O Ministério Público de Guarulhos, na Grande São Paulo, decidiu indicar 16 testemunhas de acusação para serem ouvidas num eventual júri do caso Mércia Nakashima. A escolha dos nomes ocorreu no início da tarde desta sexta-feira (29) após uma reunião entre o promotor Rodrigo Merli Antunes e o advogado Alexandre de Sá Domingues, que defende os interesses da família da advogada assassinada e pleiteia a função de assistente de acusação.
O ex-namorado de Mércia, o advogado e policial militar aposentado Mizael Bispo de Souza, e o vigia Evandro Bezerra Silva são apontados pela Polícia Civil como os suspeitos do crime. Ambos já foram indiciados pelo assassinato. O vigilante é o único que está preso temporariamente numa cadeia em Guarulhos.
De acordo com o promotor Merli Antunes, oito testemunhas são consideradas principais num possível julgamento. Confira:
Pescador - viu o carro de Mércia afundar na represa em Nazaré Paulista, no interior do estado de São Paulo, em 23 de maio, mesma data em que ela desapareceu da casa dos avós em Guarulhos. Ele ainda afirmou à polícia ter visto um homem alto deixar o veículo e ter escutado gritos de mulher. O nome desta testemunha está protegido.
Márcio Nakashima ? irmão de Mércia. Tomou a frente nas buscas pela advogada. Era contra o namoro da vítima com Mizael por achá-lo violento.
Claudia Nakashima ? irmã da vítima. Chegou a declarar que a irmã era agredida pelo ex-namorado, já que aparecia frequentemente com hematomas pelo corpo e chorando após discutir com Mizael.
Funcionário de posto ? trabalhava com Evandro no posto de combustíveis em Guarulhos. Afirmou à polícia que o vigia e Mizael se encontraram constantemente nos últimos dias antes do crime. Contou ainda que o vigilante sumiu do trabalho após bombeiros encontrarem o carro e o corpo de Mércia na represa, respectivamente, em 10 e 11 de junho. Seu nome não foi divulgado.
Mulher indicada pela família da vítima ? ela afirma ter visto Mizael arrancar cartazes colados pelos parentes da advogada. Neles, havia informações sobre o desaparecimento da advogada. Seu nome não foi divulgado.
Um ex colega de faculdade de Mizael ? irá contar como era o comportamento do ex-namorado de Mércia no curso de direito em Guarulhos.
Uma ex-colega de Mizael na faculdade ? vai relatar a personalidade do suspeito de matar a advogada durante o tempo em que estudaram juntos. Seu nome não foi divulgado.
Policial civil ? responsável pelas análises feitas a partir de dados das Estações Rádio Base (ERBs) dos telefonemas entre os suspeitos e o rastreamento do GPS do carro de Mizael. Com essas informações, a investigação afirmou que o ex e o vigia estavam próximos ao local do crime. Seu nome não foi divulgado.
De acordo com Merli Antunes, mais oito testemunhas deverão ser arroladas para, se houver uma necessidade, também serem chamadas para falar diante de um juiz ou até mesmo dos jurados. Entre elas estão o delegado Antônio de Olim e investigadores do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que indiciaram Mizael e Evandro.
Durante os depoimentos, Evandro chegou a acusar Mizael de ter matado Mércia por ciúmes e falou que ele ajudou o assassino na fuga. Depois, negou esta versão e afirmou que a havia dado sob tortura. O advogado sempre negou o crime. Agora, o vigilante também alega inocência.
Denúncia e pedido de prisão
Mesmo assim, o ex e o vigia serão denunciados pelo promotor na próxima segunda-feira (2). Segundo Merli Antunes, Mizael será acusado por homicídio triplamente qualificado (meios torpe e cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Evandro irá responder por homicídio duplamente qualificado (meio cruel e recurso que impossibilitou a vítima de se defender). A Promotoria ainda irá pedir a prisão preventiva dos dois suspeitos.
?Mizael não aceitava o fim do namoro e queria reatar, por isso matou Mércia. Evandro ajudou no crime porque sabia o que iria ser feito, sabia que Mizael iria matar a ex?, disse o promotor por telefone, nesta sexta.
Segundo o Instituto Médico Legal (IML), Mércia foi baleada antes de morrer afogada dentro do seu próprio carro numa represa em Nazaré Paulista.
Além dos depoimentos, a Promotoria informa que os rastreamentos a partir das quebras dos sigilos telefônicos e antenas de telefonia são determinantes para culpar Mizael e Evandro pelo assassinato de Mércia.
Assim que receber a denúncia, o juiz Leandro Bittencourt Cano terá cinco dias para se manifestar. Ele pode trancar a ação ou dar seguimento ao processo. Se o último caso ocorrer, o ex e o vigia podem se tornar réus.
A defesa também terá o direito, num eventual júri, de arrolar suas testemunhas.