O conjunto de laudos feitos por peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico Científica de São Paulo concluiu que Flávia Anay de Lima, de 16 anos, namorada do jogador da Portuguesa Rafael Silva, de 20 anos, cometeu suicídio no ano passado ao se jogar sozinha do 15º andar do prédio onde vivia com o atacante, na Zona Leste de São Paulo. A informação foi confirmada ao G1 nesta terça-feira (3) pela delegada seccional Elisabete Sato, titular da 5ª Seccional Leste. A reportagem não conseguiu localizar os parentes da jovem ou o advogado da família dela para comentar o assunto. A assessoria de imprensa da Portuguesa informou que o atacante está atualmente emprestado ao Noroeste, em Bauru, no interior paulista, e que ele não quer comentar o caso.
?O conjunto dos laudos demonstram que ele fala a verdade, que a namorada se jogou. O laudo necroscópico também não demonstrou ter havido participação do rapaz. O laudo entende que ela se jogou?, disse a delegada, que investigava o caso como morte suspeita a apurar. ?Agora a idéia é que relatemos o inquérito como suicídio?.
O resultado do exame de um dos laudos informa que ocorreu uma discussão entre o casal, motivada por ciúmes, dentro do apartamento no dia 31 de julho de 2011, na Vila Carrão. O atleta chegou de carro ao edifício. Em seguida, subiu de elevador. Dez minutos depois, Flávia chegou a pé e também pegou o elevador em direção ao apartamento.
Num primeiro momento, a adolescente arremessou um objeto em direção a Rafael, atingido na cabeça - oferimento provocou um sangramento. Em seguida, a garota tentou pular da janela do quarto e o namorado a impediu, puxando-a pela camisa, que rasgou em suas mãos.
Ainda pela dinâmica interpretada pelos peritos, ela saiu do cômodo, bateu a porta e correu para a sacada na varanda. A descrição da queda confere com o que o atleta também relatou em seu depoimento à polícia. Ele afirmou ter visto Flávia de lado, com uma das pernas para fora do gradil. Em seguida, ela levantou a outra perna e se lançou de costas e caiu.
Gravações das câmeras do circuito de segurança do prédio mostram Rafael dentro do elevador depois da queda da namorada. As cenas do prédio foram gravadas às 2h27 de domingo (31). Ele havia descido para ver a jovem no chão. Após 23 minutos, Rafael entrou no elevador e parecia desesperado. Flávia já havia caído do 15º andar. Ele sai do elevador rapidamente assim que a porta se abre, anda pelo saguão e vê o corpo de Flávia caído no chão. A polícia chegou às 3h15 e constatou que Flávia estava morta.
Família da jovem
O teor dos documentos do Instituto de Criminalística inocentam o atleta, eximindo-o de qualquer responsabilidade pela morte de Flávia. Na época da morte da jovem, familiares dela disseram à Polícia Civil que ela "jamais" se mataria e levantaram suspeita de que o jogador poderia ter assassinado a namorada.
A mãe da adolescente afirmou na época que, 15 dias antes de morrer, Flávia pediu socorro. ?Ela falou assim para mim: ?mãe, vem logo porque ele está me batendo?. Porque ele queria sair de casa, mas, pelo estado de alcoolismo dele, ela não queria deixar por medo de acontecer um acidente com ele?, afirmou Luara Adriana de Lima, de 38 anos.
De acordo com o advogado Ademar Gomes, que representa a família de Flávia, os parentes relataram que a adolescente aparecia sempre machucada.
Discussão
Em entrevista ao Fantástico exibida no dia 14 de agosto do ano passado, Rafael contou o que ocorreu na madrugada do dia 31 de julho. Segundo ele, houve uma discussão que começou na porta de um bar. Flávia apareceu de surpresa. ?Parei lá e, depois de dez minutos, o cara lá que olha os carros na rua me chamou. Falou: ?sua mulher está quebrando o seu carro?. E veio me agredir. Para evitar confusão, virei as costas. Peguei o carro e fui embora?, contou.
O jogador da Portuguesa disse que a discussão continuou dentro do apartamento e que ele começou a arrumar as malas para sair de casa. Segundo Rafael, ao saber da separação, Flávia jogou uma caixa de som na cabeça dele. ?Ela chegou em casa toda eufórica, me agredindo e foi no que deu tudo nisso, que aconteceu essa fatalidade?, lembrou.
Rafael Silva começou nos times de base da Portuguesa e se tornou profissional há dois anos. Na carreira, ele diz que tudo ia bem. O que não acontecia na vida pessoal. ?A Flávia tinha um ciúme muito possessivo, muito doentio. Ela discutia, levantava a voz?, contou. Questionado se perdeu a cabeça alguma vez, ele negou. ?Jamais levantei a mão para ela.?
O atacante da Portuguesa disse que são dele as manchas de sangue achadas no elevador e no apartamento, inclusive as das mãos no azulejo do banheiro. De acordo com Rafael, o sangue é do ferimento na cabeça, provocado pela caixa de som. O material foi analisado pela perícia.
Ele disse que não se sente culpado. ?Não me sinto culpado, não. Porque o que eu pude fazer por ela, eu fiz", alegou Rafael, que prestou depoimento em janeiro deste ano à polícia.