Policiais são presos por mentir sobre morte de jovem travesti

Foram presos em flagrante após mentir sobre um tiro

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A Polícia Civil de São Paulo prendeu dois policiais militares sob a suspeita de participação na morte da travesti Laura de Vermont, 18 anos, registrado como David Laurentino de Araújo. Os militares Ailton de Jesus, 43 anos, e Diego Clemente Mendes, 22, foram presos em flagrante após mentir sobre um tiro disparado contra Laura.

A jovem saiu de casa onde vivia com pai, mãe e irmã, para participar de uma festa com amigos na avenida Nordestina. Por volta das 4h de sábado, Laura foi vista caminhando desesperada toda ensanguentada e desorientada. Avisada sobre a situação da jovem por uma ligação para 190, a Polícia Militar mandou um carro para socorrê-la.

Os policiais disseram que quando chegaram, Laura estava extremamente agitada e, sem que os dois militares percebessem, a jovem travesti assumiu o volante do carro da PM e partiu em alta velocidade, vindo a perder o controle e bater contra o muro. Contudo, o pai da travesti afirma que versão de que a jovem tomou a direção do carro é estranha porque ela não sabia dirigir. Os PMs disseram ter socorrido Laura para o pronto-socorro, mas a família da jovem os desmente.

Após chegar ao pronto-socorro, Laura morreu e os PMs foram relatar à Polícia Civil a versão deles para a morte da jovem.  Cerca de duas horas após o registro do primeiro boletim de ocorrência sobre a morte de Laura, os PMs retornaram e, dessa vez, traziam junto um rapaz de 19 anos, apresentado pelos militares como “testemunha” do caso.

Alguns detalhes sobre a “testemunha” apresentada pelos PMs chamou a atenção da delegada e dos investigadores: o jovem fez questão de enfatizar que não havia ouvido nenhum disparo de arma de fogo quando os policiais tentavam impedir Laura de assumir o controle do carro da PM. O rapaz também ficou cerca de meia hora conversando com os dois PMs, sem que a delegada fosse informada se tratar de uma testemunha presencial.

Desconfiados da riqueza de detalhes da versão narrada pela “testemunha” apresentada pelos dois PMs, os policiais civis do 63º DP resolveram ir aos locais por onde Laura passou e encontraram manchas de sangue em locais não citados pelos policiais militares.

Imagens de câmeras de segurança também foram apreendidas e, após analisá-las, os investigadores e a delegada descobriram que os PMs e a “testemunha” apresentada por eles haviam mentido ao dizer que nenhum tiro foi disparado pelos militares contra Laura. Antes de ser baleada, Laura foi chutada por um dos PMs, logo após descer do carro da polícia já batido.

Ao analisar o corpo de Laura no IML (Instituto Médico Legal), os policiais civis descobriram que a jovem tinha lesões no rosto, tronco e nas pernas. A marca do disparo dos PMs estava em seu braço esquerdo. Quando voltaram para o 63º DP, os policiais civis pressionaram os PMs e sua “testemunha” e todos resolveram contar a verdade. O PM Ailton assumiu ter atirado contra Laura.

Ao ser questionado sobre a mentira nos dois boletins de ocorrência registrados antes pela morte de Laura, o PM Ailton disse à Polícia Civil “ter receio de se prejudicar e sofrer represálias da lei”. O PM Mendes disse que “foi instruído a não relatar a verdade dos fatos, mas se manter em silêncio e apenas aquiescer com o que ele fosse narrar".

O jovem de 19 anos, a “testemunha” dos PMs, confirmou ter sido orientado pelo PM Ailton a mentir. O PM chegou a entregar um pedaço de papel a ele para que a versão fantasiosa sobre a morte de Laura fosse narrada à Polícia Civil. “Ele pediu para que eu treinasse a fala para que toda a história fosse coerente”.

Os PMs Ailton e Mendes foram presos em flagrante por falso testemunho e fraude processual. Ambos também serão investigados por homicídio contra Laura, de acordo com a Polícia Civil. A conduta dos PMs também está sob investigação da Corregedoria da corporação.

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