Milícia mata motorista que não aceitou pagar taxa de R$ 400 para trabalhar

ooperativados se rendessem às exigências, o faturamento dos milicianos, só com a extorsão, chegaria a R$ 280 mil

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Milicianos que atuam na Zona Oeste do Rio demonstraram mais uma vez a ambição de controlar a Cooperativa Rio da Prata, uma das mais importantes da região, com 700 associados e linhas que cobrem de Cascadura a Santa Cruz. O cerco se fechou nos últimos meses por meio de agressões, ameaças e pagamento de taxas, que, de dezembro de 2012 para cá, saltou de R$ 200 para R$ 400 semanais. O último ato foi neste sábado, quando foi morto o motorista de van Rodrigo César da Conceição, de 37 anos, que não aceitou a extorsão.

Um cálculo simples pode mostrar o que está por trás da pressão da milícia. Se todos os cooperativados se rendessem às exigências, o faturamento dos milicianos, só com a extorsão, chegaria a R$ 280 mil, numa semana. Rodrigo, que não aceitou pagar a taxa de R$ 400, foi executada, com quatro tiros, às 21h30m de sábado, na Rua das Amoreiras, em Cosmos.

- O clima é de intranquilidade. Muitos não denunciam por medo, porque moram com seus familiares em área controlada pela milícia - afirmou um dirigente da cooperativa, acrescentado que mais de 30 profissionais já procuraram a polícia.

Rodrigo estava em uma lanchonete, no ponto final da linha que faz o trecho Cosmos-Cascadura, quando quatro homens armados chegaram em um Honda Fit. Um ficou no carro, dois do lado de fora, dando cobertura, e outro entrou e fez os disparos.

Dirigentes da cooperativa acreditam que o mandante seja o ex-PM Toni Ângelo, chefe de uma milícia local, que, desde 2012, tenta dominar o transporte de vans na Zona Oeste.

Draco já tem investigação de extorsões

As ameaças de milicianos a motoristas de vans da Cooperativa Rio da Prata já são alvo de um inquérito da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) desde outubro do ano passado.

Na ocasião, o titular da delegacia especializada, Alexandre Capote, afirmou que quem ordenava as extorsões era o ex-PM Toni Ângelo e que a polícia já estava empenhada na captura do criminoso. Ontem, a Secretaria de Segurança, em nota oficial, afirmou que a Draco "atua com rigor no combate a esses grupos e realiza operações frequentes na região".

Já a Coordenadoria Especial de Transporte Complementar, responsável por organizar a licitação das linhas de van do município, alegou, por meio de sua assessoria de imprensa, que até julho a regulamentação do transporte complementar vai ser definida. Ainda não há previsão para o lançamento do edital de licitação na Zona Oeste.

Em 2006, milícia fez a primeira vítima

Rodrigo da Conceição não foi a primeira vítima do interesse da milícia na Cooperativa Rio da Prata. Em 2006, Maurício Porto, também funcionário da cooperativa, foi assassinado em Realengo. Na época, um cabo que era lotado no Grupamento Especial de Policiamento do Complexo de Bangu foi preso acusado do crime. Segundo a polícia, ele e mais oito homens armados ligados à milícia levaram Maurício de um bar. O corpo do funcionário só foi localizado no dia seguinte.

Entretanto, não é só a milícia que cobra pedágio da cooperativa. Em 2005, 200 motoristas pararam de circular por dois dias porque não queriam obedecer as exigências do tráfico: R$ 9 mil mensais para poderem circular nas proximidades da Favela do Sapo, em Senador Camará. Sete motoristas que se recusaram a pagar a quantia tiveram seus carros roubados.

Três meses depois, um motorista da linha Campo Grande-Rio da Prata prestou queixa na 35ª DP (Campo Grande), afirmando que vinha sendo extorquido por uma milícia da Zona Oeste. Em depoimento, ele disse que precisava pagar R$ 44 por dia para trabalhar. Em março de 2007, nova paralisação: 150 motoristas acusaram o tráfico de cobrar pedágio para entrar em favelas.

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