Os três tiros que mataram Igor de Oliveira Falcão numa esquina de Belford Roxo foram o fim violento de uma vida sem rumo certo. Analfabeto, terceiro mais velho de 11 irmãos, pai usuário de drogas, maconha aos 12 anos, crack aos 16 . Agitado, nunca conseguiu se adaptar à escola. Aos 10 anos, pulou o muro do colégio estadual Pedro Varela para nunca mais voltar.
Com o vício vieram os pequenos furtos em casa ? chegou a vender uma televisão e um botijão de gás. E, com eles, a primeira sentença: foi espancado por traficantes do Morro da Pedreira, em Costa Barros, onde morava com a mãe. Com medo do destino do garoto, a família saiu da favela e voltou para São João de Meriti, onde mora a avó materna de Igor.
A mudança não o afastou das drogas. Igor decidiu roubar. E, no primeiro roubo, rodou. Em 23 de setembro de 2012, depois de sair de uma festa de aniversário da família, montou em uma motocicleta emprestada. Drogado e alcoolizado, segundo a própria família, Igor tentou assaltar um pedestre na Vila Tiradentes, em São João de Meriti, também na Baixada.
A vitima reagiu a socos e Igor acabou preso. Segundo o registro de ocorrência, o rapaz usava uma arma de brinquedo. Segundo os parentes, Igor estava desarmado. Autuado em flagrante por assalto, ficou um ano na cadeia, cumprindo pena no presídio João Carlos da Silva, em Engenheiro Pedreira, Japeri.
A vitima reagiu a socos e Igor acabou preso. Autuado em flagrante por assalto, foi condenado a cinco anos de prisão, ficou um preso. Saiu da prisão em setembro último, com uma tornozeleira, que foi quebrada pelo próprio rapaz, por abrir feridas numa das pernas. Há duas semanas, Igor tentou mudar de vida. Começou a trabalhar como ambulante, vendendo pen drives no Largo da Carioca. Apesar de ser pai de duas crianças e ter engravidado uma ex-namorada, resolveu morar com uma nova garota.
Em 23 janeiro deste ano, Igor foi a uma loja em São João de Meriti comprar uma cama de casal. Por volta das 17h, foi chamado na casa da namorada pelo amigo Victor Fernandez, de 18 anos. Os dois saíram juntos.
Horas depois, eram assassinados juntos. Os corpos foram achados a cerca de cm metros um do outro.
Igor teve o corpo reconhecido por parentes no Instituto-Médico Legal de Nova Iguaçu. Como não tinha carteira de identidade, apenas certidão de nascimento, o corpo do rapaz foi liberado 72 horas após a morte.
No atestado de óbito, não teve direito a um nome. Apenas a descrição ?um homem?. Foi sepultado como indigente na cova rasa número 295, encostada no muro dos fundos do cemitério de Vila Rosali, em São João de Meriti.
Uma vida distante da igreja
De uma família evangélica, Victor Fernandez levava uma vida afastada da igreja. Descrito pelo pai como um jovem ?levado?, Victor já tinha uma data marcada para começar a trabalhar.
? Ele morreu numa quinta-feira e iria começar como ajudante de caminhão na segunda-feira seguinte. Estava só esperando um telefonema para confirmar tudo. Era um rapaz levado, mas com um ótimo coração. A gente estava orando para ele aceitar Jesus ? disse Elias Fernandes, de 49, pai do jovem.
Victor deixou a escola cedo. Segundo sua família, ele estudou apenas até o 5º ano do ensino fundamental. O jovem já havia respondido a um processo por porte de arma, mas foi absolvido.
? Meu filho achou uma arma na rua e colocou na cintura. Acabou sendo preso por isso, mas foi absolvido pela Justiça ? explicou Elias Fernandes.
Pai de uma criança de 7 meses, Victor não morava na casa de seus pais. Dividia uma casa com a companheira. A notícia da morte do filho chegou à casa de Elias por telefone. Foi ele quem reconheceu o corpo do filho. O rapaz foi sepultado, no dia 25, no cemitério São Lázaro, mais conhecido como Venda Velha, em Meriti.
Para Elias, o filho pode ter sido morto ao ser confundido com um bandido:
? Dizem que ele foi lá comprar maconha e foi confundido com um integrante de uma facção.