"Meu coração de mãe sempre desconfiou dele", afirmou nesta sexta-feira (21) ao G1 a costureira Vandete Moreira de Santana Vaz, de 47 anos, sobre a prisão do seu ex-genro por suspeita de ter participado do assassinato da filha dela. A universitária Lore de Santana Vaz, de 26 anos, foi encontrada degolada dentro de um carro abandonado em Santo André, no ABC, há mais de uma semana.
O ex-marido da vítima, o desempregado Alan dos Santos Peçanha, de 27, foi preso temporariamente na noite de quinta-feira (20) por determinação da Justiça. Para a investigação, ele foi o mandante do crime: contratou dois outros homens para matar sua ex-mulher por desentendimentos financeiros com ela. Um dos comparsas, um funileiro, está detido; outro, um auxiliar de limpeza, é procurado.
O advogado de Alan negou a participação de seu cliente no crime.
A costureira lamentou a suposta relação do ex-genro com o crime. ?Queria a polícia provasse o contrário, provasse que não era o Alan, mas algo me dizia que era ele?, disse ao saber da prisão do homem, com que sua filha se casou havia dois anos e se separou após seis meses de união. ?Eu o chamava de filho e ele, ?de minha velha". Estou decepcionada?. Alan não teve filhos com Lore. Outros parentes da vítima receberam a notícia da prisão do ex-marido da estudante com surpresa.
Como o inquérito sobre a investigação do caso segue sobre segredo, por determinação judicial, a equipe do Setor de Homicídios da Delegacia Seccional de Santo André não quis divulgar informações sobre o assunto nesta sexta.
Procurada nesta sexta, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública informou que o delegado Paulo Dionísio, que investiga o caso, pediu nesta sexta a suspensão do sigilo no inquérito à Justiça. Ele só poderá falar com a imprensa se a Justiça suspender o segredo.
Desconfiança
Segundo Vandete, a desconfiança sobre o ex-marido de sua filha surgiu por acaso. ?Quando soube que minha filha foi assassinada, e que só haviam levado um celular e um rádio do carro, algo me disse que quem a matou a conhecia. Voltei para casa, peguei as fotos do casamento dela com o Alan e recortei o rosto dele. Também falei para o pai dele não deixá-lo ir ao velório da Lore?, disse a costureira. Lore foi sepultada em São Caetano do Sul.
A desconfiança sobre o ex-genro aumentou quando Vandete afirmou que reconheceu Alan em novas imagens do crime obtidas pela polícia. As cenas mostrariam o ex-marido de Lore dirigindo um carro Chevrolet Kadett vinho usado na fuga dos dois homens que ele teria pago para matar a universitária. O corpo dela foi encontrado no dia 13. ?Eu disse para a polícia que era o Alan?, afirmou.
Vandete e o marido, João Luis Vaz, 52, haviam dito que não desconfiavam do pai do neto deles, do ex-marido e do atual namorado de Lore no assassinato da filha deles. ?Só havia dito aquilo por orientação da polícia. Eu já desconfiava do Alan, mas os policiais me pediram para não falar nada dele para não atrapalhar as investigações?, explicou a costureira. Lore, que foi mãe aos 16 anos, tem um filho de 10 anos fruto do relacionamento dela com um outro homem. Quando completou 24 anos, se casou com Alan. Atualmente, namorava o o corretor de imóveis Vinícius Cândido Teixeira e trabalhava como modelo.
Antes da decretação do segredo no caso, a polícia havia divulgado à imprensa um vídeo gravado por câmeras de segurança que mostram o momento em que dois homens deixam o automóvel usado por Lore, um Fiat Uno, para voltar da União das Instituições Educacionais do Estado de São Paulo (Uniesp), em São Caetano do Sul, também no ABC.
Nas cenas, a dupla foge em um Kadett, que seria conduzido por Alan. Para a investigação, os outros dois homens que aparecem nas imagens são: Robert Pirovani Gama, 32, preso na madrugada desta sexta, e Raimundo Bezerra, 21, que é procurado e seria o dono do automóvel usado na fuga. O veículo foi localizado em São Bernardo do Campo. Cada um deles teria recebido R$ 1 mil para matar a estudante.
Motivação financeira
Informalmente, policiais que participam da apuração disseram à equipe de reportagem que a polícia esclareceu o crime. De acordo com a equipe do delegado Paulo Dionísio, Alan planejou e participou do assassinato dela. No entendimento da investigação, Lore teria sido morta por não dividir o dinheiro da venda da casa dos pais dela. Lore teve o pescoço e uma orelha cortados por uma faca e seus dentes estavam quebrados.
A mãe da estudante concordou com a tese de motivação financeira para explicar o violento crime, mas discordou que o problema fosse por conta de um imóvel.
?Quem a matou estava com muita raiva dela. Mas para mim, o real motivo do crime foi o fato de minha filha ficar cobrando dele R$ 3 mil a R$ 4 mil de um dinheiro que ela emprestou do banco para ele quando eram casados?, disse a costureira Vandete.
?O Alan havia pedido para Lore fazer esse empréstimo para que ele pegasse o dinheiro e arrumasse o seu carro. Depois do divórcio, ele pagou algumas prestações para ela, mas fazia um ano que não pagava. Como o banco passou a cobrar juros, Lore voltou a procurá-lo, mas ele não queria mais pagar o que devia a ela", completou.
Segundo Vandete, a persistência de sua filha em telefonar constantemente para o ex-marido deve ter irritado Alan. ?Eu sempre disse à ela para deixar de cobrar o dinheiro dele. Ele nunca a agrediu, mas era nervoso, e eu tinha medo de ele pegá-la e dar uns tapas nela?, afirmou. "Agora é esperar que a Justiça o condene pelo que fez, por ter tirado a vida da minha filha, destruído a nossa e, agora, a dele também".
A polícia tentará colher material genético dos dois suspeitos presos para comparar por meio de exame de DNA com as amostras de pele retiradas sob as unhas de Lore. Ela teria lutado com os criminosos e os arranhado.