Não é difícil achar a mais nova (e já a maior) cracolândia da cidade. Na Avenida Brasil, basta olhar, na altura da Ilha do Governador, para a Avenida Brigadeiro Trompovsky, para enxergar um muro azul, todo pichado, com cerca de um quilômetro de extensão. É ao longo dele, que termina num descampado com poucas árvores, que têm se reunido diariamente quase 300 usuários da droga, consumida a céu aberto e, na quarta-feira, a poucos metros de um carro de polícia. Além de enorme, a cracolândia também exibe outro superlativo: é a mais violenta do Rio. Na última segunda-feira, equipes da Secretaria municipal de Assistência Social foram recebidas a pedradas.
Assim que chegaram ao local, assistentes sociais e psicólogos conseguiram conversar com alguns usuários. Mas, em poucos minutos, tiveram que sair às pressas: pedras voavam em direção aos carros. Drogados, homens e mulheres faziam ameaças com estiletes e facas de cozinha, mesmo na presença de policiais militares. Na confusão, alguns consumidores de crack correram em direção à Favela Parque União, ao lado. Acabaram expulsos de lá, não se sabe se por traficantes, com pedras e pedaços de pau.
? Foi um horror. Nunca tínhamos enfrentado situação parecida ? disse um dos agentes que participaram da ação.
O local já era há algum tempo um ponto de encontro de usuários de crack, mas ganhou fôlego nos últimos dias. Para o endereço migraram os usuários expulsos pela pacificação do Jacarezinho, os mesmos que tentaram transformar o espaço entre tapumes da Transcarioca, na entrada da Ilha, em ponto de consumo.
Venda da droga aumenta
A quantidade cada vez maior de usuários de crack ? até passarelas na Avenida Brasil foram ocupadas por viciados ? tem feito fervilhar o comércio da droga no local. Na quarta-feira, era possível ver uma banca improvisada de venda de pedras de crack. Diante dela, usuários, um deles de muletas, faziam fila. Também floresce de vento em popa na região a venda de copos de água, a R$ 0,50 cada. Como mostrou na quarta o RJ TV, da Rede Globo, não é a sede que move os usuários: eles compram a água para usar os copos descartáveis como cachimbo para queimar a droga. Por alguns centavos a mais, usuários se oferecem para fazer a adaptação.
A Secretaria de Assistência Social informou que deve voltar ao local na próxima semana. Na segunda-feira, agentes conseguiram recolher 20 adultos e cinco adolescentes, que procuraram a equipe de forma voluntária.
Segundo a secretaria, o Rio tem cerca de três mil usuários de crack, mas as estimativas do Ministério Público são bem mais altas: cerca de seis mil pessoas. Há atualmente 716 vagas para internação e tratamento de usuários, mas a prefeitura tenta ampliar a rede e ter mais 600 novas vagas.
A secretária de Assistência Social, Fátima Nascimento, reuniu-se na quarta-feira com promotores do Ministério Público, que, na terça, haviam dito ser ilegal a ideia do prefeito Eduardo Paes de internar compulsoriamente adultos usuários. Em nota, a secretaria disse que ?o modelo de internação involuntária estudado pela prefeitura em parceria com o Ministério da Saúde terá todo o respaldo legal, inclusive com consulta ao MP?.