Os policiais militares João Bernardo da Silva e Jorge Kazuo Takiguti foram inocentados na noite desta quinta-feira (17) em júri popular da acusação dos assassinatos de Roberth Sandro Campos Gomes, o Maranhão, e de Roberto Aparecido Ferreira, o Bebê. As vítimas foram mortas em 6 de maio de 2008. A sentença foi proferida pelo juiz Antonio Augusto Galvão Hristov por volta das 23h55 no fórum de Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, onde o julgamento dos réus foi realizado. O promotor saiu sem dar entrevistas, mas ainda pode recorrer da decisão.
O processo que apura a morte de Maranhão e Bebê também apontou o envolvimento de outro quatro policias militares nos crimes e que são réus presos: Marcos Aurélio Pereira Lima, Ronaldo dos Reis Santos, Rodolfo da Silva Vieira e Jonas Santos Bento. Este último, Bento, também iria ser julgado nesta quinta, mas como seu advogado faltou à audiência, por motivo de saúde, o júri dele ocorrerá em 1º de novembro. Por esse motivo, ele, que também nega o crime, foi retirado da sala e levado ao presídio.
Os outros três policiais militares citados acima, Lima, Santos e Vieira, confessaram participação na morte de Macarrão e Bebê e serão julgados em 15 de setembro.
Esse é o segundo julgamento envolvendo o grupo de policiais que ficou conhecido como "highlanders". No primeiro julgamento, Vieira e outros três policiais militares foram condenados em julho de 2010 a 18 anos e oito meses de prisão pela morte de um deficiente mental.
Os "highlanders" só foram identificados depois do desaparecimento dessa vítima. Ela foi vista por testemunhas sendo colocada em um carro da PM em outubro de 2008. O corpo dele foi localizado dois dias depois sem a cabeça e as mãos. As vítimas moravam na capital, mas foram achadas mortas em Itapecerica da Serra.
Até agora, nove réus estavam presos acusados de integrar o grupo de extermínio e de matar três pessoas. O nome "highlander" surgiu em alusão ao filme estrelado por Christopher Lambert e Sean Connery na década de 80, no qual os guerreiros cortavam a cabeça de seus inimigos. Segundo a Polícia Civil, que investigou o crime, a cabeça e as mãos das vítimas eram cortadas pelos policiais militares para dificultar a identificação.
Os policiais foram inocentados da acusação de usar um carro da PM e um carro particular para abordar as duas vítimas no bairro do Capão Redondo, na Zona Sul de São Paulo, e matá-las em Itapecerica. Os corpos foram achados sem as mãos e sem as cabeças em um córrego.
De acordo com a denúncia feita pela Promotoria, as vítimas foram mortas porque ?estariam envolvidas em atividades espúrias [tráfico de entorpecentes] e fariam parte de uma facção criminosa?.
Os policiais negaram durante os seus interrogatórios no julgamento do caso pertencerem ao grupo ou praticarem os assassinatos. Eles choraram ao dar suas versões. Os réus, que pertenciam à Força Tática do 37º Batalhão da PM, na Zona Sul da capital paulista, falaram por cerca de meia hora, cada um. Foram ouvidos pelo juiz Antonio Augusto Galvão Hristov, pelo promotor Vitor Petri e por seu advogado de defesa, Celso Machado Vendramini.
"Sou inocente das acusações. Sou um policial honesto e correto", afirmou Takiguti. Silva causou constragimento a seu advogado quando alegou inocência e disse estar devendo dinheiro ao defensor. "Ganho R$ 300 por mês e pedi pelo amor de Deus para ele [Vendramini] me ajudar", disse o outro réu. O advogado chegou a fazer um gesto com a mão desaprovando o comentário de seu cliente.
Os policiais disseram ainda que os outros três PMs que estão presos também acusados do crime são os culpados, que, inclusive, assumiram o crime, e que eles dois estão "pagando" pelo que não cometeram.
Apesar de a defesa dos réus sustentar que eles são inocentes das acusações, os dois estão presos preventivamente desde 2009 no presídio da PM, o Romão Gomes, em São Paulo. Ambos compareceram ao julgamento.
Testemunhas de acusação
?Meu irmão falava que era constantemente ameaçado de morte pelos policiais militares?, disse Missele Campos Gomes, irmã de Maranhão, que teve o corpo encontrado sem a cabeça após desaparecer de casa em São Paulo. Ele tinha passagens pela polícia por porte ilegal de arma. Misseli falou na presença de Silva e de réus e acusou Silva de confessar a ela que matou seu irmão durante um protesto promovido pela família da vítima para denunciar seu sumiço após abordagem policial.
Missele emocionou o júri, composto por quatro homens e três mulheres, ao chorar no seu depoimento como uma das testemunhas de acusação contra os réus. ?Ele [Silva] me pegou pelo braço uma vez, dois dias após meu irmão sumir. Me ameaçou. Falou para mim que se eu não parasse com o protesto que daria um jeito em mim como deu em meu irmão?, disse Misseli.
A primeira testemunha a ser ouvida foi Angélica Ferreira da Silva, que confirmou ter visto as vítimas serem levadas pelos policiais militares. Ela também reconheceu Takiguti como um desses PMs. ?Sei que foi ele por causa da cicatriz que ele tem no pescoço.?
O delegado Pedro Buk, que indicou os policiais militares pelo assassinato de Maranhão e Bebê, também foi ouvido e afirmou que provas testemunhas no inquérito demonstraram que Silva e Takiguti cometeram os crimes.
Testemunhas de defesa
A mulher de Takiguti e a noiva de Jonas também foram ouvidas, mas na condição de testemunhas de defesa. Elas alegaram que os réus não estavam trabalhando no dia dos assassinatos.