"Quem estava sendo maltratada era eu, que sofria ao ver minha filha entregue às drogas. Eu prendi ela em casa por amor. Eu fiz isso pelo bem dela". Este foi o desabafo da auxiliar de cozinha, de 43 anos, que irá responder por maus-tratos por ter acorrentado a filha usuária de drogas, de 17 anos, em casa por 43 dias, na Zona Norte de Sorocaba (SP).
O caso veio à tona após a Guarda Civil Municipal receber uma denúncia anônima de que a mulher mantinha a jovem presa a uma corrente. Uma equipe foi ao local com o Conselho Tutelar e encontrou a jovem acorrentada pelo tornozelo, presa a um guarda-roupa.
Em entrevista nesta terça-feira (20), a mãe - que pediu para não ter a identidade revelada - contou sobre o sofrimento de lidar com o vício da filha, alegando que prendê-la foi um ato de desespero. Segundo a mulher, a adolescente corria perigo se permanecesse nas ruas, por continuar consumindo drogas e por ser cobrada por traficantes de uma dívida de R$ 2 mil.
"Não me sinto mal pelo que fiz. Eu fiz uma coisa que eu tinha que fazer para o bem da minha filha. Se precisasse, eu faria de novo. Uma pessoa quando quer usar drogas, ainda mais uma adolescente, é capaz de qualquer coisa", desabafa a mãe.
'Estava acorrentada, mas estava segura'
Assim que o caso foi descoberto, a GCM e o Conselho Tutelar levaram a auxiliar de cozinha a um plantão policial da cidade, onde a ocorrência foi registrada e o delegado a autuou por maus-tratos. Como o crime não cabe prisão em flagrante, a mulher vai responder ao processo em liberdade.
No mesmo dia, a jovem foi recolhida a um abrigo mantido pela Prefeitura de Sorocaba para receber os cuidados necessários. Porém, depois de três dias a adolescente fugiu, e foi a mãe que a encontrou vagando pelas ruas da cidade, totalmente desorientada.
"Foi desesperador encontrá-la daquele jeito. Tiraram ela de mim, armaram toda aquela confusão, para depois eu encontrá-la assim na rua? Se não fosse um vizinho meu avisar que a viu vagando, eu nem ia ficar sabendo que ela tinha fugido. Eu me senti pior do que já estava. Comigo ela estava acorrentada, mas estava segura, sob o meu olhar."
A mãe conta que tentou levá-la a um hospital ou mesmo para o Conselho Tutelar, mas que, por conta do feriado prolongado da semana passada, não encontrou ninguém para lhe ajudar. Diante da situação, foi embora com a filha para casa. Ela admite que pensou em acorrentar a jovem novamente para evitar uma fuga, mas desistiu por conta da repercussão do caso.
No entanto, a adolescente fugiu novamente no fim de semana e a mãe, de novo, conseguiu resgatá-la. Somente no domingo (18) a adolescente foi internada na Santa Casa de Sorocaba, segundo a mãe, onde passa por um processo de desintoxicação, enquanto aguarda uma vaga em uma clínica especializada no tratamento de dependentes químicos.