Marinalva Bezerra Clemente, de 39 anos, mãe de um menino de 10 anos, disse que Arlinda Bezerra de Assis, de 72 , que morreu no domingo, ao proteger a criança com o próprio corpo, durante um tiroteio no Complexo do Alemão, salvou a vida do seu filho. O desabafo foi feito durante o velório da idosa, nesta terça-feira, no cemitério de Inhaúma.
? Ela adotou meu filho como neto. Quando estava levando ele para minha casa e houve o tiroteio, ela gritou: "Me acertaram, meu filho, foge". Estamos revoltados. Ela trabalhou numa fábrica de costura por mais de 30 anos, pagou todos os seus impostos e se aposentou para curtir seus dois netos, mas a tragédia acabou com seus planos. Só querempos paz para continuar nossa vida. Moro há 30 anos no Alemão, mas estou pensando sair de lá por causa da violência ? disse Marinalva.
Nora de Arlinda, Maria Francisca Pessoa de Assis, de 44 anos, comemorou seu aniversário, junto com a idosa, no domingo, pouco antes de Arlinda ser assassinada.
? Queria que ela ressuscitasse. Foram 20 anos de convivência. As pessoas confudiam e pensavam que eu era filha dela, em vez de nora. Ela me esperava todo o dia quando voltava do trabalho. Éramos muito unidas. Não imaginava que nossa festa de aniversário ia terminar assim? disse Maria Francisca.
A Secretaria de Saúde disse que dois enfermeiros acabaram sendo agredidos na UPA do Alemão, durante os protestos de ontem. Por causa da confusão, dois médicos pediram demissão. Os pacientes que estavam internados na UPA, foram transferidos para os hospitais Getúlio Vargas, na Penha, Souza Aguiar, no Centro do Rio e Miguel Couto, na Gávea.