Por Daniel Favero, do Portal Terra
De 1980 a 2010, o número de homicídios de mulheres no Brasil subiu 229%, mas, apesar da grande maioria das mortes ter relação com "crimes machistas" - cometidos dentro de casa por companheiros ou pais -, esse crescimento também tem relação com uma participação maior da mulher em atividades criminosas.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o número de mulheres presas subiu 212% de 2000 a 2012, enquanto que, no mesmo período, a prisão de homens subiu 114%. Até junho de 2012, 31.552 mulheres tinham sido presas, sendo que 17.178 foram detidas por envolvimento com tráfico de drogas. Em segundo lugar aparecem os crimes contra o patrimônio (roubo, furto e latrocínio), com 6.697 prisões, e em terceiro lugar os crimes contra a pessoa (1.792 prisões), como homicídio sequestro e cárcere privado.
Nos últimos sete anos, a prisão de mulheres envolvidas com tráfico de drogas aumentou mais de 306%. Essa elevação nos índices de criminalidade femininos não se repetiu nos crimes contra o patrimônio e homicídios e sequestros, que aumentaram de 22% a 28%, respectivamente, entre as mulheres nos últimos quatro anos.
Em relação aos homicídios, em 2010, 49% das mortes de mulheres foram provocadas por armas de fogo, numero expressivo, mas ainda baixo se comparado com o da população masculina (72,4%). Entre as mulheres, são maiores os homicídios por esfaqueamento, objeto contundente e estrangulamentos, ocorridos dentro de casa, informações que confirmam que a violência doméstica é o que mais mata as mulheres no Brasil.
De volta ao crime, a dinâmica socioeconômica do mercado de trabalho se repete, com as mulheres assumindo papéis secundários que consequentemente as deixam mais expostas à violência. "A mulher fica nas funções mais vulneráveis, aquelas que podem significar um flagrante, (...) quem manda ainda acaba designando à mulher esse papel. As mulheres estão sendo muito mais presas que os homens, proporcionalmente, porque elas estão, agora, muito mais expostas que os homens em geral. A mulher é vitima tanto da violência machista, quanto dentro do contexto do crime organizado. Ela é mais vulnerável, tanto quanto os jovens, que são os que ficam com os trabalhos externos, visíveis, ostensivos", diz o diretor-presidente do Instituto Avante Brasil, Luiz Flávio Gomes.
Segundo agentes públicos que trabalham dentro dos presídios, o aumento da participação feminina em atividades criminosas pode ser explicada pela economia familiar, já que no tráfico de drogas, a família toda acaba se envolvendo com o crime. Quando o marido é preso, a mulher acaba assumindo o seu lugar. No entanto, o papel delas no comando de facções criminosas ainda é pequeno. As detentas são, por muitas vezes, ligadas a quadrilhas, mas não chefiam as facções criminosas.