Um ano após ter sido presa preventivamente por matar e esquartejar em 20 partes o corpo de um cliente, espalhando os pedaços dele em São Paulo com a ajuda de duas amigas, a prostituta Marlene Gomes, de 57 anos, rompeu o silêncio.
Em entrevista, ela alegou que cometeu os crimes em março de 2014 para se defender das agressões, torturas sexuais e ameaças de morte que vinha sofrendo durante quatro anos de programas e relacionamento com o motorista Alvaro Pedroso, de 55 anos.
Os dois também eram amantes (veja o vídeo acima).O caso ganhou notoriedade ano passado depois que sacos e carrinhos com partes do corpo da vítima foram encontrados em ruas do entorno do Cemitério da Consolação, em Higienópolis, e na Praça da Sé, na região Central de São Paulo.
"Foi uma fatalidade que aconteceu, uma coisa que não foi premeditada. Nem em um minuto na vida eu pensei em matar, nem nada”, disse Marlene ao ser questionada sobre o que gostaria de dizer aos parentes do motorista.
No encontro que teve com a equipe de reportagem na Penitenciária Feminina de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, Marlene, que é conhecida por "Mole", contou que jamais planejou assassinar Alvaro. Mas que, segundo ela, entre a noite do dia 22 e a madrugada do dia 23 de março do ano passado, após se embriagarem, o motorista a agrediu mais uma vez após uma transa num prostíbulo na Rua dos Andradas, Centro da capital.
"Ele me deu uma porrada, eu caí, machuquei o braço bastante. Foi aonde eu empurrei ele com tudo", disse Marlene, que só aceitou falar desde que seu rosto não fosse mostrado na conversa. A prostituta afirmou que queria se defender de Alvaro, mas ele caiu, bateu o rosto no vaso sanitário do banheiro e perdeu a consciência. "Não foi nada premeditado".Em seguida, Marlene disse que no mesmo instante lembrou de todas as humilhações e torturas que, segundo ela, ele a fez passar desde 2010, sendo obrigada a fazer sexo sadomasoquista, com vibradores, parafilia e surras.“(Além de) vibradores, ele levava faca, ele levava gelo, ele levava uva, ele levava bombom, ele deitava eu no chão, ele me pisava nos meus braços”, disse a prostituta.
“Ah, eu acho que ele era doente, ele era um maníaco, porque ele fazia um sexo que não existia na vida. Ele pegava gelo dentro do hotel pra botar dentro do meu sexo.” Ela falou que ganhava R$ 70 pelos programas, mas que se recusasse a fazê-los ou denunciasse as agressões à polícia, o motorista tinha dito que mataria ela, a sua filha e o genro.
“Ele falou que ele era meu marido, que a gente nunca ia se separar, que ele tinha conseguido encontrar a mulher da vida dele, já que a esposa dele não fazia sexo com ele, que ela não servia para nada”, disse Marlene.“Ele tinha um revólver. Ele tinha comprado um revólver. Ele falou que se um dia eu deixasse dele, era para me matar”, afirmou a prostituta.
"Porque eu acho que aquela hora que você viu que tinha chance de se livrar de uma pessoa que te torturou, que te maltratou, que te fez de um lixo, de um cachorro, quatro anos... É a chance que você, que ele tava caído pra você fazer isso.”
Segundo Marlene, essa chance a levou a cozinha, onde pegou um martelo e passou a golpear a cabeça do motorista, que estava caído. A prostituta estava movida por vingança disposta a por fim ao sofrimento dela. “[Alvaro] tava gemendo... Eu na mesma [SIC] instante, eu fui, peguei um martelo mesmo, entendeu? Naquele momento de reflexão, peguei um martelo e dei mais uma pancada na cabeça dele.”De acordo com ela, a faca que Alvaro levava na cintura seviu para esquartejá-lo. “Uma faca dele. Eu ia só... Só picando, mas picando mesmo, picando. Quanto ao pênis dele, que perguntaram aonde é que eu botei? No lixo, a mesma coisa. Do mesmo jeito que joguei os dedos, entendeu? Que eu joguei a cabeça. Foi tudo no lixo”, afirmou a acusada.
Segundo o laudo necroscópico do Instituto Médico Legal (IML) da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC), Alvaro morreu em decorrência de traumatismo craniano causado pelas pancadas que recebeu na cabeça. Um martelo com sangue foi apreendido.
O documento mostra que o esquartejamento ocorreu após a morte do motorista. Para a perícia foi usada uma serra, mas Marlene contestou. "Foi uma faca mesmo."Ela disse que levou seis horas para cortar o cadáver. “Aí eu fui cortando os dedos dele, aí eu peguei com tanta raiva do que ele fazia com a boca, que ele falava tudo pra mim, entendeu? Peguei, segurei no peito dele e comecei a cortar pescoço, cortar mesmo”, lembrou Marlene. “Mas eu cortava com tanta raiva, como se eu tivesse matando ele vivo, é como que ele tivesse me torturando como ele me torturava.
”Peritos concluíram que o corpo do motorista foi segmentado da seguinte maneira: cabeça, tronco, pele, pênis, duas coxas, duas pernas, dois braços e dez dedos das mãos. “No primeiro minuto que eu matei, eu já me arrependi”, disse Marlene. Se dizendo desesperada pelo que fez, a prostituta falou que decidiu pedir para Marcia Maria de Oliveira, a "Sheila", 33 anos, e Francisca Aurilene Correia da Silva, a "Thais", 35, a ajudarem a se livrar do corpo para que o prédio onde trabalhavam não tivesse problemas com a polícia. As três se conheciam há muitos anos porque trabalhavam no mesmo prédio.
"Pedi pras meninas, pra duas amigas, né? Me ajudar só botar dentro do saco", disse Marlene. "Não queria saber onde ia jogar."Marcia também aceitou falar sem mostrar o rosto. Francisca não quis conversar com a reportagem
O trio está detido na mesma prisão. "Não sou garota de programa. A Marlene e a Francisca são. Eu trabalhava vendendo as marmitex e as sobremesa do prédio”, disse Marcia, que também não quis mostrar o rosto na entrevista.Marlene contou que escondeu a cabeça de Alvaro dentro de um saco que deixou perto de onde trabalhava. Outro saco com os restos mortais ela afirmou ter carregado de táxi para o Cemitério da Consolação, em Higienópolis, área nobre da região central da cidade. Marcia e Francisca foram com a amiga no mesmo veículo, levando os demais sacos em carrinhos de feira. "No caso, eu só ajudei a carregar os carrinhos, né? Nada mais", disse Marcia, que sabia que os restos mortais de Alvaro estavam nos sacos. E ajudei a carregar porque eu não ia deixar ela sozinha.”