A Justiça britânica inocentou na manhã desta segunda (18) a modelo catarinense Fernanda Guiguer, 29, acusada pelo ex-marido, Rafael Vieira, 29, de sequestrar a filha do casal, Rafaely, de 8 anos.
Ela estava presa desde 1º de novembro em Londres. Neste dia a Scotland Yard tirou a menina da mãe, no aeroporto de Heathrow, no momento em que elas se preparavam para voltar ao Brasil. Rafaely foi entregue ao pai, e Fernanda foi para a cadeia.
Os promotores desistiram da ação contra a modelo ao descobrirem que a denúncia era falsa. O que a princípio parecia sequestro internacional se revelou no tribunal apenas mais um episódio da trama de ciúme e mentiras do casal, iniciada no divórcio deles, em 2007, em Criciúma (200 km de Florianópolis). Fernanda foi libertada na sexta, e nesta segunda recebeu de volta seu passaporte, na corte de Wood Green.
O episódio londrinense da confusão começou em outubro. Rafaely estava visitando o pai quando ele soube que estava sendo processado pela mãe, na Itália, desde agosto. Aí, quando a mãe foi buscá-la, ele se recusou a entregar a menina.
Fernanda, com a ajuda do companheiro, o estudante baiano Wagner Santos, de 26 anos, pegou a criança à força e foi com ela para Milão, na Itália. Rafael correu à Scotland Yard e contou uma história fria, lançando a polícia na caçada de Fernanda - Wagner acabou preso junto na tentativa da viagem ao Brasil.
Indenização
Segundo a advogada Rosemari Patrizi, Fernanda agora tem direito a uma indenização por danos morais e físicos: a modelo abortou na cadeia, no Natal. Rafaely ainda está com o pai, funcionário de uma academia. Fernanda não pode vê-la enquanto não receber a sentença italiana, esperada para março.
"Meu ex mentiu para a Scotland Yard e me acusou de sequestro porque nunca aceitou nossa separação", disse Fernanda, em entrevista por telefone na madrugada desta segunda-feira (18). "Estávamos separados, mas sempre tive a guarda filha. Quando ele soube que eu ia casar de novo com Wagner, surtou de ciúme e fez a acusação falsa contra mim", disse.
A advogada Patrizi, que atua na Itália há 25 anos, disse que "Fernanda teve uma perda biológica e moral com a acusação injusta do ex-marido, ela tem direito a reparação econômica dos danos pela Coroa (no Brasil, o equivalente à União), que demorou em descobrir a verdade".
Segundo Patrizi, "as leis internacionais protegiam a mãe no processo na Itália, mas a polícia inglesa ignorou tudo na apuração da denúncia e jogou uma mulher inocente e grávida na cadeia".
Namorados na adolescência
Pelo relato de Fernanda, ela e Rafael se conheceram na adolescência, numa balada perto do estádio do Criciúma. O casamento foi em 2003. Rafaely nasceu no ano seguinte. Ela pediu o divórcio porque "ele me traía, não dava um tostão em casa, me fartei".
"Rafael mentia tudo. Dizia que era jogador de futebol. Falhou nas peneiras do Avaí, do Criciúma e do Marcílio Dias, sem nunca conseguir seguir uma carreira na bola. Virou garçom, mas continuava com as mentiras de que era boleiro".
Em 2007, depois do divórcio, Rafael obteve cidadania italiana e mudou-se para Londres. Fernanda ficou com a guarda de Rafaely, e as duas continuaram no Brasil. Em 2010, a mãe também obteve cidadania, mudando-se com a filha para Milão.
Loira de olhos azuis, com 1m55 de altura e 50kg, Fernanda sonhava em seguir uma carreira na fotografia de moda. Por dois anos, trabalhou fazendo drenagem linfática numa clínica italiana.
Enquanto Fernanda esteve na cadeia, Rafael distribuiu fotos dela nua na internet acusando-a de se prostituir na frente da filha. Wagner foi descrito na rede por Rafael como sendo michê.
"Pagar as contas"
As fotos comprometedoras "foram feitas para uma agência de modelos francesa", disse Fernanda. "Estavam no meu Facebook, acessível apenas aos amigos, mas ele veio na minha casa, usou meu computador, roubou as fotos e jogou tudo na rede".
Ela disse que estava modelando desde janeiro de 2012 "porque precisava pagar as contas". Quanto às fotos nua disse que "a baixaria vai por conta de Rafael, aqui na Europa a primeira coisa que uma modelo vai ter que fazer é tirar a roupa, ninguém vai querer te contratar se você não estiver com tudo no lugar".
Fernanda explica que o trabalho era só de "acompanhante em festas e eventos". Segundo ela, "sem nunca precisar transar com os clientes, não é como no Brasil", defende-se. "Até recebi ofertas, uma delas de 10 mil euros, mas nunca aceitaria esta vida".
Fernanda disse que a acusação do ex-marido é fruto de ciúmes: "Ele vinha me pedindo para reatar, mas eu já estou noutra". Rafael Vieira foi procurado pela reportagem por emails e telefonemas. Não houve retorno.