Uma maratona de depoimentos de testemunhas da defesa e do juiz, entre elas o irmão do réu, abre nesta quarta-feira (20) o terceiro dia do júri popular do ex-seminarista Gil Rugai, 29, no Tribunal do Júri de São Paulo, na Barra Funda (zona oeste). Ele é julgado pela morte do pai, o empresário Luiz Carlos Rugai, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitino. Defesa e acusação preveem que o réu deponha apenas na quinta-feira (21).
Ao todo, para hoje, são previstos nove julgamentos: o de uma testemunha arrolada pelo juiz do caso, Adílson Simoni, e as oito testemunhas que restam das nove arroladas pela defesa do réu. O primeiro nome desse grupo foi ouvido ontem à noite --o perito particular Alberi Espíndula.
Para este terceiro dia, a defesa apresenta, entre outros nomes, o irmão do réu, Léo Rugai, o jornalista Valmir Salaro, da TV Globo, além de contadores da empresa da vítima.
Para um dos advogados de Gil Rugai, Marcelo Feller, não há uma hierarquia de relevância entre os nomes que devem ser ouvidos hoje. "As testemunhas mais importantes já foram ouvidas", disse, referindo-se a um vigia que afirma ter visto Gil Rugai deixar o local do crime e o delegado que investigou o caso pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Rodolfo Chiareli.
Apesar de o vigia ter reafirmado em juízo ter visto Gil Rugai saindo da casa das vítimas, os advogados de defesa exploraram contradições no depoimento, como a distância a que a testemunha estaria do jovem e a descrição das roupas que o réu usava no dia.
Já o delegado disse em um depoimento de cerca de seis horas, ontem, não ter dúvidas de que o autor do crime é mesmo Gil Rugai. Por outro lado, ele admitiu que a polícia não requisitou perícia na arma do crime, nem no local onde foi encontrada --uma pistola calibre 380 foi localizada na caixa pluvial do prédio onde o réu trabalhava.
Chiareli também negou que tenha sido feito um laudo contábil que atestasse a fraude financeira na produtora do empresário --motivação, conforme as investigações, para que Luiz Carlos tivesse expulsado o filho de casa e ameaçado processá-lo quatro dias antes de ser morto. Em reação, o jovem teria decidido matá-lo.
"Hoje todos estão se perguntando: será que [Rugai] não foi [culpado pelos crimes]? Essa é a pergunta que deveria ter sido feita há nove anos, não hoje, não em seu júri", disse o advogado de defesa, Marcelo Feller.
A defesa, que havia prometido dar "nome e sobrenome" do que classifica como "verdadeiros assassinos" do casal, afirmou que ainda pretende fazê-lo durante a semana. "É outro suspeito, serão ainda revelados nome, sobrenome, RG; ele está vivo, não é nenhum morto. Não é um coelho tirado da cartola", disse Feller.
Na avaliação do promotor do caso, Rogério Leão Zagallo, para quem o dia de ontem foi "extremamente feliz" para a acusação, as insinuações da defesa sobre outra autoria não encontram respaldo no processo.
"O próprio delegado do caso disse não ter dúvida alguma sobre a autoria ser do Gil. E olha que ele ouviu quase 100 pessoas no inquérito", disse.
Indagado sobre o porquê de o Ministério Público não ter requerido por sua própria auditoria confirmação da tese de desfalque praticado por Gil Rugai contra o próprio pai, o promotor definiu: "o desfalque agora é de menor importância. O debate será em relação ao que o Gil Rugai fez, uma vez pilhado por seu pai", concluiu.
Após as oitivas de todas as testemunhas e do réu, será feito o debate direto entre acusação e defesa. Só então os sete jurados --cinco homens e duas mulheres--decidem se Rugai é inocente ou culpado, e, em caso de condenação, o juiz inicia a dosimetria da pena.