A vida de milionário do financista Bernard L. Madoff acabou quando ele foi preso em sua cobertura em Manhattan (Nova York) há um ano. Mas ele está se ajustando à vida atrás das grades e sem glamour, numa pequena cidade do sul dos EUA onde está preso pelo resto da vida.
No Complexo Correcional Federal Butner, o interno número 61727-054 divide uma cela, que fica aberta, com um colega mais novo, de nome Frank. Madoff veste a farda cáqui e leva uma vida de prisioneiro convencional. Joga xadrez e dama no descanso e trabalha na cozinha, lavando panelas.
O arquiteto do maior esquema de fraude do tipo pirâmide da história, que arruinou milhares de investidores, cumpriu apenas 5 meses de sua sentença de 150 anos. Mas aos 71 anos, está conseguindo recuperar algo que desapareceu no mundo externo à cadeia desde que ele acusado da fraude: respeito.
"Para qualquer um, ele é o poderoso-chefão, o patrão", diz um interno entrevistado pelo mais importante jornal de finanças dos Estados Unidos, o Wall Street Journal, e que pediu para não ter a identidade revelada.
Sua advogada, Ira Sorkin, diz que Madoff sofre muito pelo que fez aos clientes, num golpe que estima-se ter alcançado mais de R$ 35 bilhões, mas completa: "Considerando-se tudo o que aconteceu, ele está bem".
Assim que Madoff chegou a Butner, teve de se esquivar de prisioneiros que queriam aproveitar sua notoriedade. "As pessoas queriam uma assinatura dele para entregar a alguma visita que pudesse levar isso para fora da prisão e vender a relíquia na internet", afirma a advogada.
Kenneth Calvin White, que cumpriu sentença em Butner por roubo a banco, esteve na companhia de Madoff por alguns meses. Já fora da prisão, ele deu um depoimento ao jornal americano sobre sua curta convivência com o financista.
White é também pintor e conheceu Madoff na fila da farmácia da prisão. O artista afirma que Madoff o abordou e perguntou se "ele era o cara que fazia quadros por ali".
O pintor contou que aproximou-se de Madoff e conviveu com ele durante algumas semanas. E chegou a perguntar sobre a fraude que levou seu colega a Butner. O financista teria dito que o que mais o incomodava era o fato de seus atingos empregados terem dado as costas para ele após 20 anos juntos.
White fez um retrato de Madoff, mais como um rascunho, mas fiel à sua aparência atual. Como sempre, o financista não quis passar uma impressão ruim. Pediu para ser retratado não com o uniforme da cadeia, e sim de paletó e gravata. "Ele parecia estar sempre no comando", disse o artista sobre Madoff.
Para Harlene Horowitz, que perdeu sua casa na Califórnia e outros ativos no esquema de pirâmide, Madoff deveria estar numa solitária, sem contato com outras pessoas. "Ele não pode ser feliz com sua nova vizinhança", diz ela.