Saílson José das Graças — que confessou, ao ser preso, em dezembro do ano passado, ter matado 43 pessoas — não “reúne sinais e sintomas que configurem doenças mentais” e era “inteiramente capaz de entender o caráter ilícito” dos crimes. É o que aponta o laudo do teste de sanidade mental feito no acusado. Segundo a perita, Saílson disse que teve que “assumir” a autoria dos homicídios com medo de “ser agredido” e o fez para se proteger, chamando “a atenção da mídia”.
No documento, assinado por Sandra Greenhalg, conclui-se que Saílson apresenta “transtorno de personalidade antissocial”. A perita alega, entretanto, que a perturbação não guarda nexo de causalidade com a morte de Fátima Miranda, assassinada a facadas no quintal de casa, em Nova Iguaçu. Ele foi preso em flagrante pelo crime.Durante a avaliação, o réu negou que tenha participação no homicídio. Ele contou que confessou a autoria porque, na delegacia, “estavam dando uma pressão” em sua companheira, Cleusa Balbina de Paula, também presa.
“Conforme iam jogando os crimes em cima de mim, fui ficando com medo de ser agredido, de me baterem e fiz isso para chamar a atenção da mídia, para me proteger. E deu certo, porque ninguém encostou em mim”, relata Saílson. E completa: “Inventaram até que eu tinha matado criança, aí eu ia ser muito agredido. Não adiantava falar que não tinha sido eu, até porque já tinha passagem pela cadeia antes”.
Para MP, ‘é natural’ que réu mude a versão
O promotor Marcel Pereira — que atua junto à 4ª Vara Criminal de Nova Iguaçu e é responsável pela denúncia contra Saílson no processo que o acusa da morte de Fátima — afirma que a mudança de versão é previsível:
— É natural que Saílson, ao se dar conta de que pode passar 30 anos de sua vida na cadeia caso condenado por vários homicídios, queira mudar sua versão, pois nenhuma pessoa quer passar 30 anos na cadeia.
O promotor explicou que, apesar de ter preferido manter silêncio durante as audiências em que participou à frente do Alexandre Guimarães Gavião Pinto, o depoimento que ele deu na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) tem valor legal. Ele vai buscar a condenação do acusado no Tribunal de Júri.
— O Ministério Público tem a convicção de que Saílson cometeu os homicídios dolosos em relação aos quais já foi denunciado. As declarações dele em sede policial são lícitas e muito detalhadas, contendo informações que somente o autor do crime poderia possuir — explicou, por email.
Confissão
Ao ser preso, Saílson contou ter matado 43 pessoas, a maioria delas mulheres, na Baixada Fluminense.