A mão que orientava e ensinava, era a mesma que violentava durante as aulas na Escola Adventista de Paripe, em Salvador, Bahia. Um professor que trabalha na unidade é acusado de abusar sexualmente de uma ex-aluna entre os anos 2016 e 2018, período em que ela cursava o 6º e o 7º ano. A garota, que tinha apenas 10 anos quando tudo começou, relatou que teve as partes íntimas tocadas pelo acusado nos corredores da escola e na própria sala de aula. De acordo com a Polícia Civil, "o suspeito foi indiciado por estupro de vulnerável”.
A escola, instituição tradicional em Salvador, faz parte da Rede de Educação Adventista, que adota um ensino baseado em princípios bíblicos. Procurada pela reportagem, a Rede de Educação Adventista, que atua há mais de 120 anos no Brasil com Educação Infantil ao Ensino Superior, informou que ao tomar conhecimento dos fatos, afastou e demitiu o professor.
"A escola afastou o professor suspeito e, posteriormente, realizou a demissão. E está colaborando com as autoridades policiais, inclusive prestando esclarecimentos. O professor foi ouvido pelo conselho escolar e alegou inocência. A escola continuou apurando responsabilidades. O afastamento aconteceu por ocasião de uma comunicação detalhada da parte da mãe (de uma das alunas)", disse comunicado enviado pela unidade de ensino.
A Rede de Educação Adventista disse ainda que o comportamento vai de encontro aos princípios ensinados pela escola e "exatamente por isso a escola está colaborando com as autoridades policiais prestando esclarecimentos e colaborando com as apurações".
A unidade informou ainda que vai reestruturar a central de relacionamento já existente, para melhorar o diálogo com pais e alunos, inclusive com aqueles que já fizeram parte da instituição. "A ideia é ampliar possibilidades de escuta e de assistência aos pais em situações semelhantes. Além disso, como parte do Plano de Ensino, já ocorre o trabalho com temas que combatem toda e qualquer forma de abuso Isso envolve o cuidado na adoção do material didático, que reforça a conscientização aos alunos, como, também, a realização de oficinas, palestra, escolas de pais, e formações docentes que abordem esses temas importantes para a formação integral do indivíduo".
Por fim, a Adventista informou que "a escola vê com grande preocupação, e se coloca à disposição e incentiva os pais a apresentarem denúncias para ajudar na apuração e no enfrentamento ao problema".
O nome do professor não será revelado nesta reportagem, por se tratar de um indiciado, sem ter ocorrido condenação ainda.
Investigação
A investigação do caso é de responsabilidade da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra à Criança e o Adolescente (Dercca). Segundo a Polícia Civil, a unidade concluiu o inquérito e remeteu ao Ministério Público Estadual (MP-BA), no dia 11 de maio.
Após ser acionado, o MP informou que requisitou no último dia 16 de fevereiro a instauração de um inquérito policial à Dercca. O documento foi encaminhado ao MP e será distribuído a um promotor de Justiça criminal para que seja feita uma avaliação das conclusões e apurações policiais.
“O MP também apura, na esfera não criminal, a violação de direito à educação, em razão de suposto abuso sexual físico e psíquico, por meio de procedimento instaurado no último dia 14 abril, prorrogado no dia 13 de maio. O MP solicitou mais informações à denunciante e à unidade escolar”, diz nota do órgão.
Flagra
Uma testemunha afirma que ouviu relatos de abuso sexual de pelos menos quatro meninas, que dizem ter sido vítimas do mesmo professor.
Sobre uma delas, a pessoa entrevistada diz que flagrou parte do ato. “Quando cheguei na sala vi a menina totalmente constrangida e ele passando a mãos sobre os ombros dela”, contou a testemunha, que acrescentou ainda que o comportamento do acusado no dia a dia era questionado pelos alunos.“Ele falava várias frases com conotações sexuais para as meninas, muitas sequer entendiam. Lembro de uma certa vez que ele disse: ‘Vocês chegaram aqui com uns limões e hoje estão com uns melões’. Ele fala dos seios das meninas e ninguém intendia o porquê o professor falava essas coisas”, lembrou.
Ainda segundo a testemunha, algumas meninas vítimas do acusado confidenciaram lhe confidenciaram as violências. “Mas nenhuma outra teve a coragem de falar para a mãe como fez essa que denunciou ele. Muitas até hoje sofrem caladas ou compartilham entre si o aconteceu, mas não falam para os pais, por vergonha”, disse. As informações são do Correio 24 Horas.