Dezesseis dias depois da morte de Tamires de Paiva Miranda, de 15 anos, vítima de uma vingança depois de uma briga na escola, as testemunhas do assassinato da estudante continuam escondidas. Com as investigações ainda em curso, eles temem serem os próximos alvos dos responsáveis, que ainda estão soltos.
?Achei melhor me afastar até que a justiça seja feita. Acho que nem vivo mais, minha vida está parada. É difícil ficar longe dos amigos, da família, do meu filho. Estou sofrendo muito. Acordo, leio a bíblia, tá difícil viver?, contou o namorado de Tamires, que seria o alvo dos tiros que a matou.
Segundo a polícia, os quatro suspeitos de terem participado da ação já foram identificados e já há provas de sua passagem pelo local. ?Pedimos à Justiça algumas medidas cautelares e estamos esperando o resultado disso para seguir para a segunda fase das investigações?, contou o delegado Ronald Hurst, da 35ª (Campo Grande).
Carros suspeitos
Segundo o namorado de Tamires, que saiu de casa com a família, vizinhos já viram, depois do crime, carros suspeitos sem placa e com película passando pelo local. Barbeiro, de 24 anos, ele parou de trabalhar e tem vivido com ajuda de amigos e parentes. Apesar do medo, no entanto, ele não pediu oficialmente apoio ao Programa de Proteção a Testemunhas da polícia.
?Tenho medo de que eles possam ir procurar pela gente. Meu irmão é a testemunha-chave. Saí do meu trabalho, ando na rua assustada. A gente acha que ele está longe, mas o inimigo pode estar próximo?, desabafou a cunhada de Tamires, que ainda tentou ajudá-la mas não conseguiu. ?Eles estavam fortemente armados e ela me mandou correr?, lembra ela.
"Me arrependo", diz namorado
Quando repassa as cenas que viveu, o namorado de Tamires conta que, ao ver os homens armados, os dois correram e a estudante, ao ser alvejada, o mandou ir embora. ?Ela achou que eles não iam matá-la?, diz ele, que admite que, se pudesse voltar atrás, não teria acirrado ainda mais os ânimos da discussão da adolescente com a colega de turma.
?Me arrependo. Se soubesse que ia dar nisso, nem na escola dela teria ido?, conta ele que, na ocasião, foi pedir satisfação da briga com o namorado da colega de turma de Tamires, os dois brigaram e ele o teria feito pedir desculpas à adolescente. O assassinato de Tamires teria sido uma retaliação.
Estudante ficaria noiva neste sábado
Neste sábado (25), Tamires completaria 16 anos e os dois pretendiam anunciar o noivado durante o aniversário. ?Isso nunca vai sair da minha cabeça. Perdi uma namorada que eu nunca vou encontrar igual. Queria casar com ela, ter nossa casa, nossa vida?, diz ele.
De acordo com a madrinha da vítima, que também não quis se identificar, não é só a família do namorado que está com medo. ?A mãe dela colocou a casa à venda?, conta ela, que aponta a responsabilidade da escola no caso: ?É inadmissível, numa sala de aula, uma aluna falar ao celular e ouvir música durante a prova. A diretoria deveria ter tomado uma providência com as duas?.
Professores tentam evitar conflitos, diz Secretaria
A Secretaria municipal de Educação (SME) informou, por meio de sua assessoria, que os diretores e professores das escolas tomam as medidas necessárias para evitar conflitos entre os alunos, orientando os pais sobre cada caso.
Segundo a Secretaria, nas situações mais graves, a direção das unidades aciona o Conselho Tutelar que avalia a situação e toma as devidas providências.
A SME esclareceu ainda que o incidente ocorreu fora do período escolar.
Como foi
Tamires morreu no último dia 8, com tiros de fuzil na porta da casa do namorado, em Campo Grande, na Zona Oeste. O crime teria sido motivado por uma briga em sala de aula, com Ana Paula Alves Souza, de 21 anos, que estaria atrapalhando a aula ao falar no telefone celular e ouvir música.
Depois da aula, a discussão teria continuado fora da escola e a adolescente teria sido agredida por Thiago Sacramento Santana, 24, namorado de Ana Paula. A confusão teria continuado com a chegada do namorado de Tamires, que teria revidado as agressões.