O tenente da PM Iranildo Félix, apontado pela Polícia Civil como suspeito de ter matado a tiros o professor e lutador de MMA Luiz de França Trindade, de 25 anos, assassinado no início da semana na zona Sul de Natal, alega que foi alvo de um atentado no final da manhã desta quarta-feira (12) quando teria sido perseguido por dois homens em uma motocicleta. A informação é da advogada Juliana Melo, que defende o oficial. Ao site, ela revelou que fato aconteceu logo após o oficial ter deixado o Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep), no bairro da Ribeira, onde foi submetido a um exame residuográfico que pode identificar a presença de chumbo nas mãos dele.
?Ontem à tarde, quando ele tava saindo do Itep, ele sofreu um atentado. Tentaram matar ele. Ele contou que foi seguido por dois homens numa moto, que emparelharam com o carro dele. Quando ele percebeu que o cara de trás colocou a mão na cintura, ele jogou o carro em cima da moto. A moto desviou e foi embora?, disse a advogada.
Ainda de acordo com Juliana Melo, após o ocorrido o tenente procurou o comandante geral da PM, coronel Francisco Araújo, e comunicou o fato. O comandante confirmou a informação. ?Ele chegou aqui muito eufórico, nervoso. Disse que tinha sofrido um atentado e que queria uma arma e um colete à prova de balas para se defender. Eu o encaminhei para um promotor criminal, que ficou de ouvi-lo nesta quinta-feira?, contou Araújo.
Superdosagem
Além de confirmar o suposto atentado, o comandante geral da PM também revelou ao G1 que o tenente Iranildo Félix foi socorrido a um hospital particular da cidade após ter ingerido uma alta dosagem de medicamentos. Segundo informações do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que prestou o socorro, o oficial foi atendido na noite desta quarta-feira (12). O comandante não soube dizer se o tenente permanece internado ou se já retornou para casa.
O Samu não revelou que tipo de medicamento o tenente consumiu nem soube dar detalhes sobre o estado de saúde dele. Já o coronel, afirmou apenas que o oficial encontra-se pela junta médica, afastado das atividades policiais há dez meses, em razão de problemas psicológicos.
O crime
Luiz de França Sousa Trindade, de 25 anos, foi assassinado a tiros por volta das 9h da manhã da segunda-feira (10) na calçada da academia Alta Performance, que fica na rua Serra da Jurema, no conjunto Cidade Satélite, zona Sul de Natal.
O lutador levou vários disparos de pistola e morreu no local. O professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como "Júnior Sustagen", também foi baleado na perna, mas passa bem. Em entrevista exclusiva ao G1, o professor disse que teve sorte de não ter se ferido gravemente e pediu justiça.
Segundo testemunhas, o suspeito de efetuar os disparos fugiu numa moto acompanhado de outro homem.
Perícia
Na manhã desta quarta (12), o tenente Iranildo Félix realizou exames que podem identificar se há vestígios de chumbo nas mãos dele. Ele foi ao Instituto Técnico-Científico de Polícia (Itep) acompanhado de outros dois policiais militares. Contudo, mesmo que seja positivo, o resultado poderá ser questionado pela defesa do oficial. ?É um resultado que é considerado discutível, já que ele é um policial militar que manuseia arma com frequência?, explicou a perita Lydice Guerra, subcoordenadora de Criminalística do Itep. O tenente nega qualquer envolvimento no crime.
?A informação que nós temos é que ele está de licença médica, e que não poderia sair armado. Mas, em casa, ele tem total liberdade de mexer na arma na hora que bem entender?, acrescentou a perita. A arma do tenente, segundo o delegado que investiga o caso, não foi apreendida ou periciada. ?A arma dele é uma pistola 380. O calibre das balas que mataram o lutador são de pistola calibre ponto 40?, ressaltou Sílvio Fernando.
Ainda de acordo com o perita do Itep, o resultado do exame de residuograma de chumbo, também conhecido como exame residuográfico, deve ficar pronto em no máximo 10 dias. Para a polícia, a coordenadora acredita que o resultado da perícia será usado no processo apenas como presunção.
Investigação
Segundo o delegado Sílvio Frenando, titular da 11ª DP, o tenente Iranildo Félix foi visto com uma roupa parecidas com a do motociclista que efetuou os disparos contra o lutador Luiz de França. "Conversei com um policial militar no dia do crime e foram dadas as mesmas características que ouvi da testemunha que presenciou o crime", afirmou.
Ainda de acordo com o delegado, o policial militar teria visto o tenente logo cedo na Companhia de Polícia Militar do bairro Planalto, zona Oeste de Natal, utilizando um moleton verde e uma bermuda antes do horário do crime. "O PM não soube explicar por qual motivo o tenente estava lá, já que ele está afastado e é lotado no CPRE (Comando do Policiamento Rodoviário Estadual)", diz. As características batem com o que foi dito em depoimento pelo professor de artes marciais Ademir Júnior, conhecido como "Júnior Sustagen", que foi baleado nas pernas durante o atentado. Em entrevista o professor disse que teve sorte de não ter se ferido gravemente e pediu justiça.
O titular da 11ª Delegacia de Polícia Civil adianta que vai convocar o policial militar que viu o tenente na manhã do dia do crime para prestar depoimento. Além de "Júnior Sustagen", o delegado também ouviu nesta terça os donos da academia Alta Performance.
O delegado Sílvio Fernando trabalha com duas linhas de investigação até o momento. Uma delas é que o crime pode ter sido motivado por uma traição. ?Podemos estar diante de um crime passional. Temos informações de que o lutador teria se envolvido com a namorada do tenente?, afirmou.
A outra suspeita da Polícia Civil é que um desentendimento entre o PM e o lutador de MMA possa ter motivado o crime. A defesa do tenente Iranildo Félix confirma que os dois se desentenderam, mas alega que o caso não foi grave. "Houve um desentendimento, mas nada muito grave. Não houve discussão mais pesada, nem agressão física", explica a advogada Juliana Melo.
De acordo com a defesa, o policial fez uma aula experimental no fim de janeiro na academia Alta Performance, onde o lutador foi assassinado, porém não gostou do treinamento. A advogada diz que quando foi para o segundo treino o tenente decidiu não continuar e por já ter feito o pagamento adiantado da mensalidade, teve o dinheiro devolvido. "A mudança foi para uma academia da mesma rede. Se tivesse sido expulso, o oficial não poderia fazer isso", acrescenta.
Ainda segundo Juliana Melo, o tenente acredita que foi apontado como suspeito do crime devido ao desentendimento na academia e pelo fato de ser policial. "Os dois não tiveram mais nenhum tipo de contato após esse desentendimento. O oficial inclusive bloqueou a vítima nas redes sociais para não ter mais contato", afirma a advogada.
"Álibi fraco"
O tenente Iranildo Félix prestou depoimento ainda na segunda-feira e foi liberado em seguida. O álibi apresentado pelo oficial não convenceu delegado Sílvio Fernando. No depoimento, o policial afirmou ter ido a uma outra academia por volta das 8h. No entanto, segundo o delegado, a biometria e as câmeras do local mostram que o oficial da PM chegou às 10h08, logo após o assassinato ter acontecido. "O crime ocorreu antes das 10h", afirma Sílvio Fernando. "Os percursos e os horários informados por ele não batem. O álibi é muito fraco", acrescentou o delegado.
Apesar de não ter sido convencido pelo depoimento, o delegado explica que ainda não tem elementos suficientes para indiciar o oficial da PM.