PF cita Petrobras no caso Camargo

Quatro executivos da Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do Brasil, foram presos

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Quatro executivos da Camargo Corrêa, uma das maiores empreiteiras do Brasil, foram presos nesta quarta-feira (25), sob suspeita de terem feito remessas ilegais de dinheiro para o exterior. No total, dez pessoas foram presas pela Polícia Federal na operação Castelo de Areia.

Pela manhã, policiais federais vasculharam a sede da construtora. Eles buscavam provas para reforçar a investigação sobre supostos crimes financeiros, que foi centrada em um dos presos, o consultor financeiro Kurt Paul Pickel, suíço naturalizado brasileiro. O relatório da Polícia Federal diz que ele é tido como coordenador e intermediário de operações ilegais de câmbio, de envio de grandes quantias para o exterior e de eventual lavagem de dinheiro - tudo em benefício da Camargo Corrêa ou de diretores da empresa, à margem da fiscalização dos órgãos competentes. “Pela experiência que nós temos em crimes financeiros, apresentam indícios de que a origem, ou não era contabilizada, ou não era de origem lícita”, diz o delegado da Polícia Federal José Alberto Iegas.

Segundo a investigação, Kurt seria ligado a quatro diretores da Camargo Corrêa que tiveram a prisão decretada: Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato, Pietro Bianchi e Raggi Badra Neto. O delegado Otávio Rosso escreveu: “Kurt seria o elo entre os diretores da Camargo Corrêa e os doleiros sediados no Brasil, Uruguai e países da Europa.” Transações Os doleiros brasileiros teriam feito operações a partir de São Paulo e do Rio de Janeiro, por intermédio de empresas fantasmas. Eles foram identificados como José Diney Matos, Jadair Fernandes de Almeida e Maristela Brunet, também presos nesta quarta. As transações financeiras, segundo relatório da polícia, tinham aparência de legalidade, eram feitas por meio de banco oficial e a pretexto de pagamento de fornecedores, mas o dinheiro era pulverizado no exterior.

O trabalho da polícia foi baseado em escutas telefônicas, escutas ambientais e no controle de correspondências - tudo com autorização judicial. Segundo a investigação, o teor das interceptações constitui um indício de que, por trás dos supostos crimes financeiros, haveria corrupção envolvendo partidos políticos de expressão nacional e obras públicas executadas pela Camargo Corrêa. Obra Segundo a polícia, numa das conversas gravadas, um dos diretores da construtora pede urgência no transporte de dinheiro vivo para o Recife. O delegado relaciona o pedido de dinheiro a indícios de superfaturamento para a construção da refinaria Abreu e Lima, também conhecida como Refinaria do Nordeste. A refinaria está sendo construída em Suape (PE). O dinheiro é da Petrobras e a execução, de um consórcio de empresas, entre elas a Camargo Corrêa. O relatório policial faz referência a uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre superfaturamento na obra e cita suposto prejuízo ao erário público no valor de quase R$ 72 milhões entre março e abril do ano passado. "Chamam atenção as ligações telefônicas interceptadas exatamente no mesmo período", escreveu o delegado.

O juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, completou: “Há uma enorme coincidência de dados e precisam ser devidamente aprofundados.” Partidos e Fiesp O magistrado menciona o relatório da policia: numa das conversas entre dois diretores da construtora, o assunto teria sido a suposta divisão de R$ 500 mil entre duas pessoas. No mesmo parágrafo, o juiz diz: “constaria distribuição de dinheiro a diversos partidos, como PPS, PSB, PDT, DEM e PP”. Também são citados o PSDB e PS, este último não aparece na lista de partidos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No relatório, o delegado também afirma que um dos diretores da Camargo Corrêa teria inclusive um pen drive com uma lista de contribuições eleitorais em que constariam os indivíduos que teriam sido pagos. E o juiz complementa: os supostos intermediários da Camargo Corrêa seriam pessoas eventualmente vinculadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que estariam encarregadas de distribuir o dinheiro para funcionários públicos que ocupam cargos relevantes em Brasília. Seriam pagamentos “por fora”, destinados a campanhas políticas e à obtenção de "benefícios indevidos em obras públicas". “Fica claro que algumas doações que foram efetuadas realmente não estavam contabilizadas por parte do grupo Camargo Corrêa e que tinham a finalidade de beneficiar partidos políticos eventualmente em troca de favores futuros ou atuais”, afirma a procuradora da República Karen Kahn.

Segundo a polícia, R$ 1,5 milhão foi apreendido com um doleiro no Rio. Em São Paulo, as secretárias de dois executivos presos também tiveram prisão decretada. No caso delas, a prisão é por cinco dias. O que dizem as instituições citadas pela PF O advogado da empreiteira disse que empresa foi pega de surpresa e que não sabe o porquê das diligências. Ele afirmou, no entanto, que a Camargo Corrêa irá cooperar com todas as investigações e que está certa de que sua isenção será demonstrada. Ele reiterou que a empresa confia na Justiça. Em nota, a empreiteira disse que “vem a público manifestar sua perplexidade diante dos fatos ocorridos" e que "cumpre rigorosamente com todas as suas obrigações legais, gerando mais de 60 mil empregos no Brasil e em 20 países em que atua." Segundo a Camargo Corrêa, em 2008, o grupo faturou cerca de R$ 16 bilhões, "gerando riqueza ao país e às comunidades em que suas empresas estão inseridas".

O grupo reafirmou que confia em seus diretores e funcionários e que repudia a forma como foi constituída a ação, "atingindo e constrangendo a comunidade Camargo Corrêa e trazendo incalculáveis prejuízos à imagem de suas empresas". Em nota, a Fiesp declarou que não se envolve em relações entre as empresas que representa e os partidos políticos e candidatos. A Fiesp acrescentou que não teme qualquer investigação e que confia na Justiça. A assessoria do PP afirmou que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada ao TSE. O PSDB declarou que, em diversas campanhas eleitorais, recebeu doações da empresa Camargo Corrêa dentro da lei e que desconhece empresa ou doador que tenha atuado fora dos limites legais.

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