O padre José Afonso Dé, de 74 anos, suspeito de práticas de pedofilia contra jovens entre 12 e 16 anos de Franca (SP), foi indiciado pela delegada Graciela Ambrosio, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), no final da noite de ontem, após oito horas de depoimento. Os crimes atribuídos ao religioso são de estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude (atos libidinosos praticados pelo pároco de forma inesperada, abusando da confiança que ele tinha).
A delegada deverá fechar o inquérito policial até sexta-feira. O advogado de defesa do padre, Eduardo Caleiro Palma, afirmou que seu cliente é inocente das acusações e irá provar no final do processo, caso a Justiça continue o caso. Os meninos, vítimas do padre, praticamente silenciaram por ordens dos pais.
Apesar da restrição, um dos garotos, de 14 anos, disse à reportagem do Estado que o indiciamento de padre Dé é merecida. "Sei que ir para a cadeia, por causa da idade dele, é difícil, mas ele merecia ser preso", disse o menino, que mora nas proximidades da Paróquia São Vicente de Paulo, no Jardim Tropical 1.
O menino foi intimado a depor na DDM, mas nem imaginava o motivo. Só foi saber do teor do inquérito na delegacia, assim como seus pais. Ele não havia comentado com os pais sobre as atitudes de padre Dé. Apenas havia informado a um padre, que respondeu que seria uma possível brincadeira do sacerdote. "Ele me pediu para não comentar com ninguém, pois o padre Dé estava meio velho", relatou o garoto.
Inicialmente, a delegada ouviu quatro garotos que ajudavam o padre nas missas. Mas surgiram mais três adolescentes. Um deles, de 16 anos, morou na casa do padre, que o teria beijado na boca. Ele seria um "vocacionado" para a vida religiosa. Depois de três semanas, decepcionado, o adolescente voltou a morar com os pais. A mãe dele o impede de falar com a imprensa. "Pelo que ele (Dé) está vivendo, já está sofrendo", disse a mãe.
Padre Dé foi afastado de suas funções religiosas pelo bispo Pedro Luiz Stringhini até o final do inquérito. A paróquia onde atuava fica ao lado de uma praça, com intensa movimentação de crianças, que se surpreenderam com as denúncias, assim como os moradores, que evitam falar do assunto devido à amizade com o sacerdote. Um menino de 10 anos, coroinha, ajudou Dé, e se espantou com as notícias. Ele também afirmou que nunca teve problemas com Dé e disse que o padre sempre brincava com as crianças.
A delegada ouviu mais de 20 pessoas no inquérito, sendo sete supostas vítimas jovens, além de dois ex-seminaristas, já adultos. As semelhanças e coerência dos relatos levaram Graciela a indiciar o pároco. Palma destacou que considerou contraditórios os depoimentos das supostas vítimas do padre. O advogado espera, agora, que o bispo libere o padre para voltar às suas funções. "O afastamento foi uma medida de proteção, mas se tornaria uma punição antecipada caso o padre Dé seja absolvido no futuro", disse Palma. Padre Dé está em casa de amigos.