Dois amigos que jogavam 'Pokémon Go' no celular foram detidos por dois policiais civis na madrugada de terça-feira (9), em Cuiabá. Um vídeo gravado por um dos policiais e postado na rede social do agente mostra a cena, ocorrida em frente a uma delegacia da Polícia Civil, no Bairro Jardim das Américas. A família de um dos jovens de 19 anos registrou um boletim de ocorrência nesta quarta-feira (10), denunciando o suposto abuso de autoridade dos policiais que atuaram na ação. A Polícia Civil informou que o caso será investigado.
Nas imagens, os jovens aparecem deitados no chão enquanto são revistados pelos policiais. Um deles pergunta se os jovens “querem morrer” perambulando pelas ruas naquele horário. "Dois veadinhos catando pokémon de madrugada", diz um dos policiais durante a ação.
De acordo com Polícia Civil, a Corregedoria recebeu uma cópia do vídeo e deve instaurar um inquérito para apurar o caso. A polícia informou ainda que a abordagem foi feita em frente à Gerência de Combate ao Crime Organizado da capital.
A socióloga Imar Domingues Queiroz, mãe de um dos jovens que aparece no vídeo, afirmou que a atitude mostrou o despreparo dos policiais. “Eles [jovens] não estavam cometendo nenhum crime e os policiais agiram com abuso de poder e de autoridade. A abordagem dos policiais agrediu o direito de ir e vir do cidadão”, argumentou.
Segundo Imar, o filho dela é estudante do ensino médio e estava em casa com o amigo. Os dois saíram do prédio para ‘caçar’ pokémons por volta de 1h [horário de Mato Grosso]. A socióloga, que é professora do departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), disse que só ficou sabendo do fato no dia seguinte.
“Ele só me contou porque o vídeo começou a circular e os amigos estavam perguntando se era ele mesmo e o que tinha acontecido”, disse Imar. Ainda segundo ela, o filho contou que ele e o amigo chegaram a ser agredidos e que os policiais dispararam tiros durante a abordagem. “Ele e o amigo se sentiram amedrontados e humilhados. É possível até ver isso na feição deles”, completou.
Imar trabalha com grupos voltados aos direitos humanos. Ela criticou a forma com que os jovens foram abordados. “Ainda que eles fossem criminosos teriam que ser punidos em determinadas condições, porque não vivemos mais em um estado de barbárie”, argumentou.
A professora avalia ainda que o comportamento dos policiais foi homofóbico. “Meu filho não é gay, mas, ainda que fosse, teria o direito de ser respeitado e ter seus direitos garantidos”, afirmou.
À família, os jovens relataram que não conseguiram ver os rostos dos policiais porque estavam deitados no chão.