O inquérito policial encaminhado ontem à Justiça gaúcha com o indiciamento do médico Cesar Duilio Gomes Bernardi, 53 anos, por porte ilegal de arma, cárcere privado e agressão a uma namorada, expõe mais um drama familiar impulsionado pelo crack. A prisão do médico é o ápice de uma trajetória de uso de drogas que teve início na adolescência em Porto Alegre. Ainda estudante, ele conheceu a uruguaia dois anos mais jovem, cujos pais desaprovaram o namoro.
O reencontro anos mais tarde terminaria no cárcere de 18 dias, de onde a enfermeira, debilitada, fugiu com a ajuda da mãe de Bernardi. "Um dia ela apanhou de relho até rasgar a pele e desmaiou. Os golpes eram sempre abaixo do joelho para não poder se levantar. Depois, dava doce de leite para ela não ficar anêmica", contou a delegada Nadine Farias Anflor, da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher ao jornal Zero Hora.
Clínico-geral, Bernardi foi trabalhar no consultório do pai, no bairro nobre Moinhos de Vento, mas ele tinha dificuldades de cumprir horários e compromissos. Marcava consultas e não aparecia. A clientela foi minguando, e o médico acabou depenando o consultório para comprar droga.
A família se desfez do consultório em meados de 2005 e Bernardi passou a atender a domicílio pacientes que o procuravam, esporadicamente, a partir de anúncio na internet. Não vivia mais com a mulher e os dois filhos e foi morar em uma peça com banheiro nos fundos da casa dos pais. "A gente dava (dinheiro) para evitar de ele ficar devendo. Uma vez, um traficante ameaçou a família de morte", revelou um parente. O médico também já teria atraído outras mulheres para seu quarto, que ficavam lá trancadas por dias. Quando era perguntado sobre as visitas, respondia que elas estavam em tratamento de sono, e ficava agressivo com qualquer contestação