As rotinas de moradores acabam sendo afetadas pela falta de segurança que aflige a todos, sejam ricos ou pobres. As ocorrências são diárias e moradores não se atrevem a andar em determinados horários, e utilizam artimanhas para se defender.
Segundo relatório do 5º Batalhão da Polícia Militar, até o mês de agosto foram 25 armas de fogo apreendidas. Armas estas que são utilizadas em boa parte das vezes para realizar assaltos a pessoas comuns, ou outros crimes.
De acordo com levantamento do Ronda Cidadão na Zona Leste, no mês de agosto, foram quatro armas de fogo apreendidas, o que é considerado um bom número, visto a dificuldade que existe para tal apreensão.
Este foi o caso do ex-morador da Zona Leste, Tiago Lima. O advogado conta que, na maioria das vezes, os crimes, na casa de seus pais do Novo Jóquei, são praticados com armas de fogo.
Conta que certa vez, ao abrir o portão de sua casa, um assaltante invadiu sua casa e assaltou sua família. Outra vez também a família foi surpreendida com tiros na porta de sua casa, quando uma vítima tentou reagir a um assalto.
Segundo o capitão Overath Tales, do Ronda Cidadão, os principais fatores ligados à violência na Zona Leste da capital estão relacionados ao tráfico de drogas.
Além de desencadear o comércio ilegal, este fator, segundo capitão Tales, faz com que usuários acabem realizando furtos para dar conta do vício. Isto acaba também levando a um número crescente de homicídios.
Segundo dados do Ronda Cidadão, no mês de agosto foram feitas duas apreensões de drogas. A primeira delas, foram dez trouxas de maconha e 12 volumes de crack no Conjunto HBB.
A segunda, foram apreendidos 20 pacotes de crack mais quatro tijolos de uma substância branca, que segundo especialista, é cloreto de sódio utilizado para misturar a outras drogas, isto no Portal da Esperança.
As causas externas, consideradas como homicídios e acidentes de trânsito, chegam a 90% de internação e mortes na faixa etária de 14 a 25 anos. O quadro é uma realidade nos 50 maiores municípios do país.
Dados são do Ministério da Saúde, que já considera a violência como problema de saúde pública. Embora não seja um problema específico da área da saúde, uma vez que é resultado de uma complexa interação de diversos fatores, que podem ser individuais, sociais, econômicos, culturais, dentre outros.
Grandes vazios acabam por tornar locais perigosos
A violência na Zona Leste tem modificado os costumes dos moradores, inclusive fazendo com que estes não habitem mais as ruas, escondendo-se cada vez mais por trás de grades e cercas elétricas. A estudante Lorena Lee é uma das poucas pessoas que ousam fazer o percurso de casa até a universidade a pé, ou para outros lugares.
"Penso que o que deixa mais as ruas perigosas é a falta de pessoas nas ruas, além disso, a estrutura física das ruas, como são largas, acabam provocando uma sensação ainda maior de vazio. A segurança também é pouca. Tudo isto vai tornando o local perigoso", diz Lorena Lee.
A estudante mora no Bairro Ininga e durante trajeto até a Universidade Federal do Piauí (UFPI), que costuma fazer a pé, foi surpreendida por um assaltante de moto, que a abordou, mas ela conseguiu correr. Ela considera o local muito perigoso e que o número de segurança não dá conta de proteger a população.
Os assaltos em geral ocorrem com utilização de motos roubadas. Quanto a isto, o capitão Tales relata que este mês de agosto foram cinco veículos apreendidos, dentre eles, quatro motos. Segundo Tales, estas motos são roubadas para realizar ações de furtos, roubos e de tráfico e depois são jogadas em terrenos baldios.
Furtos nos bairros da Zona Leste têm preocupado a polícia
Capitão Tales, que associa o número crescente de furtos também relacionado ao tráfico, já que usuários procuram um meio de alimentar o uso das drogas, conta que furtos em locais mais nobres da Zona Leste, como Bairro de Fátima e Jóquei, têm trazido uma preocupação, no sentido de contenção dos atos.
O capitão conta que atualmente estuda-se um plano com o policiamento geral para tentar coibir os atos. O plano, que é conjunto com a Polícia Militar, prevê que se aumente mais quatro viaturas para as regiões mais problemáticas.
A publicitária Iasminne Forte é um destes casos de assalto na região. Ela conta que estava caminhando nas proximidades do shopping com sua amiga e foi abordada por um jovem de moto e armado. A jovem mora na Morada do Sol e relata que toda a sua família já passou pela horrível experiência de ser assaltada.
"Nós mudamos muito nosso hábito por conta disso, esta região tem relatos de assalto todo dia. Penso que o policiamento não é suficiente para dar conta de tantas ocorrências.
Tomo algumas precauções antes de sair de casa, como não andar com muita coisa e, às vezes, nem celular eu levo quando saio", diz Iasminne.
Durante o mês de agosto foram realizadas 35 conduções ao Distrito Policial, apenas levando em conta as conduções do Ronda Cidadão. Destas, figuram infrações como roubos, furtos, lesão corporal, violência doméstica, tráfico de drogas e resistência e desacato.
Capital Tales conta que a estratégia utilizada pelo Ronda Cidadão até aqui tem sido aproximação com a comunidade, na tentativa de diminuir o fosso entre esta e a polícia.
A estratégia procura também localizar onde está o tráfico de drogas. "Temos utilizado medidas educativas, já que a polícia comunitária procura não agir na repressão, procuramos um tratamento mais humanizado", diz.