O ex-namorado de Mércia Nakashima, o advogado e policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza, e o vigilante Evandro Bezerra Silva provavelmente serão denunciados pelo Ministério Público à Justiça pelo assassinato da advogada, informou ao G1 neste sábado (10) o promotor Rodrigo Merli Antunes. De acordo com ele, isso será feito após a conclusão do inquérito da Polícia Civil sobre o caso e será remetido à Promotoria, possivelmente, com o indiciamento dos dois suspeitos.
Mizael é apontado pelo vigilante Evandro Bezerra Silva como o assassino da advogada Mércia Nakashima, ex-namorada dele. O motivo do crime seria ciúmes. O suspeito não teria aceitado o fim do relacionamento de quatro anos com a mulher.
Para a Promotoria, a investigação feita pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) já apresentou indícios suficientes para indiciar Mizael e Evandro pela morte de Mércia. Ainda, segundo o promotor Merli Antunes, os suspeitos serão acusados pelos crimes de homicídio qualificado (pela motivação torpe, que seria a intolerância de Mizael com o fim do relacionamento), ocultação de cadáver (a advogada foi jogada ferida dentro do seu próprio carro dentro de uma represa) e sequestro (ela teria sido forçada a ir com os responsáveis pelo crime para Nazaré Paulista, no interior do estado, onde foi morta).
?Independentemente da perícia [da Polícia Técnico-Científica, que falta apresentar os laudos da causa da morte de Mércia e o que foi achado no veículo dela], já tenho requisitos. Provavelmente devo fazer a denúncia dos dois assim que a polícia concluir o inquérito. O envolvimento dos dois parece bem evidente?, disse Merli Antunes.
Para o promotor, o crime cometido contra Mércia é hediondo. ?Só falta definir quem fez o quê?, disse Antunes. Evandro foi preso na sexta-feira (9) em Sergipe. Mizael teve a prisão decretada neste sábado pela Justiça de Guarulhos, na Grande São Paulo. Apesar disso, ele se encontra foragido, segundo a Promotoria e a Polícia Civil.
O pedido de prisão foi feito pelo delegado Antonio de Olim, do DHPP, após ouvir o depoimento de Evandro em Sergipe. Na versão do vigia, Mizael matou Mércia numa represa em Nazaré Paulista e ele foi buscar o advogado de carro no local. O ex nega o crime.
?O que tínhamos era o contrário. Pelas investigações era Mizael o mandante e Evandro o executor. Na minha avaliação, Evandro está querendo se eximir de uma responsabilidade que ele tenha?, disse o promotor do caso, que espera o resultado da apuração sobre a possível participação de um dos irmãos de Mizael no crime. ?Ele teria dado apoio aos dois suspeitos.?
O Ministério Público também pretende aguardar a conclusão dos laudos do Instituto Médico Legal (IML), sobre a causa da morte de Mércia, e do Instituto de Criminalística (IC), a respeito do que foi encontrado no veículo dela.
?Dependendo das perícias, é possível qualificar o homicídio por asfixia [se a vítima morreu mesmo afogada] ou tortura [ela teria sido agredida]?, disse Antunes.
A advogada havia deixado a casa dos avós em Guarulhos e desapareceu sem dar mais notícias em 23 de maio. Foi ainda na mesma represa que o carro da advogada, um Honda Fit prata, foi localizado submerso no dia 10 de junho após a denúncia feita por um pescador. O corpo da vítima foi encontrado em 11 de junho pelos bombeiros.
De acordo com peritos Mércia teria apanhado do agressor, foi baleada de raspão no rosto, teria desmaiado e morrido afogada. A testemunha contou à polícia que viu um homem alto não identificado sair do veículo e escutou gritos de mulher antes de o automóvel afundar.
Uma testemunha chegou a dizer à polícia de SP que o segurança Evandro também teria recebido R$ 5 mil de Mizael para fazer uma "coisa errada". Para a investigação, essa "coisa errada" seria ajudar a matar Mércia. ?Também vamos apurar se o crime envolveu pagamento de dinheiro, o que aumentaria as qualificadoras contra os dois?, disse o promotor.
Foragido
Para o Ministério Público e a Polícia Civil de São Paulo, Mizael já é considerado foragido da Justiça por ainda não ter se apresentado aos policiais que foram neste sábado à sua casa, em Guarulhos, para cumprir o mandado de prisão contra ele. ?Se foram até a casa dele, e advogado dele disse que ele não vai se apresentar, pode ser considerado foragido, sim?, disse o promotor Merli Antunes.
Apesar de Mizael ter sido orientado por Haddad Júnior para não se apresentar à polícia, o defensor discorda da versão policial de que seu cliente seja considerado foragido. ?Não se pode dizer que o Mizael é foragido porque ele tem direito a recurso. Está em lugar ignorado. Não vou orientá-lo a fugir. Ele não vai fugir. Não vai sair do Brasil?, disse Haddad Júnior, que considerou ?injusta? a decretação da prisão.
O advogado de Mizael afirmou ao G1 que vai entrar com um pedido para revogação da decisão judicial na segunda-feira (12). Se o recurso for desfavorável, o defensor promete ainda entrar com um habeas corpus em favor de Mizael no Tribunal de Justiça de SP. ?Somente depois de esgotar todos os recursos, o Mizael vai se apresentar porque também não vou querer que ele se torne foragido?, disse Haddad Júnior.
Prisão decretada
Caso Mizael seja preso, ele deverá ser levado para o presídio Romão Gomes, da Polícia Militar em SP, pelo fato de ser policial militar aposentado. Em outras oportunidades, o ex sempre negou o crime.
O segurança Evandro já estava preso por suspeita de envolvimento com o crime. Ele foi detido na sexta após ficar foragido desde o dia 25 de junho, quando também teve a prisão temporária por 30 dias determinada pela Justiça por faltar a um depoimento no DHPP na capital paulista.
Para a investigação, além de Mizael e Evandro, o irmão do advogado também estaria envolvido no homicídio. Ele ligou 27 vezes para o vigilante num período próximo ao sumiço de Mércia.
O delegado Antonio de Olim e um investigador do DHPP, que viajaram na sexta de São Paulo para Sergipe para ouvir Evandro, devem retornar na noite deste sábado com o vigilante preso. O objetivo dos policiais de SP é ouvi-lo novamente.
No dia em que Mércia sumiu, testemunhas disseram ter visto Bispo conversar com um vigilante Evandro, que trabalhava num posto de gasolina em Guarulhos. A Polícia Civil de Sergipe informou que o vigilante confirmou que trabalhava para o ex-namorado de Mércia e que mantinha contatos com o Mizael pois trabalhava para ele como segurança.
Ainda, de acordo com a investigação do DHPP, a quebra de sigilos telefônicos dos suspeitos autorizada pela Justiça revelou que Evandro conversou diversas vezes com Mizael, pessoalmente e por telefone, antes, durante e depois do desaparecimento e morte de Mércia.
?O Evandro participou. Veja o que nós temos aí. Eles se encontravam, né? Se encontraram muito antes do crime. E se encontraram no dia do crime, se encontraram um dia antes do crime. Quer dizer: tem muitas coincidências, muitas ligações [telefônicas], muitas coisas que unem os dois nos dias dos fatos?, disse o delegado Antonio de Olim, do DHPP.