filho a estudar, trabalhar e ser honesto. É triste ver uma situação dessas?, conta o pai José Francisco Lima Silva, que trabalha como serralheiro.
Agora Almir Rogério Ferreira da Silva quer apenas que a justiça seja feita. ?O Estado tem que me ressarcir por todo esse constrangimento que passei durante esses anos Eu espero que a minha vida volte ao normal?, afirma Almir.