Anna Carolina treme de frio na tamb?m fria sala de reuni?o da Penitenci?ria Feminina da cidade paulista de Trememb?. Veste-se a car?ter, e isso ? s? um eufemismo para se dizer que Anna Carolina Jatob?, Carol para os amigos, Guigui desde a inf?ncia para os seus pais, est? vestida de cal?a bege e camiseta branca, implac?vel uniforme de quem est? preso. No pulso direito, um ter?o com continhas brancas de pl?stico faz a vez de pulseira. Ela se aquece com uma blusa cinza, um senhor empresta-lhe um xale preto. Anna Carolina chora, mas as l?grimas n?o impedem que seu olhar mergulhe direta e profundamente nos olhos de seu interlocutor. O frio, o choro e o olhar firme, ? palp?vel que no final da manh? da quarta-feira 5 ela se sentia uma pessoa solit?ria - mas corajosa.
Almo?ara a comida servida na cadeia: arroz, feij?o, carne de panela e beterraba. Anna Carolina mora numa cela com oito presidi?rias e n?o desfruta de nenhum privil?gio. ? uma a mais entre as 178 presas da institui??o prisional.
Alexandre Nardoni est? com frio na Penitenci?ria Masculina da mesma cidade de Trememb?, mais ou menos cinco quil?metros distante de sua mulher. Agora ? metade da tarde e para os que vivem do "lado de c?" o dia j? esquentou um pouco - mas as cadeias s?o sempre geladas. Alexandre chora, e com l?grimas nos olhos, se chega raras vezes a baixar o rosto, o levanta imediata e corajosamente para responder a qualquer pergunta que lhe seja feita. Tamb?m o seu traje ? cal?a bege e camiseta branca, tamb?m a comida que come ? aquela servida na cadeia, tamb?m divide a cela com outros presos, tamb?m n?o possui nenhuma regalia (um de seus companheiros de cela ? Marcos Mantovani, acusado de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro do BNDES). Enfim, tamb?m ele ? apenas mais um detento entre os 380 que est?o nessa penitenci?ria. No ato de se estar frente ? frente com Alexandre, e ele jamais desvia o olhar enquanto conversa, decifra-se um enigma, o da boca: um leve sorriso, que algumas vezes se sup?s ver em fotos e imagens de televis?o, n?o ? sorriso - ? reflexo da conforma??o de sua arcada dent?ria superior.
O casal Anna Carolina e Alexandre est? preso preventivamente sob a acusa??o de ter assassinado no final de mar?o, em S?o Paulo, a garotinha Isabella, de cinco anos - a menina ? filha somente dele. O Tribunal de Justi?a julga nessa ter?a-feira 10 o m?rito do habeas- corpus que pede a soltura de ambos e a Justi?a j? trabalha com a hip?tese de libert?-los. ? certo que nesse tipo de recurso n?o se discutem provas, mas, isso sim, se a pris?o preenche requisitos t?cnicos. Ocorre, por?m, que vieram a p?blico discrep?ncias que h? entre os pr?prios documentos oficiais. O laudo da necropsia do IML, segundo peritos, ? impreciso ao fixar duas causas para a morte de Isabella (esganadura e politraumatismo). Motivo: isso ? biologicamente imposs?vel. O mesmo laudo oficial descarta a possibilidade de esganadura ao relatar que "com rela??o ao osso hi?ide (pesco?o) n?o foram observadas fraturas". Mais: falouse que as marcas no pesco?o da menina eram compat?veis com as m?os de Anna Carolina, mas agora se sabe que n?o existem tais marcas. Como a den?ncia do Minist?rio P?blico contra Anna Carolina ? por esganadura, essa den?ncia tem tudo para deixar de existir.
Tamb?m em rela??o a Alexandre o laudo da per?cia come?ou na semana passada a suscitar d?vidas nos meios jur?dicos. A tela de prote??o na janela do apartamento, cortada e atrav?s da qual Isabella foi atirada, acabou sendo retirada do local do crime pela pol?cia, durante a investiga??o, e levada a laborat?rio. Foi ent?o remontada numa simples moldura de madeira, sendo que algu?m precisava segurar a moldura para que ela n?o ca?sse enquanto o perito testava pontos de coincid?ncia entre manchas na camiseta de Alexandre e o rasgo na tela - ao jogar a filha, ele teria sujado a camiseta. Tecnicamente, isso ? totalmente discrepante da posi??o, press?o e resist?ncia da tela em seu lugar de origem - dela sobravam pontas